sábado, julho 30, 2011
Revisitando o Quarteto de Alexandria (Justine)
QUEM é quem, ao longo de todo o Quarteto:
Alexandria, a cidade mágica, sempre presente
O Narrador, professor e candidato a escritor cujo nome não é revelado
Justine, a esposa de Nessim
Nessim, o rico negociante copta
Melissa, a dançarina de cabaré
Balthazar, o médico e cabalista
David Mountolive, o embaixador britânico
Cohen, o peleiro, antigo amante de Melissa
Clea, a pintora
Pombal, o diplomata
Pursewarden, o diplomata e escritor
Scobie, o decadente oficial da Ordem do Império Britânico
Mnemjian, o barbeiro anão e corcunda, natural de Babilónia
Jacob Arnauti, primeiro marido de Justine
Capodístria, o homem da pala negra
Selim, o criado de Nessim
Hamid, o criado berbere do Narrador
Recolha de citações:
As nossas acções quotidianas nada mais são que os ouropéis que velam o vestido de ouro – a essência da forma. É na sua arte que o artista encontra, pela imaginação, um feliz compromisso com tudo quanto o feriu na vida quotidiana, e não para escapar ao seu destino, como faz o homem vulgar, mas para realizá-lo da forma mais adequada e completa que lhe for possível. (reflexão do Narrador)
- Olha! Cinco imagens diferentes da mesma pessoa. Se eu fosse escritor tentaria descrever uma personagem assim, através de uma visão prismática. Porque será que não podemos ver mais do que um perfil de uma só vez? (comentário de Justine, numa visita à modista)
Lastimo-o, diz ela. Tem o coração empedernido e tudo quanto lhe resta são os cinco sentidos, como os fragmentos de um copo quebrado. (Justine classificando Capodístria)
Na sua vida passional ela era directa, como um machado que cai. Recebia os beijos como a tela recebe as pinceladas do pintor. (…) Ela toma o amor como uma planta absorve a água, naturalmente, cegamente. (Jacob Arnauti numa avaliação de Justine, sua ex-mulher)
Encontro-me no centro do corpo da cidade, no seu sistema génito-urinário; é um lugar excelente para perder quaisquer ilusões. (afirmação de Balthazar, referindo-se às suas funções no hospital de Alexandria)
Ah!, minha querida, depois de todas as obras dos filósofos sobre a alma e dos cientistas sobre o corpo, que existe que possamos afirmar conhecer, realmente, sobre o homem? Que afinal de contas ele não é mais do que uma passagem para os líquidos e para os sólidos, um cano de carne. (Balthazar conversando com Justine)
E que posso dizer da própria Cabala? Alexandria é uma cidade de seitas e evangelhos. E, para cada asceta, ela produziu sempre um religioso libertino. (congeminações do Narrador)
Falo-lhe agora como membro da Cabala e não a título pessoal. Amar apaixonadamente, ainda que à própria mulher, é cometer adultério. (advertência de Balthazar a Justine)
Compreendi, então, a verdade do amor: um absoluto que tudo aceita ou tudo despreza. Os outros sentimentos, a compaixão, a ternura, e assim por diante, só existem à periferia, são aquisições da vida social e do hábito. (considerações do Narrador)
É preciso ser-se extraordinariamente ignorante para crer em Deus. Creio que, pela minha parte, soube sempre o bastante para não cair nessa armadilha. (confissão de Pursewarden ao Narrador)
Fui chefe de escuteiros, depois de reformado. Mas tive que sair de Inglaterra, meu velho. A tensão era excessiva para mim. Esperava a cada semana ler no News of the World: «Mais um jovem vítima dos imundos desejos do seu monitor»
(…)
O monitor que me antecedeu apanhou vinte anos de cadeia. (confissão de Scobie ao Narrador. Nos anos 40 e 50 do século passado, ainda o magnata da informação Rupert Murdoch (n.1931) era um "teenager", provávelmente com outras ambições, e já o jornal "News of the World" tinha tradição de não olhar a meios para andar a esgravatar a vida privada dos cidadãos britânicos. Esta menção de Scobie é bem exemplificativa daquela característica.)
É fácil escrever sobre beijos, diz Arnauti, mas onde a paixão devia ser plena de sinais e de chaves, isso só serve para calafetar os nossos pensamentos, sem fornecer nenhum conhecimento novo. (considerações do Narrador, sobre um escrito da autoria de Arnauti)
Às vezes divago e lanço-me contra a parede quando me lembro das loucuras que podem parecer insignificantes aos outros ou aos olhos de Deus – se é que existe algum Deus. Dirijo-me à pessoa que sempre imaginei vivendo num lugar tranquilo e verdejante como o Salmo 23. (divação de Justine)
Ele nunca compreenderá que é justamente com Deus que é necessário ser-se mais prudente; é Ele que cria uma atracção por tudo quanto de mais vil existe na natureza humana – o sentimente da nossa insuficiência, o nosso receio do desconhecido e os nossos insignificantes fracassos pessoais;e, sobretudo, o nosso egoísmo monstruoso que vê n coroa do martírio o prémio de uma acrobacia difícil de executar. (Pursewarden a falar com o Narrador, sobre o livro que quer escrever e as preocupações que o assaltam)
- Como deve parecer repugnante – disse-me um dia Justine – esta confusão obscena de ideias contraditórias que existem dentro de mim; esta doentia procura de Deus e a minha absoluta incapacidade para me submeter aos mais ligeiros imperativos morais da minha natureza, como, por exemplo, ser fiel ao homem que adoro. (o Narrador descrevendo diálogos com Justine)
De entre todas as espécies de fracassos, cada pessoa escolhe aquele que menos compromete o seu orgulho, que menos o decepciona. (Reflexão do Narrador)
Ainda bem que eu não sou um génio, porque um génio não tem ninguém em quem confiar (…) apaixonamo-nos sempre pelo ser, que a pessoa a quem amamos escolheu para amante. (Nessim confessando-se a Melissa)
Tinha mudado tanto naquelas poucas horas que sentia agora o desejo de que Melissa o visse nu, e apreciasse a sua beleza, que durante tanto tempo tinha permanecido inerte, como um belo vestido esquecido num armário. (Nessim com Melissa)
Reconhecia, com uma espécie de estupor, que Justine já tinha morrido para ele; de imagem interior tinha-se tornado num objecto, um medalhão gravado que se poderia trazer, para sempre, suspenso de um cordão em torno do pescoço. (sentimento de Nessim em relação a Justine)
No porto de Alexandria as sereias mugem e gemem. As hélices dos anvios rasgam as águas esverdeadas das docas. Os iates balançam preguiçosamente, mastros apontados para o céu, respirando sem esforço como ao ritmo da sístole e diástole da Terra.
(…)
As mesmas ruas e as mesmas praças ardem na minha imaginação como Pharos arde na História. Quartos onde amei, mesas de café onde a pressão dos meus dedos sobre um pulso me encadeava enfeitiçado, e eu sentia subir das ruas ardentes os ritmos de Alexandria que só se podiam traduzir em beijos famintos e palavras de amor pronunciadas por vozes roucas e maravilhadas. (contemplações e sensações do Narrador)
Tinham-lhe amarrado o queixo e fechado a boca, o que lhe dava um ar de ter adormecido durante um tratamento de beleza. Felizmente, ela tinha os ohos fechados; não teria suportado o seu olhar. (o Narrador perante o cadáver de Melissa)
Os amantes nunca se combinam bem, não acha? Um deles lança sempre a sua sombra sobre o outro e impede-o de crescer, de modo que aquele que se sente sufocado procura desesperadamente um meio de se evadir, para poder crescer sem entraves. Não é este o drama essencial do amor? (considerações de Clea sobre o amor)
(…)
De Alexandria que te abandona,
Não te deixes iludir e não digas
Que foi sonho ou um logro dos teus sentidos.
(…)
Abre a janela e olha para a rua
E bebe a taça inteira da amargura
E a derradeira embriaguez da multidão mística
E despede-te de Alexandria que te abandona.
NOTA – Ilustração de Fernando Torres
quinta-feira, julho 28, 2011
Os Beneficiários da Crise
«A fortuna dos 25 mais ricos de Portugal aumentou 17,8 por cento, somando 17,4 mil milhões de euros [isto é, 10,1% do PIB nacional], revela a lista anual da revista EXAME, liderada por Américo Amorim. Após três anos consecutivos de queda [isto é, de crise e recessão], os bilionários conseguiram aumentar os seus activos.»
Esclarecida a dúvida se é a revista EXAME, propriamente dita, ou a lista por ela publicada que é liderada por Américo Amorim (a língua portuguesa é cada vez tratada com menos rigor), apenas falta concluir que o aumento da fortuna dos "nossos" bilionários não tem nada a ver com a máquina de fazer excêntricos dos Jogos da Santa Casa. São sim grandes accionistas, de grandes grandes empresas da energia, petróleos, comunicações, construção, banca, distribuição, etc, que ao contrário do cidadão contribuinte e pagador de crises, têm habitualmente os seus ganhos e pecúlios protegidos da fúria fiscal dos governos, dos fazedores de impostos extraordinários e da eficácia dos cobradores de impostos.
Além de as crises continuarem a ser óptimas “desculpas” para fazer bons “negócios”, volta a deixar-se a pergunta no ar: - Quantos mais pobres são precisos para fazer um rico, cada vez mais rico?
quarta-feira, julho 27, 2011
Registo para Memória Futura (48)
domingo, julho 24, 2011
Últimas Notícias
Os alemães e os franceses (e os chineses também) são esperados a qualquer momento em Portugal. Supõe-se que vêm aos saldos das privatizações…
sábado, julho 23, 2011
Registos para Memória Futura (47)
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que, este ano, o Governo viole o limite de endividamento, obrigando a que o Orçamento do Estado (OE) de 2011 seja objecto de um rectificativo. O tecto legal é de 20,7 mil milhões, porém o Fundo fala em mais 21,1 mil milhões. A razão desta rectificação tem a ver com a ajuda dos contribuintes aos bancos portugueses.
Meu comentário: É fácil de concluir que não é própriamente o país que está a ser ajudado, mas sim a banca e os seus accionistas.
Informação colhida no DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 22 de Julho de 2011
Se o Governo incluísse os dividendos distribuídos pelas empresas aos seus accionistas, no perímetro do novo imposto extraordinário, obteria uma receita de 256 milhões de euros, mais do que os pensionistas e os trabalhadores independentes terão de pagar.
Meu comentário: Com esta medida é fácil de perceber que os contributos e sacrifícios pedidos, não são equitativos.
sexta-feira, julho 22, 2011
Ideias de Trampa
No entanto, e pelos motivos óbvios, embora a ideia seja louvável, desejável e acarinhável, vem ferida de algum desajuste e incoerência, relativamente à realidade. Se a iniciativa tem por objectivo principal gerar progressos no capítulo sanitário e da higienização, tudo bem, mas não se venha dizer que isso vai satisfazer as necessidades dos mais pobres e necessitados que proliferam por esse mundo fora, pois esses têm uma escala de prioridades bem diferente das nossas, bem aventurados que nunca experimentámos uma vida de contínua luta pela subsistência, e a diária convivência com as carências mais básicas. Além de não possuírem um tecto e trabalho decente, arranjar alimento é a preocupação dominante dos pobres e desfavorecidos, bem à frente das preocupações com o tratamento que pode ser dado às suas fezes, que afinal, e bem feitas as contas, são directamente proporcionais à escassez de alimentos ingeridos. Digam o que disserem, dêem as voltas que lhe derem, a sanita tecnológica nunca será um contributo determinante para a elevação do nível de vida dessas pessoas. Não é com o destino a dar aos resíduos fecais, que se conseguem resolver os apetites da boca e as privações do estômago. Porém, e para tirarmos dúvidas, basta fazer um inquérito junto dos interessados, com uma única pergunta: - O que mais deseja, um trabalho bem remunerado e refeições decentes, ou uma sanita tecnológica onde possa carregar o telemóvel?
quarta-feira, julho 20, 2011
Revisitando o Quarteto de Alexandria
Groucho Marx (1890-1977) - Actor
HABITUALMENTE, para marcar os livros que vou lendo ou relendo, uso os espécimes mais heterogéneos que tenho à mão. Dentro do primeiro volume da obra de que vos vou falar, fui encontrar um bilhete da “carris” dos anos 60, enfim, um resquício do passado. Como curiosidade, junto imagem do mesmo. Entretanto, quase 50 anos volvidos, e depois de algumas fortuitas investidas pelo meio, estou de volta a reler o fascinante Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell (1912-1990), uma tetralogia composta pelos volumes Justine (1957), Balthazar (1958), Mountolive (1959) e Clea (1960), traduzida por Daniel Gonçalves e publicada pela Editora Ulisseia em 1960.
Se quisesse usar expressões-chave para classificar a obra, diria simplesmente que é notável e fascinante, sob todos os aspectos. Desde a força telúrica que emana da cidade fundada pelo macedónio Alexandre, até aos retratos das personagens que a habitam, que por ela se apaixonam e por ela se deixam devorar, é uma espiral de descobertas, onde tanto se mergulha até águas profundas, como de repente se vem cá acima respirar em grandes haustos. É um teorema sobre a condição e as relações humanas, as íntimas e as outras, de uma riqueza e espessura que nos deixa atónitos, senão mesmo atordoados. É um friso de quatro figuras básicas, que embora sendo centrais, são mais observadores que protagonistas, servindo mais de escalpelo para, entre avanços e recuos na linha do tempo, esgravatarem tudo o que o ser humano tem de bom, mau ou péssimo, expondo-nos a sua anatomia até às vísceras, e cartografando tudo o que determina personalidades e comportamentos. É também a olhadela sobre um tempo de mudança, a época que precede e depois mergulha na Segunda Guerra Mundial, conflito que apenas tocou ao de leve a textura humana daquela cidade-invólucro ou cidade-labirinto, meio mercado, meio bordel, onde se confundem europeus, judeus, árabes, gregos e coptas, uma espécie de Babel, produto de muitas paixões, ódios, encontros e desencontros, diásporas e outras tantas deserções, operando a transição entre o mundo mediterrânico e o deserto, caldeando raças e culturas.
Dizem os estudiosos da obra de Durrell que o Quarteto foi uma obra inspirada na teoria da relatividade, isto é, os acontecimentos, embora dizendo respeito a uma mesma realidade, são interpretados segundo pontos de vista de diferentes, numa espécie de jogo de espelhos, onde se conjugam mistérios com revelações, o antes com o depois, o sagrado com o profano, o falso com o verdadeiro, em que Justine, Balthazar, Mountolive e Clea, cada um à vez, cumprem o papel de observadores múltiplos da mesma história, ao mesmo tempo que são protagonistas de histórias dentro de histórias, qual conjunto de matrioskas, umas vezes como sujeitos ocasionais, apanhados de raspão, outras vezes como autênticos descodificadores da realidade. Em Justine, primeiro volume, são relatados os acontecimentos do ponto de vista do sujeito, ou seja, do narrador da história. Os mesmos acontecimentos voltam a ser descritos em Balthazar e Mountoliove, embora na segunda história, a realidade seja remontada e revista, sob outra perspectiva e entendimento, ao passo que a verdade volta a ser reposta na terceira narrativa. Finalmente, Clea encarrega-se de elaborar a síntese, fechar a abóbada da obra, acertando as contas da realidade com o tempo.
segunda-feira, julho 18, 2011
Balcão de Reclamações
domingo, julho 17, 2011
Aprender com os Filmes (2)
sábado, julho 16, 2011
A Recusa das Imagens Evidentes
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
Natália Correia - (1923-1993)
sexta-feira, julho 15, 2011
“Chicago Boys” em Versão "Brandos Costumes"
Há uma grande diferença de estilo relativamente aos governos de Sócrates, muito embora a política, em última análise, seja determinada pelos resultados alcançados e não pelo estilo adoptado. José Sócrates chegava lá por outros caminhos, fazendo e desfazendo às três pancadas, produzindo um excesso de propaganda, à mistura com métodos de carroceiro brigão, ao passo que Pedro Passos Coelho faz questão de exibir uma imagem de competência e profissionalismo, comedida mediatização dos propósitos, simpatia e contenção verbal, que também pode ser entendida como forma de anestesiar os nativos, para atenuar os efeitos do que está para vir, e que nem sequer nos passa pela cabeça.
Já os portugueses, com excepção da banalização dos assaltos a Caixas Multibanco, continuam relativamente quietos e sossegados, fazendo juz à velha classificação de "pobretes mas alegretes", isto é, interiorizando as dificuldades e tentando dar a falsa imagem de que a crise lhes está a passar ao lado, que as “tristezas não pagam dívidas” e as medidas de austeridade são um problema menor, e que apenas os estão a afectar de raspão.
(*) Grupo de aproximadamente 25 jovens economistas chilenos que formularam a política económica da ditadura do general Augusto Pinochet, nas décadas de 1970-80 do século passado, contrariando a política económica do socialista Salvador Allende, derrubado por golpe de estado. Foram os pioneiros do pensamento económico neoliberal, doutrina económica que defende a absoluta liberdade de mercado e restrições à intervenção estatal sobre a economia, só devendo esta ocorrer em sectores imprescindíveis, e ainda assim num grau mínimo, promovendo a desregulação dos mercados e o desmantelamento do “estado social”, e antecipando no Chile, em quase uma década, medidas que só mais tarde seriam adoptadas por Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos E.U.A..
A maioria destes economistas formaram-se na Universidade Pontifícia Católica do Chile, tendo mais tarde obtido a pós-graduação na Universidade de Chicago (daí o nome de “Chicago Boys”), onde pontificava o economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006), teórico do neoliberalismo. Foram os responsáveis pelo chamado "Milagre do Chile" (The Miracle of Chile), denominação atribuída pelo próprio Friedman.
Fonte: Wikipédia
quarta-feira, julho 13, 2011
Registo para Memória Futura (46)
"Perguntámos ao primeiro ministro se o Governo teria disponibilidade para actuar ao nível do sistema financeiro, por exemplo taxando as operações na banca, mas o primeiro ministro disse que não, o que indicia que a riqueza produzida em especulação financeira é mais protegida que a proveniente do trabalho", disse o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva aos jornalistas.
Carvalho da Silva, que falou aos jornalistas no final de uma reunião com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, considerou que o imposto extraordinário sobre o 13º mês é injusto porque apenas vai ser aplicado a quem apresenta rendimentos englobados para IRS.
"Os verdadeiros detentores da riqueza continuam a ser dispensados de sacrifícios", disse o sindicalista, referindo que metade da riqueza produzida no país não se destina aos que apresentam os seus rendimentos em IRS.»
Transcrição do DIÁRIO DE NOTÍCIAS on-line de 13 de Julho de 2011
segunda-feira, julho 11, 2011
Cascata de Recados
Sobre as questões da saúde, Sua Elevação teceu a cavacal conclusão de que todos os cidadãos têm direito a cuidados de saúde de qualidade, e ninguém pode ser excluído, mas se o Estado não o conseguir assegurar ou custear - porque há emergência social e estamos numa encruzinhada - deve delegar-se essa função noutras organizações. Como há vários modelos em discussão, isso significa que está aberta a porta para o Estado, passo a passo, se demitir das suas obrigações e passar a bola a quem cobiça o filão da saúde, como é o caso dos privados. Estão a perceber, não estão? Sua Elevação, agente infiltrado de interesses pouco ou nada patrióticos, vai habilidosamente, deitando a escada, preparando o terreno e os espíritos, para o que aí vem.
Sobre a questão agrícola, a presidencial figura não referiu a época de quando foi primeiro-ministro, entre 1985 e 1995, e do quanto contribuiu (sem lhe doer o coração), para o processo de liquidação da agricultura nacional, mas agora, embora pouco criativo, foi muito sucinto, afirmando que os portugueses se devem mobilizar e envolver na produção agrícola, muito embora não tenha dito onde vai ter lugar a distribuição maciça de sementes, regadores, enxadas e ancinhos.
Sobre as (agora) malvadas agências de rating, Sua Elevação acertou o passo e fez coro com a ira e indignação geral dos comentadores de serviço, insistindo que isto foi uma atrocidade desmedida contra Portugal, por via de um objectivo mais alto, que tem por alvo o Euro e a concorrência europeia. Há uns tempos atrás, quando alguns “bota-abaixistas” de esquerda advertiam contra os perigos de nos enredarmos nas armadilhas dos mercados, e que era urgente renegociar a dívida, o sorumbático Aníbal Cavaco esboçava sorrisos de desdém, puxava dos galões académicos, e dizia que era preciso ter confiança, não ligar às agências de rating (nem às más companhias), mas sim acalmar os mercados, seguir em frente, com confiança e determinação, rumo à luz que cintilava ao fundo do túnel. O que temos não é a luz mas sim o precipício, quando se acaba o túnel!
Portanto, e concluindo, podemos ficar descansados. Faço questão, no entanto, de insistir que as professorais intervenções de Sua Elevação deviam ser compiladas, e devidamente comentadas. Por incompreensão e tacanhez, as mentalidades de hoje dificilmente o compreenderão, mas nunca se sabe se estas sonsas e insípidas dissertações não dariam uma preciosa ajuda à posteridade, para perceberem e apreciarem o contributo e protagonismo que Sua Elevação teve – em concorrência com outros trogloditas – no desastroso estado em que foi deixada a nação.
domingo, julho 10, 2011
Confissão
Assim, na praça pública, e desnudo.
E sem recurso à lei,
que impõe saber de mim o nada e o tudo.
Não sei por que reclamo o sol do estio,
as chuvas outonais,
as neves da invernia - céus, que frio
doendo-me de mais!
E o sol da primavera
beijando cada ninho em construção
enquanto o Tempo espera
o parto, em oração.
E quando cada espiga me mitiga
a fome só de vê-la,
escrevo uma cantiga
no lucilar ardente duma estrela.
Poema de José-Augusto de Carvalho
14 de Junho de 2011
Viana * Évora * Portugal
sábado, julho 09, 2011
A Família Teixeira
Carlos Teixeira – Presidente da Câmara Municipal de Loures;
Graça Teixeira – Esposa do Presidente, é directora-delegada do SMAS;
Joana Calçada – Filha do Presidente, é adjunta da vereadora socialista Sónia Paixão;
Paulo Gualdino – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do SMAS;
António Baldo – Cunhado do Presidente, é chefe de gabinete do Presidente;
Maria Montserrat – Namorada do filho do Presidente, é Adjunta do Presidente;
Constantino Teixeira – Irmão do Presidente, tem funções na Valor Sul, empresa participada pela Câmara.
O Presidente Teixeira garante que está tudo legal, que não houve qualquer favorecimento e nada lhe pesa na consciência. A mim custa-me a acreditar…
sexta-feira, julho 08, 2011
Enganei-me!
quinta-feira, julho 07, 2011
Então e os Vendilhões, Senhor?
Desta vez, coube em sorte, debruçar-se sobre o imposto extraordinário de 50% que vai afectar o subsídio de Natal, na parte que excede o ordenado mínimo nacional. Considera ele que é uma medida equilibrada porque não atinge os portugueses com menores rendimentos nem discrimina ninguém. Desvalorizou a medida, dizendo mesmo que, pessoalmente, a “coisa” não lhe faz impressão… Mas esqueceu-se de falar daqueles que, não tendo subsídio de Natal, coitadinhos (logo não são atingidos pelo excepcional imposto, o que é uma graça), continuam a banquetear-se com mais-valias bolsistas e privatizações, são donos e accionistas disto e daquilo, e lá vão sobrevivendo com os exíguos rendimentos que os “offshores” e outras fontes de riqueza lhes vão disponibilizando, olari-lolé. Don José não disse para rezarmos novenas, mas continuando a falar das obrigações dos portugueses, acrescentou que estes "não podem pensar só no seu bem e na sua comodidade", devendo apoiar o governo e as suas medidas, para que possamos cumprir os acordos com a “troika”, acalmar os mercados financeiros, encher o peito de ar, recuperar confiança, pôr o país a funcionar e étecetera e tal. Queria dizer com isto que os portugueses têm que se esforçar e contribuir para salvar a pobre banca que está nas lonas, os agiotas e especuladores, e todas as almas caridosas que andaram (e andam) a contribuir para se chegar ao estado em que estamos. Don José esqueceu-se também – e aqui a omissão é grave - de aconselhar os portugueses que deviam seguir o exemplo de Jesus, o qual não teve meias medidas, quando chegou a altura de expulsar os vendilhões do Templo.
Crise e Austeridade, a Quanto Obrigas!
(…)
A crise parece não afectar os salários dos altos cargos do Fundo Monetário Internacional. Christine Lagarde, que inicia hoje o seu mandato de directora-geral da instituição por cinco anos, irá receber um vencimento anual total de 551.700 dólares (381.200 euros, em moeda portuguesa antiga 76 mil contos), revelou hoje o FMI.
(...)
O FMI justifica o aumento recebido por Lagarde, a primeira mulher a liderar o Fundo, com a necessidade de "ajuste à inflação".»
Excerto da notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de 6 de Julho de 2011
quarta-feira, julho 06, 2011
Todos os Atalhos Vão Dar ao Mesmo Precipício
O governo ainda não aqueceu o assento das cadeiras do conselho de ministros e já anda a rapar os bolsos dos portugueses (em muitos já só há cotão), com mais taxas e impostos, a peneirar as prestações sociais até à exaustão, privatizando ao desbarato, e não percebendo, ou não querendo perceber que a solução de mais pilhagem e auteridade, é uma fuga às arrecuas, de costas voltadas para o abismo da falência, esfarelando pelo caminho o que resta da frágil economia, potenciando o desemprego e a pobreza generalizada.
Meus senhores, estão à espera de quê? Parem de garantir que o problema português é diferente do problema grego, pois isso é conversa fiada. Os atalhos para onde somos empurrados, vão dar todos ao mesmo precipício. Portanto, torna-se urgente uma imediata auditoria às contas do Estado, a fim de se avaliar em que moldes deverá ser pedida a renegociação da dívida, caso contrário Portugal vai acabar mal, e à Europa pouco lhe importará, pois há sempre a saída do Euro, ou em último caso, a expulsão pura e simples.
NOTA – A imagem não tem valor estatístico. É apenas a expressão gráfica do meu descontentamento (outras vezes rancor) com os políticos que nos têm governado.
O Martírio da Sede
se sempre caminhei entre ciladas?
No berço, já ouvia, entre carinhos,
falar de perdições ensanguentadas...
O fim, amortalhado de alvos linhos,
eivava de martírio as caminhadas.
Por que será que a rosa tem espinhos,
com pétalas assim tão perfumadas?
Sonhei, por entre sombras, horizontes
de límpidas manhãs de primavera,
dourando o pão que Maio prometia...
E, agora, quem me nega as frescas fontes
que matem esta sede, nesta espera
que o sonho sempre mais e mais adia?
Poema de José-Augusto de Carvalho
9 de Junho de 2001
Viana - Évora - Portugal
terça-feira, julho 05, 2011
Entrada de Leão, Saída de Sendeiro
Para quem se orgulhava de não estar comprometido com qualquer partido político, que não estava interessado em ser deputado, mas sentindo-se vocacionado para ser o maestro do sistema parlamentar que olhava de soslaio, o desastre político de Fernando Nobre, só tem uma classificação: entrada de leão, saída de sendeiro.
segunda-feira, julho 04, 2011
Registo para Memória Futura (45)
Excerto do Estatuto Editorial do Semanário EXPRESSO
Meu comentário: É difícil conhecer a verdade absoluta, na medida em que ela é a soma de um conjunto de verdades, e algumas delas podem ter ficado na sombra, intencionalmente ou não, marcando a diferença entre a verdade absoluta, coisa rara, e a verdade relativa.
Porque o jornalismo existe para informar e não para condicionar a informação, era desejável que fossem definidos, em termos jornalísticos, os parâmetros do conceito de “interesse nacional”, essa expressão subjectiva que, tal como os “supremos interesses da nação” de outrora, pode ser tudo e não ser nada, caso contrário, com maior ou menor grau de limitações, estamos sempre sujeitos a formas, mais ou menos veladas de censura. Qualquer estagiário sabe que há uma grande diferença entre noticiar que “vai acontecer”, ou noticiar que “já aconteceu”. Qualquer jornalista sabe o que deve ficar a aguardar confirmação, e o que pode ser entregue já, ao domínio público. E os jornalistas mais experientes, sabem que muitas vezes, bem longe do “interesse nacional”, estão em jogo certos interesses, que são constrangidos a manter resguardados, por razões que nada têm a ver com a natural reserva, ou o tal “interesse nacional”, que tem tanto de vago como de castrador. Qual é o proprietário de um jornal, rádio ou estação de TV que gosta de ser objecto de notícias menos abonatórias? Por tudo isto, e mais um par de botas, como agora é hábito dizer-se, cada vez considero mais a profissão de jornalista, uma das mais nobres profissões que uma pessoa pode ter, quando desempenhada com isenção e rigor.
domingo, julho 03, 2011
Novas Fórmulas de “Outsourcing”
sábado, julho 02, 2011
Somos Oposição Construtiva…
quarta-feira, junho 29, 2011
Livros Que Andei a Ler
Autor: Rui Tavares
Editor: Tinta da China
Páginas: 224
Reimpressão da edição de bolso: Janeiro 2010
FIQUEI surpreendido com este ensaio do historiador Rui Tavares. Aborda o Grande Terramoto que destruiu parcialmente a cidade de Lisboa, no dia 1 de Novembro de 1755, colocando o acontecimento em linha com outras catástrofes, uns fenómenos puramente naturais, outros que têm a marca da mão humana, e que em comum têm a pretensão de serem marcos de novos tempos, senão mesmo de outras formas de reflectir sobre a civilização, como sejam o tsunami do Sudoeste Asiático em 2004, o ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque em 2001 e o incêndio de Roma no ano 64 d.C.. São factos que, como diz o autor, "forçaram a humanidade a uma reflexão sobre a textura histórica, a identificação entre o bem e o mal ou as relações entre cultura, religião e realidade".
O ensaio deixa umas quantas e oportunas questões a pairarem no ar: se não tivesse acontecido em Lisboa a tripla catástrofe do terramoto, seguida do tsunami e dos incêndios, teria o Marquês de Pombal tido a oportunidade de assumir e consolidar a influência política que teve? E como se teria desenrolado a história portuguesa em geral, e a história de Lisboa em particular, se esta não tivesse sido objecto de uma reconstrução a partir do zero, mas sim ir acumulando as normais transformações que afectam as cidades com o passar dos tempos?
À pergunta se a pecaminosa Lisboa sofreu uma catástrofe natural ou se foi objecto da ira de Deus, houve, na altura, uma questão de deixou atónitos os devotos lisboetas, quando constataram que quase todos os templos, repletos de fiéis, tinham sido arrasados, em contraste com a mal afamada rua dos bordéis, que havia escapado ilesa da justiça divina. Esta incoerência, no entanto, não deteve o inflamado e subversivo padre Gabriele Malagrida, na sua missão de admoestar e zurzir todo o rebanho pecador, desde o intocável rei até ao reles plebeu. O ensaio escalpeliza este dualismo, relaciona-o com o iluminismo em ascensão, com o poder pombalino, as razões da execução do inoportuno Malagrida, com a expulsão dos jesuítas e o próprio extermínio da família Távora. Mais do que uma obra de divulgação, este ensaio de Rui Tavares, além de se apresentar como uma curiosa, escorreita e inovadora forma de abordar a História, é também um documento vivo e muito completo daquele nefasto acontecimento de 1755, dos comportamentos com ele associados, e de outras implicações que teve, não só entre nós, mas também além fronteiras, sobretudo entre escritores e filósofos europeus. A escrita é intensa, os capítulos curtos e lê-se de um fôlego. Recomendo-o vivamente. O êxito que obteve entre os leitores e a crítica é perfeitamente justificado.
Reindustrializar o País!
«Esta semana, foi anunciado pelo Conselho de Administração dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, no âmbito de um "Plano de Viabilização", o objectivo de despedir 380 trabalhadores. Quem conhece a história desta empresa - o maior estaleiro nacional de construção naval - a escola de trabalho qualificado que sempre foi e o seu papel no desenvolvimento económico e social da região, não pode deixar de sentir uma profunda tristeza, preocupação e revolta.
Os trabalhadores dos Estaleiros, os trabalhadores e o povo da região e os portugueses em geral têm o direito e o dever de se mobilizar e lutarem contra o "destino traçado" para esta grande empresa.
Ao longo dos últimos 20 anos o passivo da empresa acumulou um défice de 200 milhões de euros. Nos últimos seis anos, somou mais de 50 milhões de défice em resultado das incompetências do Conselho de Administração, do Governo Central e do Governo Regional dos Açores na gestão do processo de construção de dois navios de transporte de pessoas e viaturas.
Os trabalhadores e os seus órgãos representativos sempre chamaram a atenção para situações de desleixo na gestão de várias administrações, para o facto de não ser feito investimento tecnológico em tempo útil, para a ausência de esforços na procura de novos clientes, para a inexistência de objectivos estratégicos. Será que grande parte destas "incompetências" facilita o processo de privatização por que há muito tempo algumas forças políticas e económicas se batem?
Portugal precisa de defender a indústria que ainda possui e de um enorme esforço de reindustrialização. O sector naval, onde temos capacidades construídas, tem de ser defendido.
Num importante estudo da Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Química, Farmacêutica, Eléctrica, Energia e Minas (FIEQUIMETAL), inserido no projecto "Conhecer para Intervir na Indústria" (POHP/QREN), é analisada a indústria no "contexto da globalização, a política industrial na União Europeia (U.E.) e a evolução da indústria transformadora em Portugal", visando a construção e a afirmação de propostas para a reorientação das políticas económicas que favoreçam a reindustrialização.
Uma das grandes causas da situação a que chegamos foi a "desindustrialização cultural" promovida por responsáveis políticos e económicos, ou seja, a inculcação nas pessoas da ideia de que o desenvolvimento do país abdicava da indústria, apresentando-se muitas empresas do sector industrial como "passado", quer quanto a actividade quer quanto a perspectivas de emprego e de profissões. A U.E. favoreceu e promoveu esta tese. Entretanto, agora, defende a salvaguarda da indústria, incluindo nos países mais industrializados.
Naquele estudo, na identificação das causas do declínio industrial dos últimos 10 anos - já antes a queda era um facto, mas, no período 1995/2001, o início de actividade da Autoeuropa e de alguns grandes projectos industriais escondeu o que estava a acontecer por todo o país - lá encontramos os impactos "do aprofundamento da integração europeia e das privatizações", os efeitos negativos da "fixação de uma taxa de conversão entre o escudo e o euro excessivamente alta", a "atitude agressiva da Banca" que desviou as prioridades do investimento do sector produtivo e exportador "para a habitação, as obras públicas, o consumo" e a especulação financeira. A "opção pelo betão", a promoção "do transporte rodoviário em prejuízo do transporte ferroviário e marítimo" constituíram factores de degradação e destruição de empresas industriais, que não podem prosseguir.
Não há soluções se o Governo e o Poder Económico prosseguirem uma errada concepção de competitividade e se o Estado for amputado dos meios necessários à promoção da política industrial. Em próximo artigo, procurarei identificar conteúdos para o desenvolvimento de um programa de revitalização do tecido produtivo, bem como a necessidade de diversificação das relações económicas externas e da reorientação do sector financeiro visando criar melhores condições ao sector produtivo.»
segunda-feira, junho 27, 2011
A Responsabilidade dos Banqueiros pela Crise Portuguesa
Estudo da responsabilidade do economista Eugénio Rosa
Resumo deste Estudo
«Em Portugal, a concentração bancária é muito superior à média da U.E. Segundo o Banco de Portugal, em 2009, os cinco maiores bancos a operar no nosso País controlavam mais de 70% do valor dos “activos” de todos os bancos, quando na U.E. os cinco maiores bancos controlavam, em média, em cada país 42% dos “activos”. Este poder já enorme dos cinco maiores bancos é ainda aumentado pela posição dominante que também têm nos outros segmentos de mercado do sector financeiros (seguros; fundos de pensões; fundos de investimento mobiliário; fundos de investimento imobiliário; e gestão de activos). Esta situação, associada ao facto de uma parte importante do capital dos 4 maiores bancos privados já pertencer a grandes grupos financeiros internacionais, dá-lhes um imenso poder sobre o poder politico e sobre todo o processo de desenvolvimento em Portugal, condicionando-o de acordo com os seus interesses
A banca é um negócio “especial”, pois os banqueiros negoceiam fundamentalmente com dinheiro alheio obtendo assim elevados lucros. Segundo o Banco de Portugal, em Dezembro de 2010, o valor de todos os “Activos” da banca a operar em Portugal atingia 531.715 milhões €, enquanto os chamados “Capitais Próprios” da banca, ou seja, o que pertencia aos seus accionistas, somava apenas 32.844 milhões €, isto é, correspondia a 6,2%; por outras palavras, o valor dos Activos era 16,2 vezes superior ao valor do “Capital Próprio” dos “Activos”. Este rácio revela o elevado grau de “alavancagem” existente no sistema bancário em Portugal que permite aos banqueiros obter elevados lucros com pouco capital próprio (o que lhes pertence).
A banca a operar em Portugal está descapitalizada devido a uma elevada distribuição de lucros (o mesmo sucede com a EDP e PT, por ex.). Mesmo em plena crise os banqueiros não se coibiram de o fazer. Segundo o Banco de Portugal, no período 2007-2010, os lucros líquidos da banca, depois do pagamento dos reduzidos impostos a que está sujeita, somaram 8.972 milhões €. Entre Dezembro de 2007 e Dezembro de 2010, os Capitais Próprios da banca aumentaram apenas 4.571 milhões €. Apesar de redução de “Capitais Próprios” em 2008, uma parte dos 4.401 milhões € de lucros líquidos restantes foram distribuídos. E isto é reforçado quando o aumento de “capital” foi também conseguido através de novos accionistas. O Fundo de Garantia de Depósitos, cujo provisionamento é da responsabilidade da banca, está também subfinanciado (pensa-se em 15.000 milhões €). Este fundo é referido no ponto 2.15 do “Memorando”.
Fala-se muito da divida do Estado, mas segundo o Banco de Portugal, a banca devia, em Dez-2010, 49.157 milhões € ao BCE e 81.125 milhões € a outros bancos, ou seja, 130.282 milhões €.
A banca em Portugal está profundamente fragilizada. A prova disso é que ela é incapaz de se financiar nos “mercados internacionais” sem a ajuda (o aval do Estado). A banca é também incapaz de financiar a economia, agravando a crise e o desemprego. Entre Dez-2009 e Dez-2010, o crédito em Portugal diminuiu em 1.965 milhões €, apesar dos depósitos na banca terem aumentado em 12.080 milhões €. A continuar, milhares de empresas entrarão em falência fazendo disparar ainda mais o desemprego. A agravar tudo isto está a exigência de “desalavancagem do sector bancário” constante dos pontos 2.2 e 2.3 do “Memorando”. O “rácio” de transformação na banca (quociente entre o crédito líquido a clientes e os depósitos) é considerado pelas agências de “rating”, pelo FMI e pelo BCE como sendo muito elevado, e estão a pressionar o governo e o Banco de Portugal para que desça. Entre Dez.2009 e Dez.2010, o “rácio” de transformação diminuiu de 146% para 138%, ou seja, a banca reduziu o crédito de 1,46€ para 1,38 € por cada um euro de depósitos. A redução para 120%, como exigem as agências de “rating”, reduzirá ainda mais a capacidade da banca para financiar a economia, agravando a crise.
Esta situação é agravada pela profunda distorção da política de crédito dos banqueiros na busca de lucros fáceis e elevados, responsável também pela actual crise. Entre 2000 e 2010, o crédito a habitação aumentou em 156%; o crédito ao consumo subiu em 137%; mas o crédito à actividade produtiva (agricultura, pescas e industria transformadora) cresceu apenas em 41%. Em Dez.2010, o crédito à actividade produtiva representava apenas 5,5% do crédito total, enquanto à habitação atingia 34,6%, à Construção e Imobiliário 12,6% e ao Consumo 4,9%. E tenha-se presente que a banca financiou o crédito à habitação, que é um crédito a longo prazo (30-40 anos), com empréstimos a curto e médio prazo, pois não possui meios financeiros próprios. E como não consegue novos financiamentos para os substituir, as dificuldades da banca crescem, e corta ainda mais no crédito. No “Memorando de entendimento” estão 2 medidas: (1) O Estado conceder avales à banca até 35.000 milhões para esta se poder financiar; (2) O Estado endividar-se até 12.000 milhões € para reforçar o capital da banca. Mas isto é só admissível se o Estado controlar os bancos que forem apoiados, até porque a situação difícil que vive a banca “portuguesa” é consequência também da má gestão dos banqueiros, e deixá-los à “solta”,é permitir que continuem uma politica que tem sido nefasta para o País e para os portugueses.
Os banqueiros em Portugal têm procurado fazer passar a mensagem junto da opinião pública que não têm qualquer responsabilidade pela grave crise económica que o País enfrenta, já que ela resultaria da crise internacional e das más politicas governamentais seguidas no passado de que eles não tiraram qualquer proveito. Tem-se assistido, desta forma, a uma autêntica operação de branqueamento e de desresponsabilização dos banqueiros, procurando fazer crer a opinião pública que eles são diferentes e muito melhores do que os banqueiros dos outros países. E como têm apoios e defensores poderosos nos principais media essa mensagem tem sido repetida até a exaustão procurando que, de tanto repetida, acabe por ser aceite como verdadeira pela opinião pública. Por isso, interessa analisar de uma forma objectiva o que tem sido a politica da banca em Portugal nos últimos anos, como ela contribuiu para a crise actual, e como está a estrangular financeiramente as empresas, o que determinará o aumento significativo do desemprego. Nessa análise utilizar-se-á dados oficiais indicando ao leitor as fontes. (…)»
Para ler todo o ESTUDO clique aqui no CARTÓRIO do ESCREVINHADOR
domingo, junho 26, 2011
Há Sempre Um Portugal Desconhecido
Este aeroporto está localizado na base aérea n.º 11, a 12 km da cidade de Beja, tendo sido concebido para explorar o tráfego das companhias aéreas de baixo custo, devido às suas taxas aeroportuárias significativamente baixas, e muito embora a afluência não seja significativa (o último voo despejou apenas 7 passageiros) o senhor Pedro Beja Neves, administrador da ANA, classificou de MUITO BOM o desempenho deste novo equipamento, do qual também é responsável.
sábado, junho 25, 2011
Ilícito com Prejuízo para o Erário Público
(...)
O Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) investigou este caso concluindo que “tais adjudicações, de acordo com os indícios, não tinham fundamento, traduzindo-se num meio ilícito de beneficiar patrimonialmente o arguido João Pedroso com prejuízo para o erário público” e que os arguidos “estavam cientes” desse facto.
(...)
Além da antiga ministra, estão também acusados a sua então chefe de gabinete, Maria José Matos Morgado, o secretário-geral do Ministério da Educação, João Batista, aos quais são imputados crimes e prevaricação. Também João Pedroso foi acusado pelo procurador do Departamento de Investigação e Acção Penal que dirigiu o inquérito.
(...)»
Excerto da notícia do jornal PÚBLICO on-line de 21 de Junho 2011
quinta-feira, junho 23, 2011
Onde Falhámos Nós?
Sim, porque nós havemos de ter falhado em qualquer coisa. Se não tivéssemos falhado, não teríamos a troika a tomar conta da casa. Se não tivéssemos falhado, não teríamos, dois anos depois de os bancos terem estourado com o sistema financeiro, o discurso hegemónico a estourar com o estado social em favor da mítica austeridade.
A esquerda não será séria se achar que fez tudo bem e que, para o futuro, só há que continuar a fazer o mesmo.
Para a esquerda, o tempo está virado do avesso. O dia das eleições foi ontem. O dia da reflexão só agora começou.»
Excerto do post “Período de reflexão”, da autoria de Rui Tavares, deputado do Parlamento Europeu. O título deste post é da minha responsabilidade.
quarta-feira, junho 22, 2011
Registo para Memória Futura (44)
Ambição de Poder
Declaração de Francisco Assis numa sessão de apresentação e debate com militantes do Porto.
UMA grande franja de políticos continua a usar e abusar daquilo que eu defino como a regra de três desincronizada, isto é, aquilo que pensam, não coincide com o que dizem, nem com o que fazem. Francisco Assis é um digno representante desta espécie, no entanto, há um aspecto em que a sua coerência é notória e digna de registo. Voltou a exprimi-lo num encontro com militantes do Porto e, ignorando os conselhos do Almanaque Borda d’Água, que recomenda que cada coisa tem o seu tempo, não se conteve e voltou a repetir que tem a aspiração de ser primeiro-ministro, custe o que custar, seja lá quando for.
Não gosto de fazer comparações, mas tudo isto me faz lembrar Fernando Nobre que, depois de derrotado nas presidenciais, como patética compensação, e sem possuir qualquer experiência parlamentar, “candidatou-se” resolutamente ao cadeirão de Presidente da Assembleia da República, segunda figura do Estado, para depois, duas vezes falhado o propósito, ver espatifado todo o seu prestígio, alcançado noutras batalhas.
Quanto a Assis, também ele persiste no sonho de ser primeiro-ministro (há quem lhe chame birra), quase como uma fixação a resvalar para a obsessão, a fazer lembrar uma outra figura, um certo engenheiro incompleto, que também tinha a ambição de se manter perpetuamente no poder (quase o conseguia), como timoneiro e primeiro-ministro de um grande projecto de esquerda democrática, moderada, moderna e popular, tão recheado de atributos, que deu os resultados que deu.
terça-feira, junho 21, 2011
Piruetas Semânticas
segunda-feira, junho 20, 2011
Internet Para Que Te Quero?
A par do já reconhecido baixo perfil dos empresários portugueses - o que explica a resistência em aderir a este canal de promoção e venda de produtos e serviços, ou o falso convencimento de que a solução é onerosa - será que esta baixa adesão às novas tecnologias de informação, se pode considerar um dos factores que contribui para a fraca expansão, rendibilidade e competitividade, em termos económicos, deste tão amplo quanto enfezado e pouco expressivo sector empresarial? Era bom que houvesse análises sobre isso, feitas pelos portugueses, seus principais interessados, e não apenas a singular iniciativa do Google.
domingo, junho 19, 2011
Registo para Memória Futura (43)
A totalidade do documento pode ser consultado AQUI.
«(...) A prioridade do “bem-comum” de toda a sociedade sobre interesses individuais e grupais é um dos pilares da doutrina da Igreja sobre a sociedade e que pode, neste momento, inspirar as opções governativas. Vamos pôr o bem da sociedade em primeiro lugar. Isso exige generosidade de todos na colaboração e aceitação dos caminhos necessários, na partilha de energias e bens, na moderação das opções ideológicas e estratégicas.
(...)
Além de generosidade, este momento exige, de todos os portugueses, grande realismo. A situação diminui a margem, legítima em democracia, para utopias.
(...)
O amor fraterno, com a capacidade de dom, é o valor primordial na construção da sociedade. Sempre, mas de modo especial neste momento que atravessamos, os pobres, os desempregados, os doentes, as pessoas de idade, devem estar na primeira linha do amor dos cristãos.
(...)
Os próximos tempos vão exigir partilha de bens. Mas não é a mesma coisa partilhar generosamente, e ser obrigado a distribuir. Temos de criar um dinamismo coletivo de generosidade e de partilha voluntária, fundamentada no amor à pessoa humana.
(...)»
sábado, junho 18, 2011
Da Azinhaga a Lanzarote
Na sua exuberante trajectória existencial, Saramago não foi santo (ele próprio se intitulava pecador), cometeu erros, alguns deles nada veniais, mas no fio do seu percurso, na sua incansável lavoura literária, da Azinhaga a Lanzarote, semeou de tudo, desde manuais, pecados, cegueiras, evangelhos, pessoas caídas e levantadas do chão, blimundas, cadernos, viagens, ensaios, artigos em jornais, poucos poemas, jangadas e cidades cercadas, cavernas, elefantes, baltazares, luas e sóis, milhões de nomes e padres voadores, até memoriais e tantas coisas mais.
As três graças que noutras alturas partilho com outras figuras, isto é, serem a minha rota, a minha bússola e o meu porto de abrigo, nestes dias de evocação, reservo-as todas para Saramago. De corpo ausente, mas espírito presente, passou um ano, e de lá para cá, estou sempre a voltar ao convívio e cumplicidade daquela prateleira, com pouco mais de um metro de comprimento, que condensa o pequeno grande mundo onde insisto em me iniciar, onde me atrevo e me perco, e onde acabo sempre por me reencontrar.
NOTA - A imagem é da capa do jornal PÚBLICO de 18 de Junho de 2010
sexta-feira, junho 17, 2011
Primeiras Impressões
NEGATIVO – Deixar de haver Ministério da Cultura.
MUITO NEGATIVO - As políticas que nos esperam!
quinta-feira, junho 16, 2011
Que Falem os Cidadãos
terça-feira, junho 14, 2011
Dois Mil e Quatrocentos Anos os Separam
Embora tivesse dedicado toda a vida à filosofia e ao seu ensino, o Sócrates original sobre ela nada deixou escrito, muito embora por ela tenha dado a vida, ao ser condenado à morte, acusado (talvez injustamente) de corromper a juventude de Atenas com as suas ideias e crenças, numa época em que não havia contemplações com os delitos de opinião. Com dois mil e quatrocentos anos a separar ambos os Sócrates, o pouco que sabemos do mais antigo foi-nos transmitido por Aristóteles, pelo historiador Xenofonte nos seus “Ditos Memoráveis de Sócrates”, e por Platão, ao qual deu voz em alguns dos seus “Diálogos”, em que o pensador é posto a discorrer sobre vários temas filosóficos. Teria adoptado a divisa délfica «Conhece-te a ti mesmo», regra que impunha um exame constante de si próprio em relação aos outros, e dos outros em relação a si mesmo. Mestre em discernir entre o imaginário ou falso, e o genuíno ou verdadeiro, terá aconselhado os seus discípulos, na sua derradeira lição, antes de ingerir a fatal taça de cicuta, que «se não vos preocupardes com vós próprios e não quiserdes viver da maneira conforme vos tenho aconselhado, fazer-me agora muitas e solenes promessas não servirá de nada». Fica aqui registado o oportuno comentário do original Sócrates, sobre a importante e tortuosa questão das promessas não cumpridas, e que ele ilumine quem dele ostenta agora o nome, bem como todos os outros.
Imagem: O Pensador de August Rodin (1840-1917)
segunda-feira, junho 13, 2011
Remendar a História Recente
domingo, junho 12, 2011
Língua Portuguesa e Liberdade de Expressão
(...)
Em causa estão cinco linhas escritas por Miguel Pinheiro, na coluna ‘Sobe e Desce’ da edição de 27 de Janeiro da SÁBADO. No texto sobre o discurso de vitória de Cavaco nas presidenciais, o director afirma que "tal como Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, Cavaco Silva acha que uma vitória eleitoral elimina todas as dúvidas sobre negócios que surgem nas campanhas".
O comentário valeu-lhe uma participação de Pinto Monteiro, que considera que «o autor revelou uma clara intenção de denegrir a imagem e reputação do Presidente» e pediu que fosse dado «carácter de urgência à tramitação dos autos».
(...)
Pinheiro, que já requereu a abertura de instrução, lembra que no momento em que fez o discurso no CCB, Cavaco estava na qualidade de candidato e não de Presidente. "Num país democrático, a pessoa e a função não se devem confundir", defende o jornalista, que não percebe por que motivo foi o único a ser processado, já que outros fizeram a mesma comparação.»
Excertos na notícia publicada no semanário SOL de 9 de Junho de 2011
Meu comentário – Quando há dúvidas sobre questões relacionadas com a língua portuguesa e seus significados, e estas têm implicações com a liberdade de expressão, em vez da instauração de um processo judicial, devia ser pedido um parecer à Academia. Isto para não se cair no ridículo, com questões de “lana caprina”. O senhor Presidente pode estar zangado, porém, os factos concretos - e não meras calúnias como ele pretende que sejam - não podem ser plebescitados nem apagados pelo voto em eleições - como ele queria que fossem - nem silenciados os comentários certeiros que se façam sobre os benefícios que comprovadamente colheu, como accionista privilegiado do Banco Português de Negócios.
sábado, junho 11, 2011
Fantasia ou Contradição?
Com este panorama e estes números atrás descritos, e a manter-se a inactividade imposta com a chancela da União Europeia, a qual reverteu a agricultura portuguesa para níveis próximos da subsistência – com Portugal condenado a ser importador e não produtor - como é que isso pode ser conciliado com a solução defendida pelo Presidente da República, de ser encetada uma política de incentivo aos jovens agricultores, com o objectivo de fazer o repovoamento agrário do interior do país e de combater o nosso défice de produção alimentar?
Assim a frio a coisa não se percebe, logo, gostava que me explicassem, como se eu fosse muito burro. De um lado paga-se para deixar de produzir, do outro incentiva-se para voltar a produzir. Contradição ou fantasia, eis a questão.
Imagem – “As Ceifeiras”, quadro a óleo de Silva Porto, 1893
sexta-feira, junho 10, 2011
Crónica de um dia sem história – O Largo
Neste meu Largo, está sempre um homem olhando em frente. Alheado das árvores que o circundam, olha em frente. Fixamente. Tentará, porventura, desvendar as novas e os mandados que virão.
Fica indiferente às conversas que escuta, tal como à chuva que o molha, ao frio e ao calor que já não poderão incomodá-lo.
Um ou outro, mais velho, fala dele como de um passado morto. Interiormente, sorri. O passado não morreu. O passado é a raiz, as fases diversas sobre que assenta o presente. O presente à espera do futuro. O passado é ontem; o presente é hoje; o futuro é amanhã.
Do passado nos chega a sentença: quem boa cama fizer, nela se há-de deitar.
Como dizia, desci ao Largo. Hoje. Hoje deveria ser um dia especial, deveria ser mas não é. Mais exactamente, não vi que fosse.
Em derredor do homem sempre presente, havia diversas pessoas, cavaqueando. Também um carro de som, tentando animar o ambiente com banalidades pseudo-desportivas.
Senti-me defraudado. De dia especial, nada vi. Regressei a casa. Olhei a estante onde arrumo alguns livros. Lá estavam Os Lusíadas. Melancolicamente, recordei: «Esta é a ditosa pátria, minha amada!»
Pois…
José-Augusto de Carvalho
10 de Junho de 2011
Viana*Évora*Portugal
(imagem: óleo de Vincent van Gogh (1853-1890)
Deve Haver Engano!
«(...)
Se, por causa da crise e dos seus devastadores efeitos, não temos um país mais próspero, temos seguramente um Estado mais eficiente e uma sociedade mais livre e mais decente.
(...)
O que avulta é o profundo espírito de modernização da sociedade e do País e de valorização do capital humano e material, que inspirou tanto as reformas das relações de família com as políticas sociais (na educação, de saúde e de segurança social), bem como as orientações no campo da economia e das infra-estruturas materiais.
(...)
Nunca se tinha sido tão ambicioso no aprofundamento e na busca de sustentabilidade do Estado Social, na reforma do sistema de pensões, no alargamento e racionalização do SNS, na valorização e qualificação da escola pública, no alargamento do sistema de protecção social, incluindo no combate à pobreza.
(...)
Decididamente, temos agora uma economia mais apetrechada para a competitividade.
(...)»
quinta-feira, junho 09, 2011
Detergente Três-em-Um
quarta-feira, junho 08, 2011
E a Islândia Aqui Tão Perto...
Há actos cometidos no exercício da governação, em que a penalização com o afastamento da área do poder, por via eleitoral, não é punição bastante. Não se trata de forjar bodes expiatórios, exercer represálias ou ajustes de contas com os vencidos da luta política, mas sim de levar até à barra dos tribunais os autores dos ilícitos decorrentes de favorecimentos, compadrios, gestão incompetente, negligente e danosa do património público, celebração de contratos ruinosos, e tantos outros logros e estratagemas, de que o Tribunal de Contas dá conta, bem como todas as outras situações que deixariam de andar no segredo dos deuses, se fossem levadas a cabo as competentes auditorias externas às contas do Estado. Tudo somado, talvez nos mostrasse, de modo claro e incontroverso, quais as verdadeiras causas das dificuldades e do estado ruinoso com que agora nos estamos a confrontar, e a impunidade (que não se deve confundir com imunidade) deixasse de ser o escudo atrás do qual os políticos se abrigam, dando asas à sua vastíssima e prolífica criatividade.
segunda-feira, junho 06, 2011
Reflexão Pós-Eleitoral
«Preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a dos relâmpagos que abalam a montanha e dançam num oceano de chamas.»
In O BANQUETE de Soren Kierkgaard (1813-1855)
AINDA HÁ uma semana atrás se veio a saber que a equipa de José Sócrates, especializada em traficar promessas, negociatas, compromissos e “reajustamentos” de primeira e última hora, continuou a servir-se do poder para espoliar o país e os trabalhadores, até ao último momento do seu execrável e pouco escrupuloso governo de gestão. Ficaram como prova disso não só a carta de “intenções” dirigida à “troika”, bem como os sinistros e furtivos “ajustamentos de pormenor”, negociados após a assinatura do acordo, o que veio a acrescentar mais combustível à fogueira do calamitoso acordo para a concessão do empréstimo, que muitos teimam em qualificar de “ajuda”. Na altura, PSD e CDS/PP declararam-se escandalizados com este atrevimento (oh, que surpresa!), mas lá no fundo estão exultantes, pois o seu trabalho futuro está facilitado, o que vem dar razão à minha tese de que José Sócrates foi o mais duradouro e eficiente líder que a dissimulada coligação Cavaco Silva-PSD-CDS/PP teve até hoje. Foi assim, com este estado de espírito que no domingo, quando saí de casa para ir votar, mais do que votar para lá meter alguém, queria votar sim, mas para os tirar de lá, a este PS faz-de-conta e ao seu engenheiro de contrafacção.
FACE aos resultados eleitorais, que materializam a maioria sonhada por Francisco Sá Carneiro – um Presidente, um Governo e uma Maioria - acaba por se confirmar, agravado pela pesada abstenção, uma certa tendência masoquista do eleitorado português, que descartou, ignorou ou não percebeu que os interesses do PS (partido Sócrates) e da direita, há muito que deixaram de ser coincidentes com os interesses do país e dos portugueses. Persistem em manter-se insensíveis (até quando?) aos sinais e factos que se acumularam, entre brutalidades e crueldades do foro sócio-económico, ao longo dos últimos seis anos de governação. Ao ponto de José Sócrates, também ele sempre bem longe da realidade, entre algazarras, banhos de confiança e bebedeiras de optimismo, durante a campanha eleitoral, não se ter dignado dirigir uma única palavra a quem empurrou e fez transpôr o limiar da pobreza, e aos 700 mil portugueses que foram lançados no abismo do desemprego. Na hora da despedida ainda tivemos que o aturar durante mais de 30 minutos, com o seu derradeiro e lacrimejante discurso.
COM ISTO volta à baila aquela velha lei da política que diz que é possível enganar todos algum tempo, pode-se enganar alguns o tempo todo, mas não se pode enganar todos o tempo todo. Ora, em Portugal, depois de sucessivamente adiada, a lei está em vias de não se aplicar, não se percebendo porque é que isto acontece, e não bastando lavar as mãos como Pilatos, ou concluir que quem boa cama fizer, nela se há-de deitar. Na verdade, para perceber o fenómeno, preciso de uma iluminação muito mais sumptuosa do que a luz do relâmpago. Até lá, falta saber se o PS se vai limitar à cooperante, extravagante e mefistofélica missão de fiscalizar o cumprimento da condenação a que sujeitou o país e os portugueses, ou se vai conseguir fazer oposição, passando por cima da autoria dos muitos malefícios que exibem a sua assinatura, e quanto ao PSD e CDS-PP, como vão eles dissimular as respectivas cumplicidades e contribuições, na escolha dos ingredientes, nos temperos e cozedura dessas malfeitorias. Tanto num caso, como no outro, vêem-me sempre à memória as palavras do meu velho amigo senhor Barros, que advertia que há que ter muito medo e tomar precauções com os pirómanos da política, pois quando não conseguem sobreviver ao caos que criaram, largam fogo a tudo, para deixar ainda pior o que já era péssimo.
domingo, junho 05, 2011
À Boca das Urnas - Se Não Votares, Ficas Caladinho!
NOTA – Mário Soares, interrogado pelos jornalistas, parece que subscreveu esta opinião. Au revoir, mon ami!
À Boca das Urnas - Uma Blague de Antologia
Excerto da notícia do jornal PÚBLICO on-line de 3 de Junho de 2011
Primeiro Entre os Melhores
Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. (…)
Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. (…)
Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. (…)
Excertos do discurso do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011
Ver discurso completo do arquitecto Eduardo Souto de Moura ao receber o Prémio Pritzker 2011
Ver discurso do Presidente dos EUA, Barack Obama, na entrega do Prémio Pritzker de Arquitectura ao arquitecto Eduardo Souto de Moura