quinta-feira, agosto 20, 2009

Será que Sócrates também vai dizer que isto é bota-abaixismo?

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Sobre a situação da Linha de Saúde 24 passo a transcrever a Nota do Gabinete de Imprensa do PCP, de 20 Agosto 2009.

«O PCP considera totalmente inaceitável a tentativa da Ministra da Saúde de desresponsabilizar o governo da situação de insuficiente resposta no atendimento da linha Saúde 24. O PCP exige que o Governo assuma as suas próprias responsabilidades políticas e denuncie o contrato em causa, com a passagem imediata da linha Saúde 24 e dos seus profissionais para a gestão pública, reforçando em simultâneo a sua capacidade de resposta.

As declarações da Ministra da Saúde tentando desresponsabilizar o governo da situação de insuficiente resposta no atendimento da linha Saúde 24 é totalmente inaceitável.

O governo conhece e está desde há muito alertado para a situação existente neste serviço, entregue a uma empresa privada no âmbito de uma parceria público-privada. Há longos meses que, por denúncia dos próprios profissionais da empresa, designadamente um conjunto significativo dos enfermeiros supervisores que coordenavam a actividade da diária da linha, o Governo sabia que existiam graves dúvidas sobre a capacidade de resposta e a fiabilidade desta gestão privada.

A acrescer a isso, a empresa perseguiu no plano laboral os profissionais em causa, não cumprindo, com a complacência do governo, as determinações da Direcção Geral de Saúde para que todos os profissionais em causas fossem reintegrados, sob pena de rescisão do contrato.

Mais do que isso, o Governo optou no final de Maio passado por prolongar por mais um ano o contrato que terminaria em 2010 e que assim, sem que nada obrigasse a tal, se estendeu até 2011. O Secretário de Estado da Saúde elogiou nessa altura publicamente a empresa, qualificando de “muito favorável” o seu desempenho e afirmou que, apesar de “dificuldades pontuais no atendimento, em horas de grande sobrecarga”, “a taxa de atendimentos - 93,4 por cento - permanece elevada, significativamente acima do valor contratual que era de 85 por cento”.

Menos de três meses depois, desmentindo as afirmações do Secretário de Estado, comprova-se a incapacidade da empresa, que está a atender apenas um terço das chamadas diárias previstas.

São de um total descaramento político as declarações da Ministra da Saúde, acusando a empresa de não cumprir o contrato, dizendo que esta já tinha sido alertada “há muitos meses” para a situação e que não responde não por causa da Gripe A, mas porque “não foi capaz de se organizar para responder àquilo que foi contratualizado”.

Esta situação vem comprovar, tal como o PCP sempre afirmou, que a gestão privada (e esta empresa em particular), designadamente com as parcerias público-privadas que o governo está a alargar a vários novos hospitais, não serve o Serviço Nacional de Saúde e o interesse público mas apenas os interesses lucrativos dos que as gerem.

Vem também comprovar a incompetência e a conivência do governo com este negócio, prolongando o contrato por mais um ano, mesmo sabendo da incapacidade da empresa e da importância que este serviço tem para a população e os serviços de saúde, designadamente quando estamos em pleno desenvolvimento da pandemia de Gripe A.

O PCP está de acordo com a reunião urgente da Comissão de Saúde da Assembleia da República, mas considera que este é um tempo de decisões e não de uma avaliação que está feita há muitos meses.

Por isso é indispensável que o governo esclareça o país de como é possível que há três meses tenha sido prorrogado o contrato com a empresa que gere a linha Saúde 24, com fundamento numa avaliação muito positiva, vindo agora a Ministra da Saúde criticar a empresa, afirmando que esta já tinha sido alertada há muitos meses.

Neste sentido o PCP exige que o Governo retire consequências da situação actual, assumindo as suas próprias responsabilidades políticas e denunciando o contrato em causa, com a passagem imediata da linha Saúde 24 e dos seus profissionais para a gestão pública, reforçando em simultâneo a sua capacidade de resposta.»

Meu comentário: O governo andou durante largo tempo a fazer experiências com a saúde dos portugueses, fechando urgências, maternidades e centros de saúde, ao mesmo tempo que deliberava canalizar para este serviço de atendimento telefónico, a triagem dos cuidados de saúde da população, com o objectivo de aligeirar as urgências hospitalares, com a sobrecarga resultante de eventuais situações fúteis. Com o aparecimento da Gripe A, a população foi mesmo aconselhada a recorrer, prioritariamente, aos serviços desta linha, a fim de se precaverem eventuais situações de contágio. Com a situação caótica em que o serviço se encontra, e assistindo aos desenvolvimentos e contornos que este caso está a assumir, deixo aqui uma interrogação: será que o governo já fez as malas para férias e não deixou ninguém a assegurar os «serviços mínimos», será que estamos perante um caso de autêntica irresponsabilidade e regabofe ministerial, de consequências imprevisíveis, ou será que o nosso impertinente primeiro-ministro, na primeira oportunidade, também vai dizer que isto é bota-abaixismo?

Dia Mundial da Fotografia

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Na celebração do Dia Mundial da Fotografia remeto para o excelente texto do Fernando Penin Redondo, publicado no DOTeCOME_Blog , e para as imagens, sempre comoventes e oportunas, do Carlos Romão, que podem ser visitadas no blog A CIDADE DEPRIMENTE .
Para ambos, as mesmas palavras de sempre: NÃO DESISTAM!

Outras Ilhas (Lanzarote)

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Ilha de Lanzarote. Arquipélago das Canárias. Espanha.
Foi descoberta pelo navegador genovês Lanzarotto Malocello em 1336. Entre 1730 e 1736 deram-se grandes erupções vulcânicas, que destruíram vilas inteiras, originando uma fuga generalizada da população para as outras ilhas do arquipélago. Para pôr cobro a esta debandada, o rei Filipe V, proibiu o abandono da ilha sob pena de morte. Em 1993, a Unesco, atribuiu a Lanzarote o estatuto de Reserva da biosfera.
(Fonte: Wikipédia)
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Terra, mar e céu no Mirador de Haria. Foto de F.Torres em 2009-Jun-11
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Mirador del Rio, com neblina costeira, não deixando avistar-se a Ilha Graciosa. Foto de F.Torres em 2009-Jun-11

Mirador del Rio, com neblina costeira, não deixando avistar-se a Ilha Graciosa. Foto de F.Torres em 2009-Jun-11

Jameos del Agua. Grutas formadas por correntes de lava. Foto de F.Torres em 2009-Jun-11

Flora autóctone. Foto de F.Torres em 2009-Jun-11

quarta-feira, agosto 19, 2009

E se Obama fosse africano?

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Texto de Mia Couto publicado no semanário "SAVANA" de Moçambique em 18/11/2008

«Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de “nosso irmão”. E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: ”E se Obama fosse camaronês?”. As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1.Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2.Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-lhe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-lhe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente “descobriram” que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado “ilegalmente”. Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um “não autêntico africano”. O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendidado em casa como sendo representante dos “outros”, dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso “irmão” teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada “pureza africana”. Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder — a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos, moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos – as pessoas simples e os trabalhadores anónimos – festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.»

terça-feira, agosto 18, 2009

Outono Precoce

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Manhã cedo nos arredores de Bucelas. Foto de F.Torres em 14 Agosto 2009.

Livro que Acabei de Ler

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Já li A MINISTRA de Miguel Real, que referi no meu post «A Páginas Tantas…» em 13 de Agosto, não me desiludiu, antes pelo contrário, razão porque o recomendo. Sendo a terceira obra de uma tetralogia dedicada ao sexo feminino, é a história de uma mulher, contada através de uma análise introspectiva, em estilo de monólogo, muito concentrado, levado a cabo numa véspera de Natal. Tal exercício de reflexão, auto-avaliação e revisão dos momentos mais determinantes de toda a sua vida, ocorre quando essa mulher está à beira de atingir um alto patamar da missão a que se propôs, isto é, ser premiada, nada mais, nada menos, com a sua indigitação para futura ministra da educação.
Essa mulher é uma criatura com uma infância dramática, a qual deixou marcas profundas na sua personalidade. É uma mulher insignificante, reservada, nada atraente, sovina, insociável, solitária e egoísta, porém, trabalhadora incansável que acredita que tudo se pode resolver com a manipulação dos números e das estatísticas, o que quer dizer, mais coisa, menos coisa, que todas as mentiras e falsificações são desculpáveis, se os seus propósitos forem razoáveis, tese que defende com grande empenho e devoção.
Armada daquelas convicções e referências, que em alguns aspectos exibem um típico cunho fascistóide, actua com prepotência, tanto no meio familiar como profissional, é intransigente, interesseira, calculista, oportunista e manipuladora, e, está determinada a progredir no seu mister de professora, custe o que custar, não como forma de realização pessoal, mas sim como meio de dominação no seu meio, mesmo que para isso tenha que usar as pessoas que a rodeiam, como meros instrumentos, desprezíveis e descartáveis, essenciais para a concretização dos seus desígnios e ambições, num singular aproveitamento da maquiavélica fórmula de que os fins justificam os meios, a que juntava a convicção, que sempre defendeu com tenacidade, segundo a qual o valor das coisas se mede apenas pela sua utilidade prática, rejeitando como supérfluo e inútil tudo o que se possa rotular de actividade intelectual ou espiritual.
Logo no início da obra somos advertidos pelo autor de que a personagem só existe no plano da ficção. Contudo, ao longo das suas 130 páginas, que se lêem de um fôlego, não ficamos indiferentes a certas analogias, pelo que é enorme a tentação de identificarmos a criatura com uma personagem real, sobejamente conhecida, sobretudo da classe docente.
Apesar da textura do discurso ser densa, não linear, com recurso a grande abundância de «flash-back», o conteúdo é sólido, está muito bem estruturado e muito bem escrito. Curiosa coincidência, ou talvez não, o autor deu como terminada a redacção do romance a 1 de Abril de 2009, dia do ano que, habitualmente, é associado com as mentiras.

segunda-feira, agosto 17, 2009

… ele é maluco!

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Passo a transcrever três passagens da entrevista concedida por Pedro Ferraz da Costa, ex-presidente da Confederação da Indústria Portuguesa e actual presidente do Fórum para a Competitividade, ao suplemento de Economia do semanário EXPRESSO de 15 de Agosto de 2009.

P - Os nossos governantes são maus?
R – Temos uma classe política e nalguns casos até governantes, onde se inclui o ex-ministro da Economia (Manuel Pinho), que não têm conhecimento da realidade. Qualquer pessoa com conhecimentos em negócios internacionais percebe que fazer uma oficina com um único fornecedor e um único cliente não podia dar resultado. Ao ministro da Agricultura (Jaime Silva) tenho-o ouvido dizer coisas espantosas como, por exemplo, que a crise ainda não tinha chegado ao sector. Ele não servia nem para director-geral…

P – Não lamenta o episódio que levou à demissão de Manuel Pinho?
R – Ninguém teve pena. Toda a gente sabe que ele é maluco. O papel do ministro da Economia é “safar postos de trabalho”, como ele disse?

P – O que pensa do TGV e do novo aeroporto?
R – Ninguém pode ser a favor do TGV, cujo único objectivo deve ser ir a Madrid ver o Ronaldo… Há anos que se tenta destruir a viabilidade do aeroporto da Portela. Não se avaliam os investimentos que são feitos, quanto se gasta. Rouba-se muito. O país não tem dimensão para se roubar tanto.

Sem comentários!

domingo, agosto 16, 2009

Optimismo Eleitoral

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Excerto da notícia do Jornal PÚBLICO de 15 de Agosto de 2009, da autoria do jornalista João Ramos de Almeida, com o título «Desemprego atingiu novo recorde no segundo trimestre de 2009».

...«O primeiro-ministro José Sócrates sublinhou que o desemprego "subiu menos do que se esperava". "Estamos ainda a enfrentar uma fase difícil de crescimento de desemprego, embora seja agora mais atenuado, o que corresponde a uma certa recuperação também da nossa economia", disse ainda. O ministro do Trabalho e coordenador da campanha do PS às próximas eleições legislativas bateu na mesma tecla ao sublinhar a recuperação da economia e a importância das medidas adoptadas. José António Vieira da Silva arriscou mesmo uma previsão: "Estou convencido que (...) não vamos atingir valores de dois dígitos de desemprego". Ou seja, de acordo com o perfil da população activa, o número de desempregados nunca ultrapassará um intervalo entre 550 mil e 570 mil desempregados nos próximos dois anos.»...

Entretanto, também pelo Jornal PÚBLICO de 15 de Agosto de 2009, sabemos que Francisco Lopes, Deputado do PCP, contrariou este optimismo dizendo que «os números são de uma enorme gravidade e desmentem toda a propaganda do Governo, designadamente a que foi promovida pelo primeiro-ministro a propósito da situação económica". Esta é a primeira vez que se ultrapassa a barreira dos 500 mil desempregados, "no sentido estrito", mas, "no sentido lato e mais real", o desemprego atinge mais de 635 mil pessoas, o nível mais elevado desde o 25 de Abril de 1974.»

Sem comentários!

sábado, agosto 15, 2009

Lua de Agosto

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Na noite de 6 de Agosto de 2009 esta Lua Cheia surgiu no horizonte, encharcando a lezíria ribatejana de reflexos prateados. Foto de F.Torres.

quinta-feira, agosto 13, 2009

A Páginas Tantas…


Transcrevo a seguir uma curta passagem do último livro de Miguel Real, intitulado A MINISTRA, editado pela Quidnovi, que é de uma oportunidade atroz. Ao ler estas linhas, as perguntas que ficam a pairar no nosso espírito são sempre as mesmas: Mas onde é que eu já vi isto? Será que é ela?

"Tenho quatro anos para fazer boa figura, pôr a escola portuguesa na Europa, onde ninguém reprova e todos caminham para um mínimo de cultura geral, mais não é preciso, chega, para o vulgo suburbano basta, a pesquisa na Internet preenche as falhas educativas, gerando uma ilusão de sabedoria para o novo habitante urbano, moldado pelo facilitismo e pela vulgaridade (...), é preciso revolucionar o ensino, dar ao povo o que o povo quer, um nico de cultura, um nico de ciência, umas palavritas de inglês, muita informática, chega, basta, um canalizador ou uma recepcionista de balcão não precisa de mais, é preciso harmonizar o ensino com o povo bárbaro que temos (...) facilitar a vida aos mais novos, empurrando-os para a passagem de ano, todos os anos, criar uma segunda oportunidade aos mais velhos, fazer equivaler a experiência de vida destes aos graus de ensino, basta um dossier com toda a informação, mais uma entrevista, pronto, todo o povo passa a ter o 12.º ano, ficam resolvidos os problemas da formação, acabar com o abandono escolar anulando os programas difíceis, no final dos meus quatro anos as estatísticas na educação têm de ser iguais às da Alemanha (...); a todos farei ver que sem mim o povo não teria o que passará a ter, domínio da informática, conhecimentos de inglês, agilidade mental para se safar na vida, para que precisa o povo de saber os sonetos do Antero ou a prosa do Eça?"...

A minha curiosidade ficou ao rubro. Passe a publicidade, aqui vai a respectiva Ficha Técnica:
Título: A ministra
Autor: Miguel Real
Editor: Quidnovi
Data: Junho de 2009
Tema: Literatura Portuguesa
Dimensão: 150 x 230 milímetros
Páginas: 144
Acabamento: Capa mole com badanas
PVP: 12,95 euros

O Destino do Timoneiro

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Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, escreveu (terá sido mesmo ele?) um texto que não é mais do que um exercício de descarada propaganda política, que a direcção do JORNAL DE NOTÍCIAS, reverente e obedientemente deixou publicar, como se de um artigo de OPINIÃO se tratasse.
Fazer um exame ao dito, parece-me uma perda de tempo, atendendo a que é um vazio, sobretudo de ideias, acrescido de algum «copy-past» da habitual cassete socretina. Porém, não resisto a realçar dois ou três pontos:
O primeiro-ministro, que por coincidência também é o secretário-geral do PS volta a repetir-se com a desculpa do espectro da crise que veio de fora, recusando-se a admitir que há uma crise indisfarçável e genuinamente portuguesa, que ele despreza e olha de soslaio, remediando-a com muita propaganda e conversa fiada, sem fim à vista. Diz mesmo, com a lábia do costume, que neste momento de crise mundial, os Portugueses precisam de um Governo competente, com um rumo claro, uma agenda conhecida e condições de coerência e estabilidade. Até Campos e Cunha, o seu ex-ministro das Finanças, veio contradizê-lo, dizendo em entrevista que a governação daquele senhor foi tecnicamente errada e arrogante, que as políticas seguidas de combate à crise lhe parecem desajustadas, e as medidas para o período pós-crise ainda mais desajustadas. Diz mesmo que a crise não explica tudo, e que a crise internacional funciona como uma espécie de cortina de fumo sobre as nossas debilidades. Quando aquela acabar, a crise nacional vai ressurgir, exacerbada por algumas medidas erradas de política contra a crise.
Indiferente a isto e outras coisas, o primeiro-ministro, que por coincidência também é o secretário-geral do PS, está agora mais empenhado em reposicionar-se à esquerda no cenário político português, vincando as diferenças entre a sua governação e as que foram levadas a cabo pela direita, quando essas dissemelhanças apenas divergem na forma e não nos objectivos, sendo que, praticamente, quase nada as distingue.
O primeiro-ministro, que por coincidência também é o secretário-geral do PS, insiste nessa tecla e diz que não pertence àquela esquerda que se limita a protestar (isto é puro logro ou falta de informação), dispensando-se da maçada de contribuir para a solução de qualquer problema, mas sim daquela que quer responder aos problemas e às necessidades das pessoas, com base num novo compromisso, que na minha opinião não passa do velho compromisso, porém recauchutado. Além disso, e na verdade, ele não é um homem de esquerda; diz e finge que é qualquer coisa, desde que essa qualquer coisa o mantenha agarrado ao poleiro, seja ele que poleiro for.
Ora o primeiro-ministro, que por sinal também é o secretário-geral do PS, não pode tratar o país como se fosse um grupo de patetas, comportando-se como se tivesse chegado agora, inocente e imaculado, à ribalta do poder, e voltar a prometer, como se fosse uma cópia a papel químico, aquilo que já prometeu uma vez, e que entretanto não cumpriu (ou cumpriu ao contrário).
É habitual dizer-se que os políticos (quando o são), depois de uma má experiência, estão destinados a fazerem uma travessia do deserto (em sentido figurado, claro está!) para reflectirem e se purgarem dos erros cometidos, e deixarem que a sua imagem negativa se dissipe perante a opinião pública, esse alvo que os profissionais do marketing político tanto se esforçam por manipular. Sócrates na sua infinita arrogância, auto-convencimento e vocação para o embuste, não sei se conseguirá fazer essa jornada, porque no seu caso, e não vem agora para o caso referir todas as causa, ele terá que atravessar, não um, mas vários desertos.
Por isso, o eleitorado vai ter que dizer a este senhor, com muita convicção e determinação, que este país não quer ser uma jangada meio desconjuntada ao sabor das correntes, e que José Sócrates, o seu suposto, querido, enérgico e destemido timoneiro, é perfeitamente dispensável.

quarta-feira, agosto 12, 2009

26 MEDIDAS URGENTES

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O Programa Eleitoral do PCP propôs 26 MEDIDAS URGENTES para irem ao encontro das necessidades do país e dos portugueses. São elas:

1. Alargamento dos critérios de acesso e prolongamento do período de atribuição do subsídio de desemprego;
2. Aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) para pelo menos 600 euros até 2013;
3. Alteração dos aspectos negativos do Código do Trabalho (designadamente o restabelecimento do efectivo direito à contratação colectiva) e da legislação laboral da Administração Pública;
4. A fiscalização rigorosa do recurso ao lay-off combatendo a violação dos direitos dos trabalhadores e a redução dos salários;
5. Adopção de um Programa Nacional de combate à precariedade e ao trabalho clandestino;
6. Reposição do vínculo de nomeação público e alteração do Sistema de Avaliação e Desempenho dos trabalhadores da Administração Pública ;
7. Revogação do estatuto da carreira docente e alteração do modelo de avaliação;
8. Aumento real das pensões e reformas, revogação das normas penalizadoras do seu valor (factor de sustentabilidade e fórmula de actualização anual) e diversificação do financiamento da segurança social com base na riqueza criada;
9. Salvaguarda do direito à reforma aos 65 anos e possibilidade da sua antecipação sem penalizações para carreiras contributivas de 40 anos;
10. Distribuição gratuita dos manuais escolares para todo o ensino obrigatório, já a partir do próximo ano lectivo;
11. Revogação da Lei do Financiamento do Ensino Superior;
12. Programa para garantir o acesso à consulta no próprio dia nos Cuidados Primários de Saúde, incluindo medidas especiais para a formação e contratação de médicos de medicina geral e familiar ;
13. Alargamento dos critérios de atribuição do apoio judiciário e gratuitidade do acesso dos trabalhadores à justiça laboral;
14. Reforço dos efectivos e meios para um policiamento de proximidade e uma política de segurança com mais prevenção;
15. Redução da factura de energia – electricidade, gás e combustíveis – para famílias e empresas;
16. Garantia de um rendimento mínimo nas explorações agrícolas familiares e unidades de pesca artesanal, pela criação de adequado seguro às suas actividades;
17. Eliminação do pagamento especial por conta (PEC) para as micro e pequenas empresas e redução dos prazos de reembolso do IVA;
18. Taxação de todas as mais valias bolsistas e criação do imposto sobre o património mobiliário (acções, obrigações, etc.);
19. Imposição de uma taxa mínima efectiva de IRC de 20% ao sector financeiro, banca e seguros;
20. Criar o Laboratório Nacional do Medicamento e incrementar a produção nacional;
21. Garantir a produção nacional de material ferroviário (em particular material circulante) nomeadamente com a mobilização de incentivos em torno de investimento em curso na ferrovia;
22. Estabelecimento de valores referência das taxas de juro, margens (spreads) e comissões da Caixa Geral de Depósitos para um funcionamento adequado do mercado de crédito;
23. Pagamento a 100% da remuneração nas licenças de maternidade, paternidade e adopção para os trabalhadores da Administração Pública e sector privado e atribuição de um subsidio de nascimento ou adopção nos primeiros doze meses:
24. Profunda revisão das políticas económica e monetária da UE com substituição do Pacto de Estabilidade e Crescimento e sua substituição por um Pacto para o Progresso Social e para o Emprego ;
25. Aumento da dedução específica aos rendimentos do trabalho dependente de 72 para 80% do salário mínimo nacional;
26. Revogação do actual Regulamento Disciplinar Militar .

Nota pessoal - Chamem-lhe o que quiserem, mas insisto que a medida mais coerente e eficaz que se poderia tomar para enfrentar a presente crise (e não só!), seria a de proceder à nacionalização da banca comercial, como forma de ultrapassar as dificuldades de crédito que as empresas estão a enfrentar, devolvendo ao Estado poder de intervenção e regulação da actividade económica.

Coelhos e Cartolas

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Desde meados do ano passado que a grande preocupação de José Sócrates tem sido descartar responsabilidades e transferir para a crise internacional, o mau desempenho que ele manifestou, ao longo de 4 anos e meio de governação. Na verdade, aquela crise internacional acabou mesmo por vir a calhar, na medida em que permitiu transformá-la, com alguma arteirice, na única e exclusiva responsável pela crise nativa, a qual já era genuinamente portuguesa e muito mais antiga que a dita internacional, e que o Governo PS, apesar das promessas e da escassa competência, não havia conseguido debelar. Como somos todos estrábicos e patetas, pensaram os senhores do Governo e os seus assessores de marketing político, que se esse falso argumento fosse repisado até à náusea, acabaria por se tornar uma verdade incontestável, tal como agora volta a acontecer no Programa de Governo do PS para 2009/2013, onde a inverdade é novamente repetida, com a mesma audácia argumentativa e sem o mínimo vestígio de humildade. Recapitulemos e vejamos o que eles lá dizem:

«É certo que a emergência em 2008 daquela que é a maior crise económica mundial desde a célebre Grande Depressão de 1929 afectou o desempenho económico de todos os países e, inevitavelmente, também da economia portuguesa, com efeitos particularmente preocupantes ao nível do desemprego.É certo, igualmente, que este facto tem sido explorado pelos “profetas da desgraça” para exibirem os indicadores negativos da conjuntura económica portuguesa, como se eles fossem culpa do Governo e pudessem apagar os progressos que o País, de facto, alcançou.Mas não é sério, obviamente, atribuir ao Governo português responsabilidades pela evolução negativa de indicadores económicos que se sabe serem fortemente determinados pela crise económica internacional, nem é falar verdade aos portugueses pretender negar a evidência da gravidade desta recessão mundial como se ela não fosse mais do que um “abalozinho”.Sobretudo, para ser verdadeiro e justo para com o esforço dos portugueses, importa reconhecer que o País, de facto, progrediu nos últimos quatro anos e está hoje melhor preparado para enfrentar os desafios do futuro. E isto em larga medida porque, apesar de todas as dificuldades que foram surgindo ao longo da legislatura, o Governo do PS soube prosseguir, com coragem e determinação, uma governação responsável, reformista e com consciência social.»

Ora, se no ilusionismo é possível tirar coelhos de cartolas, na política isso é impossível, e a realidade dos factos desmente a rósea argumentação do programa do PS. A patética obsessão do governo com a redução do défice orçamental, a preocupação em hostilizar vários sectores sócio-profissionais, o agravamento da carga fiscal a que foi sujeito o país, em contraste com a despudorada protecção do sector financeiro, a doentia preocupação com a manipulação dos números e a invenção de expedientes para sanear as estatísticas, a incompetência, o desprezo e a leviandade que assumiu, perante os sinais e advertências que se iam acumulando, sobre a inevitabilidade da crise mundial, bem como a ausência de medidas que funcionassem como amortecedores da mesma, levou a que os problemas estruturais do país não fossem solucionados, antes se agravassem, deixando o país mais fragilizado, a perder espessura, perante as ondas de choque que começaram a atingir-nos em princípios de 2008. Em resumo, foram 5 por cento de governação de péssima qualidade, e 95 por cento de encenação e exímia propaganda, cujo resultado são estas nódoas da governação de José Sócrates, tão difíceis, persistentes e profundas, que resistem a qualquer barrela ou branqueamento que o PS lhes tente aplicar.Com dois milhões de pobres, mais de meio milhão de desempregados, com uma classe média empobrecida, com as insolvências a alastrarem pelo tecido económico a um ritmo impressionante, com o endividamento externo a atingir valores calamitosos, e o país no seu todo a divergir cada vez mais dos parâmetros europeus, tudo isto para pouco mais de dez milhões de portugueses, é impressionante como nos querem fazer crer que não andaram a governar à bolina, mas que, pelo contrário, tudo isto são prodígios de uma boa e honesta governação, que para se afirmar e ter continuidade, apenas precisa da compreensão e do renovado apoio dos eleitores! Ora bem, por mim fiquei esclarecido e não precisam de dizer mais nada, pois aquele programa não é para ser tomado a sério, e o que os candidatos andam a papaguear, não passam de fórmulas de ocasião, para se furtarem ao juízo dos eleitores. Na primeira todos caem, na segunda só cai quem quer.

terça-feira, agosto 11, 2009

Fortalecer, Aprofundar e Alargar…

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… as nossas relações bilaterais, eis as três palavras mágicas, pronunciadas pela Secretária de Estado dos E.U.A., Hillary Clinton, nesta sua visita a Angola, e que para bom entendedor, só querem dizer três coisas: PETRÓLEO! PETRÓLEO! PETRÓLEO!

O Comboio Errado

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Cipriano Justo no seu post intitulado REAL STATE, de 8 de Agosto ( nos blogs do PÚBLICO
), fez duas afirmações que me deixaram entre confundido e incrédulo. A primeira é ao afirmar que «...um partido político não se identifica exclusivamente pela política que conjunturalmente pratica; um dos critérios que nunca poderá ser omitido na sua caracterização é o bloco social que o apoia eleitoralmente.». Então se não é na sua prática política, mesmo que conjuntural, é em quê?
Ora se os partidos políticos se qualificam e distinguem pela adesão que recebem de certos grupos da sociedade civil, a qual constitui a sua base social de apoio, e se essa adesão é determinada pela prática política que o partido assume no contexto da vida nacional, o que é que faltará para marcar as diferenças e os identificar?
Será o cumprimento ou não dos compromissos eleitorais?
Será o acerto ou desacerto entre o programa e a prática política?
Será a transparência ou opacidade com que actua na cena política?
Será a idoneidade ou não dos seus dirigentes?
A segunda tem a ver quando Cipriano Justo diz que «O facto de o governo de José Sócrates ter realizado uma política que em nada envergonharia um governo de direita não é a mesma coisa que dizer que PS e PSD são farinha do mesmo saco.». Cabe aqui deixar mais duas perguntas:
Será então que PS e PSD andam «só» a fazer concorrência um ao outro?
Ou será que o PS apanhou, por engano ou distração, o comboio errado?
E já que Cipriano Justo também fala de entendimentos políticos, será talvez conveniente lembrar que há uma coisa que se chama confiança, que se baseia em princípios, na coerência e na ética política, e é sempre ela que determina a viabilidade das alianças ou coligações que os partidos possam fazer entre si. Eu só faço sociedade com alguém que tenha, mesmo que conjunturais, os mesmos objectivos e interesses que eu, tal como o senhor prior da minha freguesia, lá por se ter empenhado em salvar a alma do Simão Pilha-Galinhas, quase de certeza que não o vai acompanhar, no próximo assalto que ele anda a congeminar.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Mais Lugares (Madeira)

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Ilhéu da Forja, frente à cidade do Funchal. Foto de F.Torres em 2009-Jun-12
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Curral das Freiras. Ilha da Madeira. Fotos de F.Torres em 2009-Jun-12
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Curral das Freiras. Ilha da Madeira. Fotos de F.Torres em 2009-Jun-12
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Cabo Girão (alt. 580m). Ilha da Madeira. Foto de F.Torres em 2009-Jun-12
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Flora autóctone. Ilha da Madeira. Foto de F.Torres em 2009-Jun-12

domingo, agosto 09, 2009

RAP, Tira, Põe e Deixa

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Com o título de «Chefes & índios», transcrevo o artigo de opinião de Manuel António Pina, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 2009-Ago-6. O título do post é da minha autoria.

«Não é nada que surpreenda no processo orwelliano que vem, a vários títulos, sendo a reforma da Administração Pública [RAP]: soube-se ontem que, para o Governo e para a Reforma, todos os funcionários públicos são iguais mas uns são mais iguais que outros.
Assim, os funcionários (4.500, contas por baixo) que enxameiam os ministérios por nomeação política estão, ao contrário dos que chegaram aos cargos por mérito demonstrado em concurso público, isentos de avaliação de desempenho e podem progredir na carreira e no salário pelo ominoso método tantas vezes desancado pelo actual Governo: a idade e o tempo de serviço, isto é, basta-lhes deixar passar o tempo e envelhecer atrás das secretárias para serem promovidos. Segundo a Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), o Governo visa, desse modo, "premiar" as responsabilidades de chefia. Daí se concluirá que, sendo a não avaliação um "prémio" aos chefes nomeados politicamente, a avaliação é o "castigo" para os índios sem cartão partidário. E que, excepção atrás de excepção, a famosa reforma da Administração Pública se tornou uma coboiada.»

sábado, agosto 08, 2009

Escrutinar Idoneidades e Competências

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Com o título de «Diferenças», transcrevo o artigo de opinião de Mário Crespo, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 2009-Ago-3. O título do post é da minha autoria.

«Assistir ao duríssimo questionamento da comissão de inquérito senatorial nos Estados Unidos para a nomeação da juíza Sónia Sottomayor para o Supremo Tribunal é ver um magnífico exercício de cidadania avançada. Não temos em Portugal nada que se lhe compare. Se os nossos parlamentares tivessem a independência dos congressistas americanos, Cavaco Silva nunca teria sido presidente, Sócrates primeiro-ministro, Dias Loureiro Conselheiro de Estado, Lopes da Mota representante de Portugal ou Alberto Costa ministro da Justiça. O impiedoso exame de comportamentos, curricula e carácter teria posto um fim às respectivas carreiras públicas antes delas poderem causar danos.

Se a Assembleia da República tivesse a força política do Senado, os negócios do cidadão Aníbal Cavaco Silva e família, com as acções do grupo do BPN, por legais que fossem, levantariam questões éticas que impediriam o exercício de um cargo público. Se o Parlamento em Portugal tivesse a vitalidade democrática da Câmara dos Representantes, o acidentado percurso universitário de José Sócrates teria feito abortar a carreira política. Não por insuficiência de qualificação académica, que essa é irrelevante, mas pelo facilitismo de actuação, esse sim, definidor de carácter.

Do mesmo modo, uma Comissão de Negócios Estrangeiros no Senado nunca aprovaria Lopes da Mota para um cargo em que representasse todo o país num órgão estrangeiro, por causa das reservas que se levantaram com o seu comportamento em Felgueiras, que denotou a falta de entendimento do procurador do que é político e do que é justiça. Também por isto, numa audição da Comissão Judicial do Senado, Alberto Costa, com os seus antecedentes em Macau no caso Emaudio, nunca teria conseguido ser ministro da Justiça, por pura e simplesmente não inspirar confiança ao Estado.

Assim, se houvesse um Congresso como nos Estados Unidos, com o seu papel fiscalizador da vida pública, por muito forte que fosse a cumplicidade dos afectos entre Dias Loureiro e Cavaco Silva, o executivo da Sociedade Lusa de Negócios nunca teria sido conselheiro presidencial, porque o presidente teria tido medo das cargas que uma tal nomeação inevitavelmente acarretaria num sistema político mais transparente. Mas nem Cavaco teve medo, nem Sócrates se inibiu de ir buscar diplomas a uma universidade que, se não tivesse sido fechada, provavelmente já lhe teria dado um doutoramento, nem Dias Loureiro contou tudo o que sabia aos parlamentares, nem Lopes da Mota achou mal tentar forçar o sistema judicial a proteger o camarada primeiro-ministro, nem Alberto Costa se sentiu impedido de ser o administrador da justiça nacional em nome do Estado lá porque tinha sido considerado culpado de pressionar um juiz em Macau num caso de promiscuidade política e financeira. Nenhum destes actores do nosso quotidiano tinha passado nas audições para o casting de papéis relevantes na vida pública nos Estados Unidos. Aqui nem se franziram sobrolhos nem houve interrogações. Não houve ninguém para fazer perguntas a tempo e, pior ainda, não houve sequer medo ou pudor que elas pudessem ser feitas. É que essa cidadania avançada que regula a democracia americana ainda não chegou cá.»

sexta-feira, agosto 07, 2009

Deserto de Promessas

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Com o título de «A demagogia chega às crianças!», transcrevo o artigo de opinião de Honório Novo, publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS de 2009-Ago-3. O título do post é da minha autoria.

«Depois de divulgar as orientações, o PS apresentou agora os detalhes do seu Programa Eleitoral. No entanto, e apesar do esforço mediático, o tema não teve o eco que o PS esperaria na opinião pública. Para além dos habituais especialistas - tantas vezes encomendados para amplificar temas - a maioria reagiu com indiferença ao programa do PS porque sabe bem que o que lá está escrito não é para levar a sério. O tema que tomou a dianteira foi até a telenovela mexicana entre uma ex-dirigente do BE e o seu amigo Secretário de Estado. Deste pingue-pongue nada ético entre BE e PS fica clara a convicção que ambos escondem coisas e não contaram a história toda.

O que o PS anuncia de novo é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Nem o empenho de Sócrates no cheque poupança de 200 euros para cada bebé convence já a opinião pública. O País está farto destes truques propagandísticos, identifica-os já muito bem. O País sabe que as crianças precisam é de pais com emprego estável e salários dignos para alimentarem e educarem os filhos. Em vez de 200 euros para a banca gerir durante dezoito anos, seria mais útil que o abono de família crescesse para os pais comprarem fraldas quando são precisas...

Também não há Expresso da Meia-Noite que transforme as propostas fiscais do PS em algo de que valha a pena falar. Mesmo contra os desmentidos, diz-se que o PS voltará a aumentar impostos para quem já muito paga e pouco ganha. O que o PS não vai fazer é introduzir mais justiça no sistema fiscal: não vai impedir que a banca continue a pagar de IRC 15% quando as micro empresas pagam 25%; não vai eliminar o pagamento especial por conta, introduzir o IVA de caixa, ou eliminar os benefícios fiscais no off-shore da Madeira. E quanto às deduções, será que o Governo vai explicar porque votou há um mês atrás contra o aumento das deduções de saúde e de educação para os escalões mais baixos de IRS?»

quinta-feira, agosto 06, 2009

Ironia Espanhola

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Referência do jornal espanhol La Vanguardia aos cartazes do PSD, em 5 de Agosto de 2009

«Mención especial merecen los carteles de Ferreira Leite que jalonan las carreteras portuguesas. "Não desista. Todos somos precisos", reza. Pero la desolada foto en blanco y negro de la candidata, sin maquillar, podría hacer pensar a los turistas que visitan el Algarve que se trata del mensaje de una asociación de apoyo a la tercera edad o de prevención del suicidio.»

Jordi Joan Baños,
La Vanguardia


Política com Recheio de PINHO

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Diz o JORNAL DE NEGÓCIOS que quase um mês depois de se ter demitido, Manuel Pinho regressou à actualidade mediática por iniciativa de empresários de Ovar que terça-feira [4-Ago-2009] organizaram um jantar de homenagem ao ex-ministro da Economia. Manuel Pinho não quis falar do episódio que o levou a sair do Governo, mas fez questão de dizer que não tem saudades, e da maneira como se faz política em Portugal não tem rigorosamente saudades.
Fica por esclarecer se estava a referir-se à situação em que encontrou a política portuguesa, quando assumiu a pasta de ministro da Economia, ou se ao estado comatoso em que a deixou, após os seus quatro anos de permanência na equipa de Sócrates, e depois dos seus insuperáveis e talentosos contributos, para a qualidade dessa mesma política

quarta-feira, agosto 05, 2009

Sócrates Agradece!

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MUITO EMBORA não esteja particularmente interessado com aquilo que acontece nas estruturas dos partidos, nomeadamente no PSD, dado serem questões do «foro íntimo» dos mesmos, mas não sendo insensível a isso, neste caso particular da escolha de candidatos às próximas eleições legislativas, acho que Manuela Ferreira Leite não deu um tiro no pé. Foi bem mais longe. Deu um tiro na cabeça. Sabendo ela que tem vindo a crescer, no seio do eleitorado português, uma unânime condenação e rejeição da corrupção e de uma vasta gama de outros delitos, que mancham a idoneidade dos políticos, e que tal pode vir a constituir uma arma política nada desprezível, é no mínimo estranho que a D. Manuela esteja disposta a desbaratar o capital político ganho nas últimas eleições europeias, impondo ao seu partido candidatos na situação de arguidos, e em vésperas de terem que responder perante a justiça, desprezando os estragos e a erosão que essa atitude possa provocar no seio do partido, e os reflexos que certamente irá ter nos resultados eleitorais. Como é óbvio, Sócrates e o PS, rejubilam e agradecem reconhecidos.

Lugares e Labores

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Saída para a faina ao fim da tarde. Porto do Funchal. Foto de F.Torres em 2009-Jun-12

terça-feira, agosto 04, 2009

Livros que Ando a Ler


HENRIQUE TENREIRO – uma Biografia Política” da autoria de Álvaro Garrido. Temas e Debates - Círculo de Leitores. 2009.

É uma biografia não só do homem, mas também uma história do complexo subsistema que ele criou, a partir de Junho de 1936, na qualidade de Delegado do Governo junto do Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau, e da vasta rede de organismos corporativos, que ao longo do tempo foram surgindo, passando a gravitar à volta da organização das pescas portuguesas. Indefectível salazarista, deputado da União Nacional, empenhado dirigente da Legião Portuguesa e da sua Brigada Naval, foi também um arrebatado organizador de grandes eventos, desfiles e manifestações pró-regime, as quais encabeçava com garbo e volúpia. No entanto, foi na reorganização e fomento das pescas em Portugal, sobretudo a do bacalhau, dentro do quadro do apertado sistema corporativo, durante toda a vigência do Estado Novo, e que se manteve até à revolução de 25 de Abril de 1974, após a qual foi desmantelado, que o almirante Henrique Tenreiro mais se destacou. Sagaz, intuitivo, voluntarioso, ambicioso, oportunista e orgulhoso da sua obra, numa pertenceu à elite política do regime, muito embora fosse considerado seu símbolo e guardião. No entanto, sem nunca ter desempenhado nenhum cargo governativo, Henrique Tenreiro foi talvez um dos homens do antigo regime que mais poder concentrou nas suas mãos, gozando de uma invulgar autonomia, facto que continua a constituir um enigma, dado que Salazar fazia questão de manter, mesmo os homens do seu círculo, com responsabilidades governativas ou administrativas, sob apertada vigilância e com rédea curta. Nesta conformidade, sendo Henrique Tenreiro senhor de uma inexcedível capacidade de trabalho e iniciativa, aliada ao facto de ser detentor dessa impar liberdade de movimentos e concretização de projectos, amado por uns e odiado por muitos mais, acabou por erigir um estado, melhor dizendo, quase um império (a Organização das Pescas) dentro do próprio estado (o Estado Novo), feito à medida das suas ambições e vaidades, e mantido à custa de uma complexa rede de amizades e fidelidades, onde sobressaiam homens como Ortins de Bettencourt, Nuno Teotónio Pereira e Américo Rodrigues Tomás.
Em suma, e tal como diz nas conclusões o seu biógrafo, o historiador e investigador Álvaro Garrido, «mais do que definir este homem singular e vibrante, que se salientou nos teatros políticos do seu tempo – no palco firme do Estado Novo salazarista – importa discutir a natureza do poder que ele construiu e exerceu, pergunta principal desta biografia». Se era essa a sua intenção, então o autor conseguiu-o, plenamente e com distinção.
Sendo Álvaro Garrido um catedrático que se tem dedicado, sobremaneira, à história das pescas em Portugal e de toda a sua envolvente, esta biografia de Henrique Tenreiro, também conhecido por “Patrão das Pescas”, acaba por surgir como uma consequência, ou melhor, um reforço, do trabalho que o historiador tem desenvolvido nesta área específica, e que só muito recentemente tem sido objecto de mais atenção e aprofundado estudo.

segunda-feira, agosto 03, 2009

Livros que Ando a Reler

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Para aguçar o apetite, transcrevo alguns parágrafos do prefácio da obra “HISTÓRIA GERAL DO DIABO da Antiguidade à Época Contemporânea”, da autoria de Gerald Messadié. Publicações Europa-América. 2001.
“…
O Diabo existe? Quando se pretende pôr uma questão tão ambiciosa, recomenda-se modéstia. Cristão católico, sofri na minha infância diversas tentativas familiares, escolares e depois mais difusas, para me convencerem disso.

Durante a minha educação religiosa, junto dos padres jesuítas, [o Diabo] era chamado Satanás, o que não quer dizer nada, pois a palavra, que deriva do árabe “chitan”, quer dizer simplesmente “diabo”, e era peremptoriamente declarado que ele tinha sido um anjo colocado junto de Deus até ao momento em que, cedendo à tentação do orgulho, se rebelou contra o seu senhor, arrastando alguns outros espíritos maus na sua queda. A tentação? Mas então esta já existia antes dele, objectava eu, e o Mal era anterior a ele. Como é que isso podia acontecer se era ele o suposto inventor do Mal? A argumentação exasperava o padre Vrégille, que me acusou, no relatório trimestral, de ser um espírito mau. Até hoje, meio século mais tarde, a questão continua de pé.

É claro que tentaram, ao longo dos anos, e perante o meu cepticismo, face ao Diabo, arrastar-me para a Teologia. Era preciso que Deus tivesse o seu simétrico, sem o qual seria necessário atribuir-lhe os males da Humanidade. Belo tipo de raciocínio indutivo. Então, Deus não era Todo-Poderoso sobre a Terra? Sim, mas ele fazia intervir a vontade dos homens: cabia a estes defenderem-se da tentação. Muito bem, mas então, a morte de crianças por doença? Quanto a isso, tratava-se dos impenetráveis desígnios do Criador. Mas se os desígnios do Criador eram impenetráveis e recobriam também os domínios do Mal, então talvez o resto dos males da humanidade procedessem d’Ele? Blasfémia! Os padres admoestaram-me. «Rende-te aos mistérios da fé!». Eu bem gostaria, mas então porque é que o Criador me tinha dotado de razão? Não era para que eu me servisse dela?

O mais impressionante nestes arrebatamentos retóricos era que os homens políticos tinham cedido à mais frequente das tentações, não do Mal, mas do espírito pré-lógico, que é o de focalizar o Mal. E logo, de o definir.
Pois a partir do momento em que se definiu o Mal, que se o nomeia, portanto, que se lhe atribui um representante titulado, acaba-se por ceder à tentação de o localizar, e, feito isto, o único objectivo que se impõe a partir de então é a sua destruição. Reagan apelava assim à destruição do Irão [como sendo o Império do Mal], e Khomeini à dos Estados Unidos [como personificando o grande Satã];
…”
Depois do regalo que é este prefácio, que aconselho seja lido na sua totalidade, a restante obra traça o perfil, ao longo de todas as coordenadas, tanto temporais como geográficas e culturais, daquela pérfida entidade que sempre tem estado, mais ou menos presente no espírito e na boca da Humanidade, e que entre outros, dá pelo nome de Satanás. Ler esta obra é um mergulho na maldade, nas suas origens, na sua essência, nos seus preceitos, crenças e formas, enquanto antítese daquilo que se entende por bem ou virtude. Entretanto, quanto ao perverso e hediondo Satanás, há quem diga que foi uma invenção bem urdida, que já vem do princípio dos tempos, destinada a perpetuar o poder dos feiticeiros, sacerdotes e papas, sobre os seus tementes e apavorados rebanhos de crentes. Esta HISTÓRIA GERAL DO DIABO se não tira isso a limpo, andará lá perto.

domingo, agosto 02, 2009

Naquele Dia, Afinal…

ESTAVA EU no passado dia 17 de Julho, em amena cavaqueira com o meu amigo Carlos MN, frente a uns nacos de leitão, acompanhados de um simpático espumante rosé, quando ao tentar avivar memórias passadas lhe perguntei:
- Lembras-te, quando estávamos no 2.GCAM, à espera de transporte para África, daquela noite que passámos na messe, o célebre dia 21 de Julho que se comemora já para a semana, a assistir, pela noite dentro, à alunagem da Apollo 11?
- Oh, se me lembro, retorquiu ele. Passámos o tempo a caturrar, a propósito de livros, de música e outras coisas, ao mesmo tempo que íamos seguindo a reportagem em directo, com aqueles bips em fundo, e o diálogo fanhoso dos astronautas e dos controladores em Houston.
- Pois foi, e se lá pernoitámos no quartel foi porque tínhamos um qualquer serviço para cumprir de madrugada, talvez chefe de viatura para ir distribuir o pão pelos conventos e quartéis de Lisboa e arredores, sargento de dia, de piquete, ou qualquer outra coisa, eu sei lá, isso já não me lembro, acrescentei eu. - Prometo-te que vou contar isso no meu blog, pois tenho a coisa presente como se fosse hoje.
Regressado a casa comecei a alinhavar o texto, porém, nestas coisas, como não prescindo de ser rigoroso (porque a memória também nos atraiçoa), fui consultar a minha velha caderneta militar e constatei que as datas de apresentação e permanência no 2.GCAM não coincidiam com as nossas recordações. Feitas as respectivas consultas e pesquisas, acabei por enviar ao meu amigo Carlos um e-mail que rezava mais ou menos assim:
Caro CARLOS:
Vou repor a verdade. Depois de consultar a minha “viuvinha” concluí o seguinte: se está lá nos assentos que fui transferido para o 2º. GCAM em 29 de Setembro de 1969, para vir a embarcar rumo a Angola (eu no "PÁTRIA" em 14 de Fevereiro de 1970, tu no “VERA CRUZ” algum tempo depois), nunca podia ter assistido contigo à alunagem da Apollo 11 em 21 de Julho de 1969, pois além de ainda não ter sido transferido para aquela unidade, nem sequer nos conhecíamos. Portanto, depois de uma pesquisa às datas das subsequentes missões Apollo, concluí que a alunagem que testemunhámos, foi mais exactamente a da Apollo 12, que ocorreu quatro meses depois da Apollo 11, mais exactamente em 19 de Novembro de 1969, uma quarta-feira. O prometido post sobre este tema, ou vai para o ar um dia destes, ou fica adiado para a respectiva data aniversária.
Pois é, como não gosto de adiar nada, fica já hoje reportado o equívoco. Aquilo que eu pensava ter ocorrido em Julho, aconteceu sim senhor, mas quatro meses depois.
Corrigidas as datas, e reposta a verdade, vai fazer em 19 de Novembro quarenta anos, que eu e o meu amigo Carlos, também lá estivemos na superfície lunar, com imagens a preto e branco, e uma distância de 384.405 quilómetros a separar-nos da assombrosa realidade.

sábado, agosto 01, 2009

Pouco Escrúpulo Legislativo

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Com base num pedido formulado por um grupo de deputados da Assembleia da República (a que o PS se escusou), junto do Tribunal Constitucional, para que este avaliasse da constitucionalidade de um Decreto regulamentar produzido pelo governo, que pretendia introduzir alterações ao Decreto-Lei sobre o Estatuto da Carreira Docente, aquela instância veio declarar que não tem competência para tal avaliação, dado que o que está em causa é uma violação do "princípio da legalidade", pois uma lei superior (Decreto-Lei) não pode ser alterada por outra de natureza inferior (Decreto regulamentar), tal como uma Lei não pode ser alterada por um Decreto-Lei. Para se perceber o que está em causa, e passe a comparação, os razões são as mesmas porque um soldado raso não pode dar ordens a um sargento, nem um sargento dar ordens a um capitão, ao passo que o inverso já é possível. No entanto, para o inefável José Sócrates, e talvez por influência do espírito "simplex", esta ilegalidade cometida pelo governo não passa de uma mera "discrepância". Para mim, não é mais do que ausência de escrúpulo legislativo, isto para não lhe chamar outra coisa.

sexta-feira, julho 31, 2009

Recibos Verdes, Quase Negros

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PORQUE há questões que nunca é demais voltar a abordar, denunciar e clarificar, transcrevo o artigo intitulado "A Economia Moral do recibo verde", publicado por José M. Castro Caldas em 29.7.2009 no blog LADRÕES DE BICICLETAS em
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/. Fica registado o abuso.

“Um cliente é alguém que compra o produto ou o serviço que eu vendo no mercado, o patrão é alguém que me paga para trabalhar para ele, ou em vez dele. É verdade que em ambos os casos o que eu estou a vender é trabalho, mas ainda assim há pelo menos uma grande diferença: o cliente não manda em mim e o patrão manda (dentro de certos limites). Nada mais claro. Por muito que o cliente tenha sempre razão ele não é o meu patrão.

Acontece no entanto que o recibo verde é uma instituição extraordinária que consegue transformar um patrão em cliente. Com o recibo verde o meu patrão pode-me pagar todos os meses o meu salário como se estivesse a remunerar serviços que lhe prestei e pode deixar de fazê-lo quando entender, sem qualquer custo. Ao mesmo tempo ele continua a poder dar-me ordens. Segundo ouvi dizer numa entrevista de uma representante dos Precários Inflexíveis, isto é o que acontece em 900 000 casos em Portugal. Uma enorme anomalia: 900 000 mil relações de trabalho dependente transformadas em prestação de serviços por obra e graça de uma instituição chamada recibo verde. É absurdo, não é permitido, mas pode fazer-se. O recibo verde usado a torto e a direito ilegalmente, instituiu-se. É considerado natural.

Para alguns pensadores liberais do século XIX a legitimidade do assalariamento assentava na provisão de segurança de um salário (fixo) pelo capital, em troca de esforço, obediência e lucro (variável) por parte do trabalho. Tornar a relação de assalariamento “flexível”, e o recibo verde (ilegal) representa a forma mais acabada de “flexibilidade”, equivale a libertar uma das partes do contrato (o capital) da obrigação que legitimava a relação de assalariamento: a assunção dos riscos e a provisão de segurança.

Em que se transforma a relação de assalariamento depois de isso acontecer? Num produto da circunstância que decorre de alguns não terem (enquanto outros têm) acesso à terra e aos instrumentos de produção. Num produto da necessidade, da coerção e da força bruta.”

ADENDA: Além do que atrás foi dito - e muito bem dito - é preciso não esquecer que o Estado, ele próprio enquanto empregador, usa e abusa deste escandaloso expediente (os chamados falsos avençados), para depois colectar (e de que maneira!) estes trabalhadores, que são indevidamente contratados a Recibo Verde, como se exercessem profissões liberais, em tudo semelhantes aos médicos, advogados, contabilistas, consultores, artistas, jornalistas “free lancers”, isto é, sem subordinação hierárquica, o que não é verdade. Para vermos até onde chega, por parte do Estado, a falta de vergonha e o desprezo pela legalidade, só falta acrescentar que o despacho de autorização deste tipo de contratações tem que ser dado, nem mais, nem menos, pelo ministro da tutela.
Moral da história: A instituição do Recibo Verde como forma de pagamento de trabalho permanente e regular por conta de outrem, além de ser uma grande mina e uma solução baratíssima para os empregadores (Estado incluído), onde nem sequer existe um precário contrato de trabalho, torna-se também, por força desta banalização e subversão de princípios, uma óptima e garantida fonte de receita, para o Estado alimentar os seus desvarios. E não me venham com a actual crise e outros argumentos, como aquela de “antes ter trabalho assim do que não ter trabalho nenhum”, porque esta situação já vem de longe, e quem deveria já ter posto cobro a estas situações (o Estado), prefere continuar a também dela beneficiar, assobiando e olhando para o lado, como se nada fosse com ele. São Recibos Verdes, quase negros, negros a tal ponto que quase se poderia dispensar da ordem jurídica, o próprio Código do Trabalho.

Para mais detalhe do que acima foi dito, consulte-se o blog PRECÁRIOS INFLEXÍVEIS em
http://www.precariosinflexiveis.org/. Para contacto use o e-mail precariosinflexiveis@gmail.com

quinta-feira, julho 30, 2009

Geração 200 Euros

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Ontem, o PS veio dizer ao país que vai compensar as famílias portuguesas com 200 euros, por cada bebé que nasça em Portugal. Compensar tanto pode significar atribuir um prémio, como pode significar fazer uma reparação, a título de qualquer coisa que tenha corrido menos bem. Neste caso, a coisa não foi clarificada, logo fica a dúvida do que terá sido, mas enfim, sigamos em frente.
Entretanto, esta medida, a qual se enquadra no programa eleitoral do PS, visa 4 objectivos essenciais, a saber:
1 - Incentivar a conclusão do ensino obrigatório do nascituro, quando este atingir os 18 anos;
2 - Incutir hábitos de poupança, tanto na criança como nos seus progenitores;
3 - Apoiar o projecto de vida quando o adolescente entrar na idade adulta;
4 - Estimular a natalidade.

O PS explicou que o valor será depositado numa “conta futuro”, com benefícios semelhantes aos de uma conta poupança jovem, em nome do bebé, mas só poderá ser levantado quando o titular completar 18 anos. Os pais podem, até essa idade, reforçar a conta sempre que quiserem e durante o período obterão deduções fiscais semelhantes às que foram estabelecidas para as contas poupança reforma. Ora, o que o PS não diz é que se entretanto o Estado decidir acabar com essas deduções fiscais, o nosso IRS sofre um agravamento, agravamento esse que se torna, acto contínuo, fonte de financiamento de todos os “bebés 200 euros” do país.

Depois, levanta-se outro problema: esta medida não visa 4 objectivos mas sim 5, sendo que o quinto objectivo não é inocente e é o seguinte:
5 – Contribuir para que as “pobres” instituições financeiras da nossa praça, capturem anualmente um lote significativo, certo e garantido de poupanças a prazo, e com isso ultrapassem as grandes “dificuldades” que elas e os seus accionistas estão a atravessar.

Se nos abstrairmos do 5º objectivo e da maledicência com que o tratei, a medida, no seu conjunto, até poderia ser interessante noutro contexto (apesar dos 200 euros serem típicos de um Estado Unhas-de-Fome), isto é, se o país não estivesse a braços com ambas as crises (interna e externa), e os cidadãos não estivessem com dificuldades imediatas, quotidianas e redobradas, para enfrentarem os múltiplos problemas que daí advêm.
Assim, na minha modesta opinião, a ajuda aos cidadãos deveria efectuar-se de duas formas. A primeira, ser directa e imediata, centrando-se na defesa e estabilidade do emprego das pessoas, bem como no reforço da sua protecção em situações de desemprego. Com a segunda, assegurar um apoio coerente e eficaz ao tecido económico nacional, afinal e por excelência, a mais importante fonte de emprego e de riqueza. Não há empresas sem pessoas, assim com não há emprego sem empresas, e sem o contributo das empresas e das pessoas nunca haverá riqueza.
Assim sendo, a conclusão a que chego é que o PS, na eminência de perder as eleições, socorre-se de tudo, até da demagogia (menos Estado Providência e mais Estado Paternalista), e entrou numa orgia de distribuição e esbanjamento de dinheiros públicos, afinal dinheiro dos próprios contribuintes, o que não é nada saudável.
Depois da “geração rasca” e da “geração 500 euros”, só nos faltava esta “geração 200 euros”, que o PS enquadra no seu programa "Avançar Portugal" 2009/2013, para ficar definitivamente traçado o lindo futuro que nos espera.

quarta-feira, julho 29, 2009

Frente-a-Frente

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Ontem à noite realizou-se na SIC um debate entre dois dos candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, respectivamente António Costa pelo PS e Santana Lopes pelo PSD. A CDU, cujo candidato é Ruben de Carvalho, excluída que foi deste debate, perguntou à SIC o porquê da sua exclusão, anunciando que vai reclamar do facto junto da ERC. Transcrevo alguns parágrafos desse documento.

“A CDU tentou saber junto da SIC se outras iniciativas informativas viriam completar esta em tempo imediato, de modo a garantir a igual oportunidade para o esclarecimento público ao primeiro candidato da lista da CDU – Coligação Democrática Unitária à Câmara Municipal de Lisboa – Ruben de Carvalho, como a lei exige.
Não lhe tendo dirigido o mesmo convite para estar no debate do “Jornal da Noite”, a SIC está necessariamente a ocultar as suas opiniões, projectos e críticas – que os cidadãos irão avaliar em sede de votação nas eleições autárquicas marcadas para 11 de Outubro.
A SIC, não convidando Ruben de Carvalho para o debate no “Jornal da Noite”, omitindo as ideias da CDU para a cidade de Lisboa, falha o seu dever de isenção e não cumpre a sua obrigação de dar a conhecer outros candidatos e as suas ideias.
Ora, nos termos do art. 38º e 40º da Lei Orgânica n.º 1/2001 (lei da eleição de titulares para os órgãos das autarquias locais), após a marcação das eleições, os princípios gerais deste diploma são aplicáveis às entidades públicas e privadas devendo estas proporcionar igualdade de tratamento.
A SIC não cumpre a lei, tal como a RTP não cumpre.”

Meu comentário:
Em resposta divulgada pelo jornal PÚBLICO, a SIC “ não quis comentar a acusação e notou apenas que o debate entre os candidatos do PS e PSD é [foi] um "frente-a-frente", o que é uma justificação pouco firme. Na minha terra, e salvo melhor opinião, um frente-a-frente não é necessariamente repartido apenas entre duas pessoas.

terça-feira, julho 28, 2009

Quatro Anos a Ver Passar Aviões

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…ou como as Novas Oportunidades (ou mais exactamente Oportunidades Sem Saída) não passam de marketing político de muito baixa qualidade, que serviram apenas para engrossar o cabaz das promessas eleitorais, com os resultados que estão à vista.

“O curso profissional de técnico de manutenção de aeronaves da Escola Secundária Gago Coutinho, em Alverca, foi apresentado numa cerimónia pública em 2006, com a presença da ministra da Educação, como um exemplo do que o programa Novas Oportunidades poderia fazer pelos mais jovens, mas até hoje falta-lhe a homologação do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC).

Na prática, essa falta impede os alunos que terminam agora os três anos do curso, que lhes dá equivalência ao 12.º ano, de conseguirem um certificado de aptidão profissional que os reconheça como técnicos habilitados para repararem aviões. Pode lançar também dúvidas sobre se estes recém-formados têm ou não todas as competências necessárias para a profissão.

O porta-voz do gabinete da ministra, Rui Nunes, confirmou que o curso da Escola Secundária Gago Coutinho está por homologar, mas acrescentou que a "solução definitiva" passa por um protocolo entre o INAC e a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), entidade ligada ao Ministério da Educação.

Um dirigente do Sitava - Sindicato dos Trabalhadores de Aviação e Aeroportos confirmou também que já tinha conhecimento do problema. No entanto, Vítor Mesquita nota que a questão levará ainda muito tempo para ficar resolvida, apesar de qualquer protocolo, porque os passos definidos pela legislação comunitária nunca foram seguidos desde o início.

O próprio INAC nunca fez os manuais de certificação do curso de técnico de manutenção aeronáutica e de vários outros relativos ao transporte aéreo, apesar de ter ficado definida essa necessidade há pelo menos quatro anos.
…”
Extractos da notícia da jornalista Inês Sequeira, do jornal PÚBLICO de 27 de Julho de 2009, com o título “Manutenção aeronáutica tem técnicos ainda por reconhecer”

Ensinar à Jorna

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O que transparece dos extractos da notícia que a seguir transcrevo, é que neste país, tudo é possível e tudo se faz, atropelando a legalidade e sem receio de sanções, até mesmo os professores trabalharem à jorna. E depois, ainda há quem diga que os professores são uns privilegiados!
“…
A 31 de Agosto, muitos serão os professores das mais de 20 escolas e colégios do Grupo GPS Educação e Formação, com sede no Louriçal, concelho de Pombal, que poderão cessar o contrato. Não por serem dispensados, mas porque os próprios foram obrigados a assinar uma carta de despedimento no início do ano lectivo, ao mesmo tempo que assinavam ou renovavam contrato, mesmo quando já lá leccionam há anos suficientes para fazerem parte dos quadros das escolas.

A Polícia Judiciária (PJ) confirma investigações - não directamente relacionadas com os referidos contratos com docentes - de alegadas irregularidades relacionadas com os crimes de fraude e desvio de subsídios. O Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC) confirma denúncias, mas por medo de represálias e de perder o emprego, ano a ano, os professores não dão oficialmente a cara nem deixam que o gabinete jurídico actue.

O JN recolheu relatos individuais de professores, sob anonimato por medo represálias. "Existe de tudo. Casos em que os docentes são contratados para uma escola e ao fim de três anos ou aceitam ir para outra ou são despedidos para não passarem aos quadros. A vaga é logo ocupada por outro docente, normalmente numa manobra que permite ao grupo não contratar novo professor para aquele estabelecimento de ensino, mas sim com um que venha transferido de outro, para assim contornarem a lei", salientam os professores.
…”
Extratos da notícia da jornalista Licínia Girão do JORNAL DE NOTÍCIAS de 27 de Julho 2009, com o título “Despedimento "antecipado" para docentes”

segunda-feira, julho 27, 2009

Estudar para Aquecer

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Esta situação é de antologia, contudo, não do reino da ficção ou da fantasia, mas sim de casos reais. Respirem fundo e leiam com atenção. No fim farei o meu comentário.

“Todos os alunos que se formaram desde 2003 no curso de Técnico Superior de Justiça, não podem, à luz do Estatuto dos Funcionários Judiciais, entrar nos tribunais. São cerca de 30 por ano [210 no total], formados na Universidade de Aveiro, mas têm sido obrigados a seguir alternativas profissionais. O problema? "O estatuto e a licenciatura não estão devidamente reconhecidos perante o Ministério Público", explica um licenciado, apesar de o próprio Ministério da Justiça ter aprovado a licenciatura.

Gonçalo Nunes refere que o protocolo que criou o curso foi assinado pelo ex-secretário de Estado Adjunto da Justiça, João Luís Mota de Campos - quando Celeste Cardona era ministra da Justiça. Desde então, o caso tem vindo a arrastar-se pelos governos e ministérios sucessivos, passou por José Pedro Aguiar-Branco e finalmente chegou ao actual ministro, Alberto Costa.
Nova reunião em Setembro. Segundo o presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, Fernando Jorge, "houve reuniões com o Ministério desde que o assunto esteve em cima da mesa. Afirmaram que iam resolver, mas nunca fizeram nada". O sindicalista recorda que, no ano passado, houve uma reunião com o secretário de Estado da Justiça, Conde Rodrigues, "na qual ficou prometido que até ao final de Julho o assunto ficaria resolvido". Mas, recorda, os alunos continuam a não poder seguir a carreira de oficiais de justiça.

No protocolo celebrado em 2003 entre o Ministério da Justiça e a Universidade de Aveiro, a que o “i” teve acesso, pode ler-se que "os diplomados do curso de Técnico Superior de Justiça terão condições preferenciais no acesso à carreira de oficial de justiça. No entanto, esses licenciados têm uma experiência bem diferente para contar. "A maioria dos formados estão no desemprego", queixa-se um licenciado que não quis identificar-se. "O curso está tão desprezado que foi aberto um concurso interno para preencher todas as vagas existentes nos tribunais e os requisitos pedidos foram o 11º ano", acrescenta.”
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Extracto da notícia do jornal “i”, da autoria do jornalista Augusto Freitas de Sousa, com o título “Tem habilitações a mais? Não pode ser funcionário judicial”, publicado em 25 de Julho de 2009

Comentário final: Cá estamos! Gostaram? Querem mais? Há disto às toneladas nesta terra, basta procurar. A forma como são tratadas as pessoas é directamente proporcional ao futuro que aguarda o país, bem negro, por sinal. As pessoas entusiasmam-se, envolvem-se e esforçam-se, ganham competências, com os seus êxitos ajudam a pintar as estatísticas de cores optimistas, com isso os governos exultam e pavoneiam-se alegremente, cheios de prosápia, cá dentro e lá fora, porém, nem as pessoas que se entregaram, nem o país no seu todo, ganharam nada com isso. Elas, as pessoas, acabam no fundo de desemprego ou a trabalhar (quantas vezes contrariadas) em áreas para que não têm qualquer vocação, mas a luta pela vida a isso as obriga. Quanto ao país, como é óbvio, continuará a afundar-se, entre as patacoadas de uma corja de ministros e primeiros-ministros, vaidosos, incapazes e irresponsáveis.

domingo, julho 26, 2009

Olha o “bloco”!

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O que terá levado o Presidente da República, durante a sua recente viagem à Áustria, ao fazer extrapolações sobre a realidade política austríaca, a tecer considerações sobre os benefícios do diálogo inter-partidário e do “bloco central”? Muito embora tenha optado por nada dizer quanto à política nacional, este “desabafo”, terá sido uma mera e inofensiva conjectura ou, pelo contrário, corresponde a uma sugestão bem calibrada, como preparação dos espíritos para tal solução? Ele próprio, sempre muito cauteloso, sentiu-se na obrigação de sublinhar que era abusivo tirar ilações das suas palavras, mas, porém, todavia, contudo, a verdade é que a mensagem ficou dada.

Queijo tipo limiano

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Sócrates, para não ter que desencantar, no decurso da próxima legislatura, um ou vários deputados, que se disponham a reeditar a historia do deputado do "queijo limiano” (ocorrida no governo Guterres), volta a usar os processos habituais, de quem não consegue vingar pelos seus próprios meios, e está-se a precaver com alguma antecedência, depois da resignação de Manuel Alegre, fazendo alguns recrutamentos cirúrgicos para colorir a futura bancada do PS com pinceladas de esquerda. Os jogos florentinos e a exploração das volubilidades humanas levaram-no a aliciar Joana Amaral Dias do BE, com um lugar de deputada pela lista de Coimbra (coisa que podia ir até um lugar de Estado), porém, voltou sozinho pelo mesmo caminho com o rabo entre as pernas. Já o mesmo não se pode dizer de Miguel Vale de Almeida, fundador e ex-dirigente do BE, que aceitou fazer parte da lista de deputados do PS pelo círculo de Lisboa, deixando-se enfeitiçar, vá-se lá saber porquê.
Passe a comparação, mas sempre que ouço falar de traições ou deserções, vem-me sempre à lembrança aquele episódio da proto-história de Portugal (quando ainda éramos parte da Lusitânia), que fala das épicas lutas de resistência de Viriato contra a dominação romana, o qual acaba cobardemente assinado durante o sono, às mãos de três compatriotas lusitanos, de nome Audax, Ditalco e Minuro, os quais, após o crime, correram a refugiar-se junto das legiões do procônsul romano Servílio Cipião, reclamando um recompensa pelo seu acto. No entanto, conta a História que o procônsul, indignado com tanta perfídia e baixeza, ordenou a sua execução, tendo ficado os três expostos em praça pública com os dizeres "Roma não paga a traidores".
Da História tanto podemos retirar boas como más lições, coisa que os políticos correram a interpretar à sua maneira. Invertendo ou não os papéis, aprenderam que para sobreviverem ou alcançarem os seus objectivos, não podem ser demasiado exigentes em matéria de coerências e fidelidades, sendo talvez daí a origem dos nossos cândidos e aclamados “brandos costumes”.

sábado, julho 25, 2009

Tantas Vezes Vai o Cântaro à Fonte…

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“A economia portuguesa pode ficar à beira da falência na próxima década, indica o antigo presidente da Autoridade da Concorrência (AdC), Abel Mateus. Este indica que as obras públicas não trazem benefícios económicos para o país.
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O antigo presidente da Autoridade da Concorrência teme que a economia portuguesa venha a ficar à beira da falência pelo facto das obras públicas não serem rentáveis, não gerarem exportações e não aumentarem a capacidade de produção da economia nacional.
Abel Mateus revela que se projectos como o TGV, o novo Aeroporto ou novas auto-estradas avançarem, o endividamento externo poderá atingir os 240% do PIB em 2020. Deste modo, a economia poderá entrar na bancarrota, dando como exemplo a Islândia.
Apesar da situação económica prevista, Abel Mateus não é apologista da subida dos impostos, justificando que este aumento só viria ou agravar a recessão ou acabar com uma possível recuperação.
Ainda assim, o responsável defende a continuação do controlo das despesas do Estado e o prosseguimento das reformas estruturais em certos sectores como a justiça, noticia o Jornal de Negócios.”

(Notícia da Fábrica de Conteúdos On-Line em 23-7-2009)

sexta-feira, julho 24, 2009

Geração simPLEX do País COMplex

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Ontem, durante uma volta pela NET tropecei num blog recente (só tem posts a partir de 20 de Julho), e que dá pelo nome de SIMplex ( http://simplex.blogs.sapo.pt/ ). É alimentado por perto de uma trintena de potenciais escrevinhadores, alguns deles com blogs próprios ou então colaboradores de outros. No manifesto dizem que "não queremos o regresso da tanga" (laranja), mas pelas amostras já disponíveis, quer-me parecer que temos ali uma brigada de indefectíveis apoiantes do PS (partido Sócrates), cheios de ânimo e dispostos a tudo para darem uma ajuda à continuidade da outra “tanga” (a rosa), enfrentando o frenesi dos próximos actos eleitorais.
Tirei à sorte um texto para exemplo, uma autêntica pérola com o título “É SimpleX, é o Xéculo XXI”, e vejamos o que um tal de Bruno Reis por lá diz:

- Diz que o PS é por um Estado melhor ao serviço de todos, mas não reconhece que durante os últimos quatro anos, Sócrates encheu-nos de propaganda, deu espectáculo a mais e governou de menos,
- Diz que o PS não ataca os funcionários públicos, médicos ou professores, o que me leva a crer que o Bruno não vive cá, não sai à rua, não lê jornais, não sabe o que se passa, coitado!
- Diz que o PSD tenciona privatizar quase tudo, o que é apenas meia verdade já que o PS, nessa matéria, se adiantou largamente, isto sem contar com as alienações de património.
- Diz que o PSD quer reduzir a despesa pública à custa de despedimentos em massa, e pergunto eu se não é isso que tem acontecido ao longo destes quatro anos, com este governo PS? O Bruno parece que não mora cá, ou então não consegue ver os números do desemprego a subirem!
- Diz que o PCP e o BE querem regressar a 1975, mas a verdade é que, muito embora as viagens no tempo sejam teoricamente possíveis, pensa-se que não é coisa para já…
- Diz que o PCP e o BE querem brincar às guerras de classes em vez de resolverem os problemas do século XXI, porém, a verdade é que não se trata de guerras, é luta de classes e não é brincadeira nenhuma. Quanto aos problemas do século XXI, esqueceu-se de dizer que eles foram importados do século XX, por obra e graça de quem tem andado a cirandar pelas cadeiras do poder, e pouco ou nada se preocupou em os solucionar.
- Diz que o PCP e o BE não previram a crise actual e não têm remédios para ela. Ai previram, previram, há muita coisa escrita a anunciá-lo, e não foram só o PCP e o BE que o fizeram. Quanto aos remédios, é simples: o PCP e o BE deram sugestões, no entanto, quem tem a chave da farmácia é o PS e não a oposição. O Bruno tem que passar a dar mais atenção à informação, escrita e oral, que por aí circula. Recordo-lhe que o século XX foi o século da informação, e este XXI já é o do conhecimento.
- Diz que o PCP e o BE são como os relógios parados que dão a hora certa duas vezes ao dia, mas esqueceu-se de dizer que os relógios do Largo do Rato só dão horas para alguns.
Finalmente, fala de coisas que não se percebe bem onde quer chegar, tal como o actual oposicionismo ser uma herança do Estado Novo por via desses heróis retroactivos da Oposição à ditadura. Ora o oposicionismo não é herança, mas sim discordância, divergência, em qualquer época e em qualquer lugar. Quanto aos heróis, é simples: foram heróis, são heróis e continuarão a sê-lo, de Portugal e dos Portugueses, quer o Bruno queira, quer não.

Conclusão: A coisa para começar não está mal, isto se o objectivo foi agradar ao “chefe”. Se não é isso, o Bruno vai ter que se esforçar um pouco mais, para fazer subir o nível do “Simplex”. No entanto, entre outras coisas, faltou falar nas promessas não cumpridas, nas promessas cumpridas às avessas, na justiça debilitada, na erosão dos salários, na pobreza, no endividamento externo, e sobretudo na divergência com a UE, prova mais do que evidente de que as grandes questões e fragilidades nacionais não foram atendidas (ou sequer revistas), são muito nossas, já vêm de longe e não vale a pena deitar as culpas para a recente crise mundial. E poderíamos continuar por aí fora, coisa e tal, etc. e tal, mas a tarefa não é fácil, sobretudo quando se trata com alguém, profundamente marcado pelas injecções socretinas, e que “parece” não conseguir conviver com a diferença de opiniões, tal é a urticária que lhe provocam os opositores, coisa que passa com umas boas colheradas, sei lá, de um suplemento do tipo “óleo de fígado de bacalhau”. E já agora faça um esforço e passe a respeitar os heróis, pois é uma postura que fica bem e não custa nada. Digam mais coisas, e longa vida ao blog. Em 27 de Setembro voltamos a conversar.

quinta-feira, julho 23, 2009

Atrás de Tempos, Tempos Virão!

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(Clique na imagem para ampliar)

Estão a viver-se tempos difíceis e perigosos, e a culpa não é apenas da actual crise. Se há uns anos atrás, a especialização era uma exigência e condição para um bom desempenho profissional, agora sucede exactamente o contrário. Já imaginaram um bibliotecário a ser dado como apto para trabalhar numa oficina de encadernação, ou um açougueiro habilitado para trabalhos de cirurgia? Que eu saiba, a mobilidade funcional ainda não chegou tão longe, nem a versatilidade é uma constante da raça humana, para que possa ser aplicável sem excepções!
Este caso passado na Alemanha (o da imagem), não foi “lapso” administrativo, nem a culpa recaiu sobre as habituais costas largas do sistema informático. A verdade é que lá, tal como cá, as generalizações “ad hoc” produzidas por técnicos de aviário, aliadas à mais grosseira incompetência, dão como resultado que as matérias do foro laboral tenham passado a ser tratadas com desprezo, originando aberrações deste tipo, pois o desempenho de uma empregada de mesa nunca pode ser equiparado ao de uma alternadeira, tal como as aptidões de um equilibrista não são comparáveis com o trabalho de um guarda-fios.
A talhe de foice, este caso faz-me lembrar um outro, de contornos absurdos, divulgado em 2007 por Eduardo Madeira, ocorrido em Portugal, e que conta o seguinte: “Um professor de filosofia que sofria de cancro na garganta foi operado e perdeu a voz. O cancro não foi, mesmo assim debelado. Apenas se adiou o problema. Este homem pediu, no meio de um grande sofrimento, para ser aposentado antecipadamente. Foi por isso presente a uma junta médica que o julgou CAPAZ para exercer as suas funções de docente. A lógica desta junta parece-me, sobre um certo ponto de vista, acertada. Se eles, que não têm cérebro nem coração, e podem estar em funções à frente de uma junta médica, porque é que alguém sem voz não pode dar aulas?” Ambos os casos são semelhantes, no afrontamento que fazem à dignidade humana, e têm a mesma origem: a desumana, patológica e grosseira incompetência, ampliada com laivos de bestialidade. Tempos perigosos estes! Faço votos para que atrás destes tempos, melhores tempos venham.

Derivados da Lei de Murphy (4)

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Qualquer esforço que se faça para agarrar um objecto em queda provocará mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.

O primeiro-ministro disse que não será injectado mais dinheiro público no BPP (Banco Privado Português), mesmo que isso implique a falência da instituição. "Ninguém deseja que um banco vá à falência, mas a verdade é que entre isso e o Estado adquirir responsabilidades financeiras para a continuação do BPP há uma diferença: neste momento não há nenhum risco público que possa justificar a entrada do Estado no banco", disse José Sócrates, num encontro do ‘Diário Económico’.
No entanto, e apesar destas declarações, há já fontes do sector financeiro - que apoiam o plano da Orey para o BPP - que calculam em 540 milhões de euros a factura para o Estado da falência do BPP e em 190 milhões o custo para a banca, com o accionamento do Sistema de Indemnização aos Investidores (SII) e do Fundo de Garantia de Depósito (FGD) . São números violentos e que traduzem a dimensão do imbróglio em que se encontra o Estado com os compromissos já assumidos com os depositantes e com o aval dado aos bancos no empréstimo de 450 milhões de euros que vence em Dezembro.

(Fonte: Diário Económico)