quinta-feira, novembro 24, 2011
quarta-feira, novembro 23, 2011
O Vice-Primeiro-Ministro Propõe…
O VICE-Primeiro-Ministro Ricardo Salgado, convidado clandestino dos Conselhos de Ministros de Pedro Passos Coelho, em representação do “lobby bancário”, e que acumula com as funções de Presidente do Banco Espírito Santo (BES), já deu um passo em frente, antecipando-se ao que a "troika" sugeriu, declarando que admite a possibilidade de cortar salários na instituição a que preside, caso as previsões do Governo para o ano de 2012, quanto à recessão económica, se confirmem.
Uma distinção que não me passou despercebida foi o facto de ter falado em salários e não em vencimentos. Vencimentos é como habitualmente são tratadas as remunerações dos quadros superiores do banco, ao passo que os salários dizem respeito ao restante pessoal. No entanto, mesmo que toda a população do BES fosse abrangida por tal medida, também sabemos que os quadros superiores têm sempre outras compensações, que acabam por neutralizar os efeitos dos cortes.
Falta apenas referir que Ricardo Salgado beneficia das vantagens deste duplo emprego, onde nem sequer é necessário fazer declaração de interesses, nem andar a ocultar que dispõe de informação previligiada, o que é uma “vantagem competitiva”, como sói dizer-se, relativamente à restante concorrência.
terça-feira, novembro 22, 2011
Perguntem ao Dias Loureiro Como se Faz!
A PLÊIADE,
empresa comprada pela Sociedade Lusa de Negócios e ligada aos casos BPN, tem um
passivo de 48 milhões de euros e é alvo de um pedido de insolvência, depois de
ter dado a ganhar oito milhões de euros a Manuel Dias Loureiro, ex-ministro do PSD,
ex-conselheiro de Estado e ex-administrador do BPN, o qual está a ser
investigado por este negócio. Teria conseguido ser dono de uma empresa e ganhar
dinheiro com ela sem ter acções da dita, o que é um feito do caraças. Embora
Pedro Passos Coelho garanta que a solução da crise passa pelo empobrecimento de
Portugal e dos portugueses, é caso para perguntar: querem ganhar dinheiro rápido
e fácil? Perguntem ao Dias Loureiro que ele sabe como se faz, caso não volte a
ter falhas de memória…
domingo, novembro 20, 2011
Medidas Fiscais para o Orçamento do Estado para 2012
MEDIDAS fiscais
para o Orçamento do Estado para 2012, apresentadas pelo Partido Comunista
Português, através da declaração do seu deputado Honório Novo.
sábado, novembro 19, 2011
Tenham Medo, Tenham Muito Medo...
AS COISAS estão agora no seu devido lugar. Enquanto os ministros vão empatando e Passos Coelho vai viajando, a "troika" vai governando.
O senhor Passos vai viajando por Angola, país do café, do petróleo, dos diamantes e outras coisas mais desagradáveis, debitando mais tiradas de antologia. Neste aspecto os governantes portugueses quanto mais longe estão do torrão natal, mais pródigos são em declarações. Desta vez, afirmou que o "Estado não precisa de intervir de forma directa" nos salários do sector privado, que é como quem diz, os empresários podem fazer o que lhes apetecer e der na real gana, que o Estado não é para aí chamado. Quanto aos jovens, espera que não desesperem, que é uma forma encapotada de dizer para irem fazendo as malas… Por outro lado, com jeitinho, só falta dizer que o Código de Trabalho será suspenso, bem como toda a legislação laboral, no capítulo de remunerações, e não só. Passos Coelho estava assim a dar ênfase e suporte institucional à "sugestão" avançada pela "troika" governante, para que os cortes salariais sejam extensivos ao sector privado, e isto tudo porque, no dizer do representante da Comissão Europeia na "troika", um tal Jürgen Kröger, não há risco de Portugal se tornar numa Grécia, pois os indígenas deste protectorado são "gente boa", o que talvez queira dizer que somos “tementes” e "ajuizados", não gostamos de ser incomodados, não reclamamos, e coisa e tal, enfim, cartas de amor... Olha se não éramos!
É a minha vez de
dizer: portugueses, tenham medo, tenham muito medo... E não digo isto de ânimo
leve. Tenho aquele anão amigo – o Serapião - que costuma infiltrar-se nos
conselhos de ministros, nas reuniões do governo com os banqueiros e com a
“troika”, que ouve tudo em pormenor, e que sai de lá, umas vezes em polvorosa,
outras vezes aterrado. Quando chega ao pé de mim, só diz: - nem imaginas o que
eles cozinham! Tem medo, tem muito medo!...
Perda de Talentos
O DOUTOR Mário
Soares, ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República, suspeito que esteja
a perder os seus talentos de analista político, quando disse que a
"troika" do FMI-UE-BCE até parece o Governo de Portugal. A questão é
que não parece, é! Na realidade, e para quem não anda distraído, a
"troika" é, de facto, o Governo desta feitoria, e o Governo
própriamente dito não passa de uma equipa de executivos e porta-vozes daquilo
que a "troika" decide.
sexta-feira, novembro 18, 2011
Direitos de Imagem, ou Lá o Que Isso É
NA SEQUÊNCIA do
meu post DIREITOS DE IMAGEM…, existe um manancial a perder de vista de casos
idênticos, todos eles abordando proibições que roçam a paranóia, com as
justificações mais assombrosas e bizarras, à mistura com abusos de autoridade.
Assim, recebi de um amigo, o relato do que se passou com ele, e que passo a
transcrever:
«A sua história
passada no tempo da outra senhora ou senhor, repetiu-se comigo e tem meia dúzia de anos. Ao visitar o Forum
Almada com familiares emigrantes nos “states” há vários anos tentei fazer umas
fotos com eles junto à sereia que se encontra frente ao centro comercial e em
local público. Fui chamado à atenção por um zeloso segurança que não só me
impediu de fotografar a dita sereia como me ameaçou que se o fizesse me
retirava a máquina. Indignado com tal atitude fui ao balcão e pedi o livro de
reclamações. Disseram-me que o livro não estava ali mas sim no gabinete do
director. Perante a minha insistência, fui levado a percorrer corredores e
becos nos bastidores da catedral até encontrar a sala do livro. Aí chegado era
preciso esperar pelo sr. dr. qualquer coisa pois só ele podia tratar do
assunto. Como viram que não conseguiam vencer-me pelo cansaço acabou por
aparecer o livro e fiz a respectiva reclamação. Passados alguns meses a
entidade que presumo dever tratar destes casos confirmou ter recebido a
reclamação, e que me seria dada uma resposta. Até hoje ainda não recebi mais
nada mas admito que seja por falta de tempo dos ditos doutores. Como vê só
mudaram as moscas.»
terça-feira, novembro 15, 2011
Direitos de Imagem, ou Seja Lá o Que For
«Em Serralves (...) é proibido fotografar no interior de um museu que apresenta uma exposição de fotografias que inclui fotografias tiradas no interior de museus.»
Excerto do post de JAA, publicado no blog DELITO DE OPINIÃO. O título deste post é de minha autoria.
Meu comentário: No tempo do Oliveira Salazar, e por vontade expressa dos correligionários e mentores do Estado Novo, também não se podia fotografar nada, nem mesmo os monumentos nacionais. A excepção eram os repórteres do jornal do regime, um tal DIÁRIO DA MANHÃ, e só mais uns poucos, devidamente credenciados. Na medida em que parece ter renascido essa estúpida e patética preocupação com a perturbação de uns enigmáticos "direitos de imagem", ou seja lá o que for, tenho uma história para partilhar, verídica e familiar, redigida e publicada em 28 de Agosto de 2001, num site que naquela data possuía no Yahoo!, e que contava o seguinte:
Era uma tarde de sábado, cheia de sol, momento propício para o meu pai ir experimentar uma máquina fotográfica de fole ENSIGN, que comprara (em segunda mão) havia poucos dias, para substituir o velho “caixote” KODAK, cuja tampa, entre cada mudança de rolo, tinha que ser selada com fita isoladora, para não deixar entrar luz, de tal modo estava empenada. Saímos de casa, o meu pai com à máquina à bandoleira e a consultar a cábula com as aberturas de diafragma e as velocidades do obturador, demos umas voltas pelo Campo Grande e finalmente fomos encalhar no plinto relvado do referido monumento, onde o meu pai se dispôs a bater algumas chapas. Não querendo inutilizar película em vão, perdeu ali quase uma meia hora a rodopiar à volta da estátua, a focar os ângulos mais sugestivos, ao mesmo tempo que se deitava na relva a escolher os melhores e mais arrojados enquadramentos, contorcendo-se todo para evitar reflexos de sol na lente. Até que a sua exibição chamou a atenção de alguém muito especial. A antiga esquadra da PSP era ali mesmo a dois passos do monumento, e um sub-chefe muito zeloso, que ia assistindo da janela às manobras do meu pai, começou logo ali a desconfiar dos seus propósitos e a imaginar conspirações. Provavelmente, sem nada para fazer e desejoso de exibir as suas aptidões e autoridade, mandou dois agentes irem interceptar as piruetas fotográficas do meu pai, com um lacónico e inquestionável “acompanhe-nos à esquadra”, ao mesmo tempo que os meus oito anos de idade minguavam de terror, acrescidos de uma vontade enorme de me enfiar pelo chão abaixo.
Uma dúzia de passadas e lá estávamos na esquadra, com o tal sub-chefe a questionar o meu pai. O que é que andava ali a fazer naquelas manobras e cambalhotas, a tirar fotografias para quê e para quem, e mais isto e mais aquilo. O meu pai respondia-lhe que morávamos já ali a cem metros, éramos quase vizinhos, que não passava de um fotógrafo amador e curioso que andava a experimentar a nova câmara. Achava ele que isso não tinha mal nenhum, nem fazia mal a ninguém. Contrapunha o sub-chefe que não senhor, não se podia andar por aí a fazer macacadas, a rondar os monumentos nacionais naqueles propósitos, nem se podia fotografá-los assim à toa de qualquer maneira, sem uma autorização especial. Todo arrepiado e cosido com o meu pai, lembro-me de ter começado a ficar assustado com as possíveis consequências daquele crime hediondo e de todo aquele aparato, facto que deve ter ajudado a conter e aligeirar os berros e as intenções do tal sub-chefe, que lá acabou por nos deixar ir em paz, não sem antes nos arremessar um autoritário “vá lá, e que não se repita!”-
De regresso a casa só me lembro de ouvir o meu pai repetir, passada sim, passada não, entre dentes e com a voz meio sumida: - Ora esta! Era o que faltava!
Pelos vistos não desistiu, nem desarmou. Num domingo de sol, nove meses depois, talvez para não dar muito nas vistas, voltou ao “local do crime”, para segunda sessão. Daquela vez já não o acompanhei na excursão, mas também acho que o tal sub-chefe meio saltimbanco já por lá não andava a espiar à janela, nem o meu pai levava com ele a tal imaginária autorização especial.
Há umas semanas atrás, já depois de ter rememorado esta história, passei ali ao Campo Grande mas a estátua estava escondida dos olhos dos transeuntes, toda envolta em tapumes, imagino que em trabalhos de merecida limpeza. Continua lá, não apenas como memorial e louvor ao Povo e aos Heróis da Guerra Peninsular. Serviu também, há quase meio século atrás, para testar o “arrojo” de um pacato cidadão, armado em fotógrafo amador, que tinha tudo menos aspecto de espião, e a prosápia de um qualquer sub-chefe da polícia, pacóvio, ocioso e ensopado numa autoridade que não tinha. Um dia destes vou revisitar o monumento, para repetir a dose à minha maneira. Só espero não me ver cercado por exorbitantes forças policiais, ou alvejado por algum “drone” que na altura vá a passar.
Excerto do post de JAA, publicado no blog DELITO DE OPINIÃO. O título deste post é de minha autoria.
Meu comentário: No tempo do Oliveira Salazar, e por vontade expressa dos correligionários e mentores do Estado Novo, também não se podia fotografar nada, nem mesmo os monumentos nacionais. A excepção eram os repórteres do jornal do regime, um tal DIÁRIO DA MANHÃ, e só mais uns poucos, devidamente credenciados. Na medida em que parece ter renascido essa estúpida e patética preocupação com a perturbação de uns enigmáticos "direitos de imagem", ou seja lá o que for, tenho uma história para partilhar, verídica e familiar, redigida e publicada em 28 de Agosto de 2001, num site que naquela data possuía no Yahoo!, e que contava o seguinte:
ESTAVA a dar uma volta às velharias lá de casa quando fui desencantar, no meio de livros, tralhas e bugigangas, um envelope amarelecido. Lá dentro havia fotografias, pouco mais de meia dúzia. Bastou uma vista de olhos rápida para as identificar como sendo pormenores de um monumento que existe em Lisboa, mais exactamente no Campo Grande, que dá pelo nome de Estátua da Guerra Peninsular, e que evoca o sacrifício, heroísmo e determinação do povo português, durante as Invasões Napoleónicas. Uma das fotografias exibia no verso uma data já bem distanciada deste nosso tempo: 25/9/1954. As outras, tinham a data de 12/6/1955, quase nove meses depois da primeira. Não foi necessário mais nada para me recordar do incidente associado às ditas fotografias.
Era uma tarde de sábado, cheia de sol, momento propício para o meu pai ir experimentar uma máquina fotográfica de fole ENSIGN, que comprara (em segunda mão) havia poucos dias, para substituir o velho “caixote” KODAK, cuja tampa, entre cada mudança de rolo, tinha que ser selada com fita isoladora, para não deixar entrar luz, de tal modo estava empenada. Saímos de casa, o meu pai com à máquina à bandoleira e a consultar a cábula com as aberturas de diafragma e as velocidades do obturador, demos umas voltas pelo Campo Grande e finalmente fomos encalhar no plinto relvado do referido monumento, onde o meu pai se dispôs a bater algumas chapas. Não querendo inutilizar película em vão, perdeu ali quase uma meia hora a rodopiar à volta da estátua, a focar os ângulos mais sugestivos, ao mesmo tempo que se deitava na relva a escolher os melhores e mais arrojados enquadramentos, contorcendo-se todo para evitar reflexos de sol na lente. Até que a sua exibição chamou a atenção de alguém muito especial. A antiga esquadra da PSP era ali mesmo a dois passos do monumento, e um sub-chefe muito zeloso, que ia assistindo da janela às manobras do meu pai, começou logo ali a desconfiar dos seus propósitos e a imaginar conspirações. Provavelmente, sem nada para fazer e desejoso de exibir as suas aptidões e autoridade, mandou dois agentes irem interceptar as piruetas fotográficas do meu pai, com um lacónico e inquestionável “acompanhe-nos à esquadra”, ao mesmo tempo que os meus oito anos de idade minguavam de terror, acrescidos de uma vontade enorme de me enfiar pelo chão abaixo.
Uma dúzia de passadas e lá estávamos na esquadra, com o tal sub-chefe a questionar o meu pai. O que é que andava ali a fazer naquelas manobras e cambalhotas, a tirar fotografias para quê e para quem, e mais isto e mais aquilo. O meu pai respondia-lhe que morávamos já ali a cem metros, éramos quase vizinhos, que não passava de um fotógrafo amador e curioso que andava a experimentar a nova câmara. Achava ele que isso não tinha mal nenhum, nem fazia mal a ninguém. Contrapunha o sub-chefe que não senhor, não se podia andar por aí a fazer macacadas, a rondar os monumentos nacionais naqueles propósitos, nem se podia fotografá-los assim à toa de qualquer maneira, sem uma autorização especial. Todo arrepiado e cosido com o meu pai, lembro-me de ter começado a ficar assustado com as possíveis consequências daquele crime hediondo e de todo aquele aparato, facto que deve ter ajudado a conter e aligeirar os berros e as intenções do tal sub-chefe, que lá acabou por nos deixar ir em paz, não sem antes nos arremessar um autoritário “vá lá, e que não se repita!”-
De regresso a casa só me lembro de ouvir o meu pai repetir, passada sim, passada não, entre dentes e com a voz meio sumida: - Ora esta! Era o que faltava!
Pelos vistos não desistiu, nem desarmou. Num domingo de sol, nove meses depois, talvez para não dar muito nas vistas, voltou ao “local do crime”, para segunda sessão. Daquela vez já não o acompanhei na excursão, mas também acho que o tal sub-chefe meio saltimbanco já por lá não andava a espiar à janela, nem o meu pai levava com ele a tal imaginária autorização especial.
segunda-feira, novembro 14, 2011
domingo, novembro 13, 2011
Ditaduras Bancário-Financeiras de Fachada Democrática
EM ITÁLIA, Silvio Berlusconi acabou por apresentar a sua demissão, e ironia das ironias, foram os “mercados” que o obrigaram a ajoelhar, provocando a sua queda (a “coisa” deixou de servir), e não a democracia a funcionar, como era suposto acontecer. Na Grécia sucedeu o mesmo.
O povo
manifesta-se, grita "liberdade", chora de alegria, faz jorrar
champanhe, mas na verdade pouco mais pode fazer do que isso. Fica a olhar, a
ver a banda passar. A escolha do novo governo e do novo primeiro-ministro são
coisas em que não vai ser ouvido nem achado. São coisas que lhe vão passar ao
lado, tal como na Grécia, onde sucedeu o mesmo.
Está na altura de
começar a perceber que está (quase) tudo nas maõs dos empórios
bancário-financeiros, e lá, como cá, são eles que determinam as orientações
governativas, são eles que fazem reclamações junto da União Europeia (e são
atendidos), são eles que fazem cair governos e primeiros-ministros, e depois,
são ainda eles que escolhem os novos artistas que sobem à ribalta, para que o
dinheiro continue a governar.
Está na altura do
povo partir a loiça!
Das Uniões Ilícitas às Uniões de Facto
AS ALUSÕES a almofadas
e travesseiros que têm sido referidas durante a discussão do Orçamento de
Estado para 2012, é o resultado de alguma Oposição andar a dormir com a
Situação.
sábado, novembro 12, 2011
Acomodação e Situacionismo
«Sempre que vejo
uma pessoa no nosso mundo “democrático” recusar-se a lutar pela justiça (contra
um chefe tirânico, uma grande empresa, e por aí fora) por receio de perder
conforto e segurança material, penso:
“Embora não o saibas, em diferentes circunstâncias terias aceitado um
emprego em Auschwitz”. Tendo conhecido os que combateram o fascismo em Portugal
apesar da ameaça constante de prisão ou de tortura, nunca deixou de me
surpreender a que ponto as pessoas são adaptáveis, a que ponto lhes falta
coragem. É disso que se alimenta o fascismo.»
In
“O Grande Inquisidor - a vida extraordinária e o desaparecimento misterioso de
Ettore Majorana, génio atormentado da era nuclear”, da autoria de João
Magueijo. Colecção Ciência Aberta da editora Gradiva.
sexta-feira, novembro 11, 2011
Contra Factos…
Já
alguém o disse, e confirma-se: António José Seguro não é líder da Oposição, mas
sim cúmplice da Situação.
Registo para Memória Futura (55)
COMO se não bastassem as epifânicas e antológicas tiradas do patético contra-almirante Américo Tomás, quando presidia às inaugurações do antigo regime, o actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, há dias, aquando da sua visita a Nelas, fez uma pitoresca sugestão: que o povo português tomasse como exemplo a vida de trabalho dos pastores, isto é, andar de tamancos, pastorear sem descanso nos sete dias da semana, tocar flauta para adormecer o gado, não ir à praia nem fazer férias, não fazer perguntas sobre essa coisa do BPN, não reclamar nem manifestar-se por lhe pagarem pouco, só descer ao povoado para votar, e visitar a família apenas nos dias santos.
Jerónimo de Sousa, oportuno e certeiro, chamou-lhe discurso impregnado de “ruralismo salazarista”. Nem mais!
quarta-feira, novembro 09, 2011
Socialismo Austeritário
NUM
ALMOÇO seguido de conferência, promovido pelo American Club, onde
confraternizou com alguma da nata empresarial portuguesa ( entre os quais
esteve o inenarrável João Rendeiro do BPP), António José Seguro,
secretário-geral do PS [partido (in)Seguro], considerou inaceitável que um
pensionista com uma reforma de 1.000 euros fique sem duas prestações, ao passo
que um trabalhador do sector privado, com 1.500 euros, não dê qualquer
contributo para o esforço nacional.
Considerando
que ele anda a tentar convencer o Governo de Passos Coelho a recuar, apropriando-se
apenas de um subsídio, não percebo porque é que sublinha e enfatiza a falta de
equidade da medida relativamente ao sector privado, achando inaceitável que uns
sejam esbulhados e outros não. Não seria mais razoável opor-se à medida, por
recair exclusivamente sobre quem trabalha, independentemente de pertencer ao
sector público ou privado? Até parece que está a sugerir que essa equidade seja
restabelecida, com a aplicação universal de uma sobretaxa especial sobre todos os
rendimentos do trabalho, uma vez que no sector privado, não pagar subsídios de
Férias ou de Natal apenas beneficia os empresários, os quais arrecadam o seu
valor, o qual por sua vez escapa à colecta dos respectivos impostos. Trocado
por miúdos, é a mesma coisa que dizer, "se não queres perdoar um subsídio
aos funcionários públicos e pensionistas, sê igualitário e aplica uma sobretaxa
a todos, sem contemplações". Transmitido o recado, Seguro ficou-se por aí,
esquecendo-se de referir que escandaloso é ir buscar verbas aos rendimentos de
trabalho, para tapar os buracos orçamentais e garantir a “acalmia” dos mercados,
e mais escandaloso ainda é deixar passar em branco quem nem sequer trabalha,
por usufruir lautos rendimentos de capital,
os quais são tratados com suavidade, não sendo tocados pela rapina governativa.
Eis o socialismo acomodatício e austeritário de António José Seguro em toda a
sua pujança, dizendo o que não devia ter
dito, e esquecendo-se de dizer o que devia ter sido dito. Mas isso não lhe
retardou nem parou a digestão.
"Abstenção Violenta"
«Ando
desde o fim-de-semana a meditar transcendentalmente no que será uma
"abstenção violenta", conceito que, em boa hora, António José Seguro
introduziu na ciência política portuguesa para classificar (ou desclassificar)
a posição do PS quanto ao OE para 2012.
E
não me custa a crer que os deputados socialistas estejam com um problema
semelhante ao meu, decidindo agora a quais caberá abster-se e a quais caberá a
parte da violência (eu proporia o notório Ricardo Rodrigues, especialista em
"acção directa" contra gravadores alheios, para líder da facção
violenta; e, para líder dos abstencionistas, algum daqueles, muitos, no PS como
em outros partidos, "de que no mundo não ficará memória" pois
"vive[m] sem infamar-se ou merecer louvor" e que Dante nem do Inferno
considera dignos).
O
conceito de "abstenção violenta", ainda por cima
"construtiva", levanta perplexidades q.b.. Irá o PS abster-se aos
gritos e partindo a mobília do Parlamento? Irá fazê-lo arrepelando os cabelos (e
convenhamos que tem razões para isso)?, ou Seguro quis dizer
"violeta" e não "violenta"? De facto, ao contrário de
"violenta", que sugere luta, "violeta" sugere
"luto". E "luto" parece palavra mais adequada do que
"luta" para qualificar a resignação (termo mais bonito do que
cumplicidade) do PS face a um Orçamento que Seguro acusa de conter
"medidas violentas e profundamente injustas" e de o ter deixado em
"estado de choque".»
Comentário de Manuel António Pina
publicado no JORNAL DE NOTÍCIAS on-line de 8 de Novembro de 2011.
terça-feira, novembro 08, 2011
Idiotices e Palavra Fácil
SE AS MEDIDAS de
austeridade abrangessem TUDO e TODOS da sociedade portuguesa, de forma
proporcional, relativamente à riqueza, rendimentos de capitais e outras fontes
que agora se mantêm a bom recato ou sob regime especial de protecção, estou
certo que não haveria tantos campeões da idiotice e da palavra fácil, a apelar
à submissão perante a inevitabilidade dos sacrifícios, à renúncia da indignação,
e a promovê-la, a tal AUSTERIDADE, como o remédio para todos os males, um dos
quais (dizem eles) é vivermos acima das nossas possibilidades, claro está, nós,
os que pagamentos impostos e que temos apenas rendimentos de trabalho.
segunda-feira, novembro 07, 2011
Reciclagens e Rebaptismos
INTRODUÇÃO
«Uma
importante arte dos políticos consiste em encontrar novos nomes para
instituições que sob os antigos nomes se tornaram odiosas para o público». Quem
disse isto foi Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (1754-1838), político e
diplomata francês.
FACTOS
Em
1933, foi criada com o nome PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado),
depois em 1945, passou a denominar-se PIDE (Polícia Internacional e Defesa do
Estado) e mais tarde, por volta de 1969, passou a ser conhecida por DGS
(Direcção Geral de Segurança). Agora é o SIRP (Serviço de Informações da
República Portuguesa). Vamos esperar para ver que mutações nos reserva o
futuro.
INTENÇÕES
O
Governo tem a intenção de reforçar os poderes da(s) polícia(s), dotando-a(s) de
uma capacidade que até agora lhes estava vedada: autonomia para decidir sobre o
uso ou não da videovigilância, prerrogativa que até agora estava sob a alçada
exclusiva da Comissão de Protecção de Dados.
Diz
o Ministério da Administração Interna que o objectivo da medida é simplificar
os procedimentos burocráticos e combater a criminalidade organizada, com meios
tão sofisticados como os que aquela possui para levar a cabo as suas maléficas
acções. Em princípio, a medida é para nosso bem, dizem eles. Subsiste, no
entanto, a par desta generosa intenção, algumas legítimas dúvidas, tais como a
definição precisa do que se entende por “marginais”, “criminalidade
organizada”, “terrorismo” e “atentados contra a sociedade e o estado de
direito”, pois sabemos o quão alargada pode ser a gama e o âmbito destas
expressões, consoante sejam mais ou menos sombrios, os objectivos e
necessidades que os poderes políticos queiram atingir.
Actualmente,
há a persepção que o mundo que nos rodeia se está a tornar perigoso, não apenas
devido ao facto de existir uma grande proliferação de criminalidade, mas também
- e não é despiciendo referi-lo – porque os próprios poderes constituídos,
mesmo intitulando-se adeptos do poder democrático, dos direitos humanos, da
cidadania e da privacidade, não rejeitam recorrer a práticas pouco ortodoxas,
para não dizer ilegais, mais próprias de regimes autoritários e policiais,
sempre que outros interesses falam mais alto, e que nada têm a ver com o
combate à criminalidade, nem com a segurança de pessoas e bens. O que se tem
passado com a polícia secreta portuguesa, usando os seus meios e competências,
para servir objectivos que nada têm a ver com as suas atribuições
institucionais, é bem ilustrativo do que digo.
Quanto
ao povo português, tradicionalmente reconhecido como tendo bons costumes, parece
estar acomodado à música de embalar do poder, o que é lamentável, pois poucos são
os que reclamam. A diferença entre o velho “fiscal dos isqueiros”do tempo
salazarista, que multava o cidadão por não ter licença par acender o cigarro
usando a pederneira, e o fiscal que (no futuro) nos vai inquirir e multar pela falta
de factura do café que acabámos de sorver, parece uma anedótica comparação, mas
é bem mais do que isso; é um novo tipo de fascismo que se insinua, trágicamente
consentido pela maioria, que até acha que pagar imposto sobre o ar que
respiramos, não é nada do outro mundo.
À
custa da lenta perda de liberdade e privacidade, o Estado assume-se como
entidade que tudo faz para aumentar a segurança de pessoas e bens, muito embora
a medida, pelo que atrás se disse, seja ambivalente. Sem suspeitar que o
presente pode estar envenenado, o povo concorda, agradado e confiante, sempre
que é fotografado e filmado, ao assistir e participar em eventos, desde jogos
de futebol, até manifestações de cariz cultural, social, político ou contestatário.
Daqui para a frente, julgamos que estamos sob protecção, mas se calhar, mais incertos
e inseguros, pisando terreno movediço e armadilhado, que pode virar-se contra
nós. Basta que haja quem o queira usar, com outros propósitos, que nada têm a
ver com a segurança de pessoas e bens.
O
“1984” de George Orwell, o “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley e o
movimento Anonymous que despontou a partir da banda desenhada e do filme “V de Vingança”
de James McTeigue, já não são futurologia que nos deixem
sorridentes com a sua ousada imaginação, mas sim perplexos e circunspectos, porque
já não sendo própriamente do reino da ficção, o que agora temos que enfrentar, são
desafios que os cidadãos devem questionar, para que a cidadania e a civilização
não sucumbam às mãos de supostas boas intenções, pois delas, como diz o ditado,
está o inferno cheio.
CONCLUSÃO
Gostava de saber o que pensam os portugueses que me lêem, sobre este assunto. Estou disponível para receber contributos, críticas, opiniões, comentários e sugestões, mesmo que sejam anónimos.
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Admirável Mundo Novo,
Aldous Huxley,
Anonymous,
Comissão de Protecção de Dados,
George Orwell,
James McTeigue,
PVDE/PIDE/DGS,
SIRP,
V de Vingança
domingo, novembro 06, 2011
A Criatividade Tributária
OS REEMBOLSOS de IRS vão deixar de ser automáticos, provavelmente com a economicista desculpa da simplificação e do corte nos procedimentos “supérfluos” do aparelho fiscal. Na verdade, não passa de uma versão lusitana da “Ilha do Tesouro”, uma imaginativa forma de o Estado se apropriar sem ruído dos reembolsos do IRS, pois serão os contribuintes que os têm que ir reclamar ao balcão das Finanças. Imaginem o que a medida implica de reforço de pessoal nos balcões de atendimento, das horas de trabalho perdidas aos contribuintes, e o mais grave de tudo, o quanto dinheiro a Direcção-Geral de Impostos vai abichar, a mando do Estado-salteador e das regras e condicionalismos impostos pelo legislador de serviço, à conta dos prazos excedidos, das nossas distrações e esquecimentos, extravios de correspondência, escassa mobilidade, falecimentos e outras ocorrências.
sábado, novembro 05, 2011
E os Portugueses, Pá?
Excerto
da entrevista concedida ao semanário EXPRESSO por António José Seguro, e
publicada na edição de 5 de Novembro de 2011.
EXPRESSO: - Um Orçamento de Estado (OE)
que o deixa em choque não justifica o voto contra?
António
José Seguro: -
Se estivesse em causa exclusivamente o OE, a minha proposta era que o PS
votasse contra. Mas o que está em causa é a viabilização da continuação de
Portugal na zona euro e a garantia de que continuará a receber os 78 mil
milhões de euros que pediu e que o próprio PS negociou. Distingo entre o
conteúdo do OE do sinal político que um partido responsável deve dar. O sinal
político da abstenção é para defender Portugal. Este não é o meu OE, mas
Portugal é o meu país e eu não volto as costas a Portugal.
(...)
Meu
comentário: Se o conteúdo do OE deixou António José Seguro escandalizado, por
atentar contra os portugueses, e se Portugal é o conjunto do povo português,
não se percebe como se pode defender o país deixando de fora o povo. O que
António José Seguro quer defender é um Portugal vazio.
quinta-feira, novembro 03, 2011
A Incómoda Democracia
AO CONVOCAR
tardiamente (com quase 2 anos de atraso) um referendo para que o povo decida se
quer manter o país subordinado às humilhantes condições de resgate que a “troika”
lhe tem vindo a impor, o governo grego, acossado e cercado, de um lado pelos
insaciáveis "mercados", pelo FMI, o BCE e a UE, e do outro, pelo seu
próprio povo, quer desresponsabilizar-se da situação de caos a que conduziu o
país, e chantageando os eleitores, transferir para a sociedade civil as
consequências da sua inépcia e obstinação.
Continuo
a não perceber como é que metade da dívida da Grécia pode ser perdoada, ao
passo que a sua totalidade não pode ser renegociada. Se ninguém me explicar
este paradoxo, creio que chegou a altura de dizermos basta, e começarmos a
partir a loiça!
Os políticos
andam com a boca permanentemente atulhada com a palavra Democracia, porém, como
afirmou Manuel António Pina, "o medo que esta gente tem da Democracia é
assustador". Apenas recorrem aos seus instrumentos quando se vêem
confrontados com situações-limite, como é agora o caso da Grécia, refém dos
“mercados” e dos seus comissários políticos instalados em Bruxelas e do
todo-poderoso eixo franco-alemão, os quais lhe estão a impor uma austeridade
sem limites, até ao seu empobrecimento e ruína generalizada. E o mesmo guião repete-se
por toda a União Europeia.
Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir ao
projecto europeu. Ninguém perguntou aos povos se queriam aderir a uma moeda
única. Ninguém elegeu os tecno-burocratas que se pavoneiam por Bruxelas. Ninguém
perguntou aos povos se queriam subscrever o tratado de Nice, de Maastricht ou
de Lisboa, e assim sucessivamente, até ao estado actual de bagunça e desunião
em que a Europa se tornou, onde até já se falou em instituir um prodigioso
“imposto europeu”. Tudo foi sendo cozinhado, autoritária e impunemente, pelos
tecnocratas da financeirização das economias, à revelia dos povos que são
remetidos para um papel passivo, até que são confrontados com os factos
consumados, embrulhados na sempre eterna desculpa da crise internacional e dos
tempos difíceis. Para reparar o mal feito, são depois "convidados" a darem
as mãos, fazendo despertar o seu “patriotismo”, a mobilizar os seus
"deveres", aceitando a alienação dos seus "direitos", mais a
degradação das suas condições de vida e a privatização dos seus próprios
recursos.
quarta-feira, novembro 02, 2011
Quem vive muito acima das suas possibilidades é o Estado, a classe política, os gestores públicos
«A
mentira mais repetida na vida política portuguesa é a de que os portugueses
vivem acima das suas possibilidades, trabalham pouco, ganham demasiado e
deveriam poupar mais. Nada de mais errado: este conjunto de mitos constitui um
embuste. (...)»
(Continue
a ler este artigo no blog CARTÓRIO DO ESCREVINHADOR da autoria de Paulo Morais,
Professor Universitário, publicado no jornal CORREIO DA MANHÃ em 1 de Novembro
de 2011)
terça-feira, novembro 01, 2011
Registo para Memória Futura (54)
"O
plano de resgate europeu está a desmoronar-se mais depressa do que eu
pensava"
Afirmação do economista Paul Krugman, Pémio Nobel da Economia de 2008, confrontado com a subida das taxas de juros da dívida soberana italiana a 10 anos. O anúncio do referendo grego, sobre a aceitação ou não do segundo pacote de resgate, mesmo com 50% da anterior dívida perdoada, virá certamente acelerar este processo.
Afirmação do economista Paul Krugman, Pémio Nobel da Economia de 2008, confrontado com a subida das taxas de juros da dívida soberana italiana a 10 anos. O anúncio do referendo grego, sobre a aceitação ou não do segundo pacote de resgate, mesmo com 50% da anterior dívida perdoada, virá certamente acelerar este processo.
O Vendilhão de Notícias
JOÃO
MARCELINO é um nome a fixar. O sujeito podia ter qualquer outra ocupação menos
"mediática", mas calhou-nos em sorte que se tivesse tornado (ou o fizessem) director do DIÁRIO DE NOTÍCIAS, um matutino que se assume como um
jornal diário de referência. Entretanto, ao pontificar nos editoriais do dito, o que diz Marcelino? Diz, nada mais, nada menos, que considera perfeitamente
aceitável que os jornais "vendam" notícias "encomendadas", seja pelo governo, ou qualquer outra entidade.
É
assim uma coisa parecida com um juíz, que em vez de apurar a verdade e aplicar
a justiça, se disponha a "transaccionar" a sua competência, isenção e
o poder que a lei lhe confere, aceitando a incumbência de ocultar ou perverter
provas, a fim de evitar que a verdade se imponha, que um dado arguido seja
condenado, ou sequer se sente no banco dos réus. Ou então que um qualquer
presidente de câmara municipal, “venda” por bom preço os seus préstimos, ao
primeiro especulador imobiliário que o aborde, interessado numa significativa
alteração do Plano Director Municipal (PDM), a favor das suas conveniências.
Dizendo
Marcelino o que diz - e talvez aplicando-o na sua prática quotidiana, sempre
que lhe surge uma boa oportunidade - acaba por converter num mero pasquim,
aquilo que deveria ser um jornal. Quanto a ele, nunca atingirá o patamar de um
simples director, muito menos de um conceituado e respeitado director,
ficando-se por um banal vendilhão de balelas, com direito a ser citado pela
negativa, nos cursos superiores de comunicação.
domingo, outubro 30, 2011
Uma História Verídica e Exemplar
ERA
UMA VEZ um desempregado, com "curriculum vitae" publicado na
internet, e muitas dezenas de outros enviados para empresas que publicam
anúncios de oferta de emprego, possuidor de licenciatura e mestrado em gestão
de empresas, inscrito na Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e na Ordem dos
Economistas. Um belo dia recebeu um telefonema de uma empresa que tinha
consultado o seu “curriculum” na internet, informando que estava à procura de
um colaborador, exactamente com o seu perfil e competências. Marcado o dia e
hora da entrevista, o candidato deslocou-se às instalações da empresa, e depois
de alguma conversa preparatória para "encher chouriços", com um
suposto director de recursos humanos, que fez questão de abordar temas como o
prestígio, a idoneidade, posição no mercado, volume de vendas e estatuto
empresarial, entrou em cena um novo protagonista, um auto-denominado
director-geral da dita, que informou o candidato que estava disposto a
admiti-lo, mas apenas nas seguintes condições:
1
- Não haveria lugar à celebração de qualquer espécie de contrato de trabalho;
2
- A sua retribuição mensal (vencimento mais subsídio de alimentação) seria
efectuada em numerário, isenta de contribuições e impostos legais, assim como
quem contrata um biscateiro canalizador ou assentador de tijolos;
3
- A empresa comprometia-se (apenas verbalmente, claro está!) a celebrar um
contrato de trabalho com o candidato, mas apenas no caso de vir a ser aprovada
pelo Governo a redução de Taxa Social Única (TSU), bem como o prometido
programa de incentivos para as empresas, que previa a concessão de subsídios,
durante seis meses, para quem contratasse trabalhadores há mais de 6 meses na
situação de desemprego;
Postas
estas inegociáveis condições, foi a vez do candidato questionar as suas
condições de trabalho, relacionadas com a função a desempenhar. Constatou que a
empresa possuía um sistema informático antiquado, software contabilístico a
roçar o obsoleto, e os lançamentos relativos às contas de 2011, paralisados
algures no primeiro trimestre. Entretanto, o anterior ocupante de tão sedutor
posto de trabalho, tinha-se despedido ao fim de um mês, e o lugar estava
desocupado já lá vão dois. Durante uma pausa da entrevista, alguém que passava
no corredor perguntou: “este já não é da Manpower, pois não?”, ao que alguém respondeu:
“não, não, chiu, fala mais baixo…”.
Interessante
é o facto de esta dita empresa, instalada num bairro chique de Lisboa, com a
tal implantação a nível nacional, tanto prestigio e os tão invejáveis créditos
firmados - dizem eles - apenas oferecer condições de trabalho mais que
precárias, melhor, clandestinas, razão porque não se arrisca a colocar o seu
anúncio de oferta de emprego, nos habituais meios disponíveis para o efeito,
recorrendo à "pesca à linha" e à “caça aos patos”, oferecendo o
"inexcedível" e "competitivo" contrato de prestação de
serviços atrás descrito, não trocando com os potenciais candidatos, uma única
linha escrita sobre o assunto, para não deixar rasto das suas iníquas intenções.
Como diria o senhor Holmes: “elementar, meu caro Watson, é o mercado de
trabalho em toda a sua exuberância!”.
A
coisa passou-se nos últimos dias de Setembro deste ano de 2011. É óbvio que o
candidato declinou a tentadora oferta.sábado, outubro 29, 2011
Benefícios e Malefícios
DEPOIS de terem andado a convencer-nos que
devíamos deixar o egoísta e poluidor transporte particular à porta de casa,
recorrendo aos transportes colectivos, e deles colhendo benefícios, tais como o
serem desconcentradores de tráfego e mais amigos do ambiente, o Governo decidiu
premiar a nossa adesão aos mesmos, retaliando com a redução das carreiras,
alargando a frequência daquelas e aumentando o preço das tarifas. Agora, para
que não vejamos a prometida luz ao fundo do túnel, o Metro de Lisboa, a mando
do Governo, está a estudar a possibilidade de encerrar a rede a partir das 23
horas, sendo que algumas estações poderão antecipar o encerramento para as 21h.
Bem pesados os malefícios destas medidas desincentivadoras, só há uma conclusão
a tirar: com amigos destes os portugueses não precisam de inimigos.
sexta-feira, outubro 28, 2011
Quem Tira aos Pobres…
EMBORA não seja crente, não sou indiferente ao que
postulam as encíclicas Rerum Novarum do papa Leão XIII, datada de 1891, a Mater
et Magistra de João XXIII, de 1961, e a Populorum Progressio de Paulo VI, de
1967. Entretanto, nos tempos que correm, ainda não ouvi ninguém dizer, com
indignação e veemência, que quem tira aos pobres ofende a Deus.
quinta-feira, outubro 27, 2011
Orfandade
ALGUÉM alguma vez viu, em algum lugar, ser criada uma MOEDA sem o suporte de um ESTADO? Não viu, nunca existiu, nem existirá, e o que actualmente existe com o nome de EURO está condenado a fracassar, por ter a pretenção de ser a moeda de uma desunião europeia. Toda a porta tem a sua casa, todo o ministro o seu governo e todo o comandante o seu navio, salvo os projectos surrealistas, as anedotas de salão e os navios-fantasma.
quarta-feira, outubro 26, 2011
Novos Tempos, Novas Teorias
PEDRO
Passos Coelho, durante uma conferência promovida pelo DIÁRIO ECONÓMICO, assegurou
que Portugal apenas pode sair da crise empobrecendo, tanto em termos relativos
como absolutos, paradoxo que contraria tudo o que se sabe sobre economia, isto
é, que apenas se conseguem ultrapassar as situações de crise económica, criando
riqueza, e não o seu contrário. Já Paulo Portas, durante uma sessão da Comissão
Parlamentar de Assuntos Europeus, vaticinou que os caminhos para a salvação do
país, estão repletos de sacrifícios e de dor, expressões que associadas ao
empobrecimento garantido por Passos Coelho, têm o seu quê de fatalismo bíblico.
Há
uns anos atrás fomos confrontados com uma doutrina muito querida a G.W.Bush,
que abrangendo aplicações desde a área militar até à àrea económica, dava pelo
nome de "destruição criativa", uma coisa com pretensões a ser um novo
paradigma civilizacional. Será que esta espécie de empobrecimento controlado de
Pedro Passos Coelho, no seguimento do que António José Seguro sugeriu, quando
disse que os portugueses deviam interiorizar a austeridade, isto é, aceitá-la
como um facto consumado e coisa sua, postura a que deu o bizarro nome de
"austeridade inteligente", tudo isto associado ao misticismo de Paulo
Portas, são caminhos convergentes para a versão lusitana de uma nova teoria
económica, ou será que tudo isto não passa de uma técnica para amedrontar os
portugueses, fazendo-os acreditar que são os principais culpados pelo
descalabro, e que todos vivemos afinal, sem decoro, numa riqueza faustosa?
Porque
é preciso manter a higiene em níveis aceitáveis, que tal aqueles senhores deixarem
de bolsar tantas obscenidades e provocações?
terça-feira, outubro 25, 2011
Uma Pergunta Inofensiva
A QUE
propósito e com que fundamento a Assembleia da República nomeou o deputado
Ricardo Rodrigues, para o
Conselho Geral do Centro de Estudos Judiciários, quando o dito cavalheiro, por
não poucas e gravosas razões - entre as quais o ser especialista em acções directas sobre bens alheios - é reconhecido como uma pessoa pouco recomendável?
sexta-feira, outubro 21, 2011
As sombras sortílegas
No caminho, assentou a canseira.
Nem vestígios das tuas pegadas.
Solitárias, as velhas estradas
sob um manto de sol e poeira.
Do
que foste ou não foste, não mais
a
memória guardou o registo.Neste Mundo de Cristo sem Cristo,
são de inércia e renúncia os sinais.
Sob
a noite, as estradas paradas,
rememoram
silêncios em guardae sortílegas sombras vadias...
São as horas, no tempo cansadas,
a velar a promessa que tarda
duma aurora que nunca verias...
José-Augusto de Carvalho
16 de Outubro de 2011.Viana * Évora * Portugal
quarta-feira, outubro 19, 2011
Pensões e Hotéis de 5 Estrelas
CONTRARIANDO
as palavras do ministro das Finanças Victor Gaspar, que disse durante a
apresentação do Orçamento de Estado para 2012 não haver grupo social que não
seja chamado a contribuir para este esforço, veio a ver-se, as pensões
vitalícias auferidas pelos antigos titulares de cargos políticos, não eram abrangidas
pelo esforço adicional de austeridade que, como se sabe, será exigido aos
funcionários públicos e pensionistas, como punição por serem os mais bem pagos
do país e andarem a gastar acima das suas possibilidades.
No
dia seguinte, confrontado com o abismo entre as palavras e os factos, o
ministro Victor Gaspar acabou por reconhecer que a coisa tem que ser corrigida,
adiantando mesmo que se irá mais longe, aplicando limitações ao escandaloso número
de pensões que os políticos podem acumular.
Eu
já estava preocupadíssimo e a questionar os meus botões, mas afinal, tanto Mário
Soares como Jorge Sampaio e Almeida Santos, entre muitos outros coleccionadores
de pensões vitalícias, já não estarão naquele desesperado estado de
necessidade, senão mesmo de indigência, em que eu os imaginava, ao ponto de
serem dispensados de contribuir com o seu quinhão para a superação da crise.
terça-feira, outubro 18, 2011
Registo para Memória Futura (53)
«Em
Portugal não existem indignados, apenas resignados.»
Declaração de um cidadão frente à
Assembleia da República, quando confrontado com a exígua presença de uma
vintena de resistentes da acção do dia 15 de Outubro.
segunda-feira, outubro 17, 2011
De Surpresa em Surpresa
ESTA
CAIXINHA de surpresas do défice das contas públicas é inesgotável. O problema poderia
ter sido resolvido com uma auditoria feita a tempo e horas, e de uma vez por
todas, mas assim dá muito mais jeito, com o aparecimento de buracos,
buraquinhos e buracões, a pedido e conforme as necessidades. Elas, as
surpresas, vão chegando em pequenas doses, pé-ante-pé, aos bochechos ou a
conta-gotas, para não provocarem sobressaltos ou reacções adversas, mas a
verdade é que todos os dias há uma nova surpresa. A mais recente, e mesmo em
cima da discussão do Orçamento de Estado para 2012, informa-nos que os cortes
dos subsídios de Natal e de férias a funcionários públicos e pensionistas que ganhem mais de mil euros não vão chegar para cobrir o buraco do Banco Português de Negócios (BPN), o tal que nas palavras do presciente, pretérito e lastimável ex-ministro Teixeira dos Santos, "praticamente não teria custos para os contribuintes". Entre a inexcedível capacidade de cálculo do senhor Teixeira dos Santos e as contas feitas às três pancadas pelo senhor Victor Gaspar, faltará qualquer coisa como uma bagatela de 150 milhões de euros que, ficamos já avisados, serão incluídos no próximo raide carteirista que o governo se proponha efectuar sobre os contribuintes.
Estou certo que havemos de voltar a ouvir falar do infindável caso do BPN. Já o mesmo não digo do exilado voluntário Manuel Dias Loureiro, calma e pacificamente aboletado em Cabo Verde, a aguardar pacientemente que o assunto caia no esquecimento, pois se até os inefáveis tribunais se consideraram incompetentes para julgar o caso...
Estou certo que havemos de voltar a ouvir falar do infindável caso do BPN. Já o mesmo não digo do exilado voluntário Manuel Dias Loureiro, calma e pacificamente aboletado em Cabo Verde, a aguardar pacientemente que o assunto caia no esquecimento, pois se até os inefáveis tribunais se consideraram incompetentes para julgar o caso...
domingo, outubro 16, 2011
Atordoar, Congelar e Extorquir
Artigo do economista Eugénio Rosa, publicado
em 14.10.2011. O título do post é de minha autoria.
Mais 7.000 milhões € de riqueza para os
patrões, nada para os trabalhadores, corte de 1.682 milhões € no rendimento dos
pensionistas e de 952 milhões € aos trabalhadores da função pública, mas os rendimentos
do capital continuam a ser poupados aos sacrificios: eis o que Passos Coelho
anunciou
Tal
como sucedeu com o subsidio do Natal em que praticamente os atingidos pelo IRS
extraordinário foram apenas os trabalhadores e pensionistas, que têm de pagar
ainda este ano mais 800 milhões € de IRS segundo as contas do próprio governo,
tendo sido poupado os rendimentos do capital (dividendos, juros, mais-valias),
também agora Passos Coelho anunciou para 2012 mais medidas de austeridade em
que os atingidos são outra vez os trabalhadores, os pensionistas e os
aposentados. Novamente os rendimentos de capital (dividendos, juros e
mais-valias) ficam imunes aos sacrifícios.
A
sobretaxa de IRC a aplicar às empresas com lucros elevados e o novo escalão de
IRS aos rendimentos mais elevados foi criada por este governo com o objectivo
de enganar a opinião pública. Em primeiro lugar, os valores a obter com elas
são irrisórios (menos de 100 milhões € em cada) quando comparamos com os
sacrifícios que estão a ser impostos aos trabalhadores e pensionistas. Em
segundo lugar, porque não atinge a principal fonte de enriquecimento dos
grandes patrões, que são os rendimentos de capital, ou seja, dividendos, mais-valias,
juros, etc., E estes rendimentos ou continuam isentos (a maioria), ou então
aqueles que pagam IRS (apenas uma pequena parcela) estão sujeitos a uma taxa
liberatória de 21,5% ou ainda menos que não é aumentada.
Para
os grandes patrões não são as remunerações sujeitas a IRS que, embora
gigantescas quando comparadas com as recebidas pela generalidade dos
trabalhadores, constituem a principal fonte da sua riqueza, já que elas
representam apenas uma pequeníssima parcela quando as comparamos com os
dividendos, juros, e mais-valias que são recebidas através de sociedades
gestoras de participações sociais (SGPS) ou de Fundos, ou que são transferidas
para empresas que criaram no estrangeiro, como a Amorim Energia sediada na
Holanda através da qual recebe os dividendos da GALP, e que, de acordo com a
lei fiscal portuguesa (artº 14 e 51 do Código do IRS, e artº 22º, 23º, 27º e
32º do Estatuto dos Benefícios Fiscais), todos eles estão isentas de pagamento
de impostos. Para além disso, os grandes patrões facilmente fogem ao escalão
mais elevado de IRS: Para isso, basta que reduzam a sua remuneração (até dão um
“ar” de que estão a fazer também sacrifícios) e depois recebem esse valor
através de dividendos cuja esmagadora maioria continuarão isentos
É
evidente que ao poupar novamente os rendimentos do capital, este governo, para
além de mostrar o seu espírito de classe, e que interesses defende, vai
aumentar ainda mais as desigualdades e a injustiça em Portugal, e as
dificuldades das famílias das classes médias e de baixos rendimentos
Para
que se possa ficar com uma ideia clara da dimensão desse ataque, e dos
benefícios para os patrões, vamos quantificar apenas três das medidas
anunciadas por Passos Coelho: o aumento de meia hora de trabalho por dia cuja
produção reverte integralmente para os patrões, o corte no subsidio de férias e
de Natal aos reformados e aposentados com pensões superiores a 1000€/mês e
também aos trabalhadores da Função Pública.com remunerações superiores a 1000
euros/mês.
O aumento de meia hora no horário de
trabalho diário dá por ano aos patrões mais 7.002 milhões € de riqueza
Se
dividirmos o valor do PIB previsto pelo INE para 2011 (171.320,6 milhões €)
pela população empregada (4.893.000
portugueses no 2º Trimestre de 2011 segundo o INE) obtém-se 35.013 €/
ano por empregado. Dividindo este valor pelo número médio anual de horas de
trabalho obtém 19€/PIB/por hora. Se multiplicarmos este valor pelo número médio
de dias de trabalho por ano, e depois por meia hora dia e seguidamente pelo número
de trabalhadores por conta de outrem (3.200.000 sem incluir os trabalhadores da
Função Pública) obtém-se 7.002.681.382 de euros. E ainda mais que a redução
prevista pelo governo na Taxa Social Única paga pelos patrões. É esta
gigantesca riqueza que o governo PSD/CDS pretende dar de mão - beijada aos
patrões. Tudo para os patrões, nada para
os trabalhadores produtores de riqueza: - este é o lema do governo PSD/CDS.
O governo do PSD/CDS pretende fazer mais
um corte de 1.682 milhões nos rendimentos dos pensionistas e de 952 milhões nos
trabalhadores da função pública
Em 2011, as pensões de todos os reformados e
aposentados foram congeladas. E os preços até Setembro deste ano já aumentaram
3,6%. Em 2012, o governo pretende congelar novamente a esmagadora maioria das
pensões (apenas as inferiores ao limiar da pobreza é que poderão ser
actualizadas). Como tudo isto já não fosse suficiente o governo pretende ficar
com o subsídio de férias e de Natal dos reformados e aposentados com pensões
superiores a 1000€. Em 2012, na Segurança Social estimamos que sejam atingidos
cerca de 200.000 reformados com uma pensão média ponderada que rondará os
1890€/mês, e na CGA 235.000 com uma pensão média ponderada de 1970€/mês. Dois
meses de pensão para estes 435.000 pensionistas representarão um corte nos seus
rendimentos que estimamos em 1.682 milhões euros por ano. Também é intenção do
governo ficar com o subsídio férias e de Natal dos trabalhadores da Função
Pública em 2012 com remunerações superiores a 1000€/mês. Se tal intenção se
concretizar, estes trabalhadores, que nos últimos anos, já perderem cerca de
14% no seu poder de compra sofrerão mais um corte nos seus rendimentos que
estimamos em 952,6 milhões € em 2012. Em 2011 estes trabalhadores tiveram suas
remunerações congeladas, e em 2012 e em
2013 as suas remunerações continuarão congeladas. Para além disso, os
trabalhadores da Função Pública e os pensionistas que recebem mais de 485€ e
menos de 1000€ sofrerão um aumento da taxa de IRS igual a um subsídio.
sexta-feira, outubro 14, 2011
Então e os Ricos, Pá?
Colagem sobre o discurso do
primeiro-ministro Pedro Passos Coelho na apresentação do Orçamento do Estado
para 2012
(...)
Não preciso de vos dizer que vivemos momentos da maior gravidade. Todos os
Portugueses estão a sentir nas suas vidas os efeitos de um terrível
estrangulamento financeiro da nossa economia.
- Todos os portugueses não! Então e os
ricos, pá?
(...)
O ajustamento terá de ser muito profundo. Isso implica um esforço adicional aos
objetivos já exigentes a que estávamos comprometidos para 2012. E significa que
neste orçamento que será apresentado aos Portugueses nos próximos dias teremos
de fazer um esforço redobrado de consolidação.
- Esforço redobrado de consolidação é
uma expressão muito vaga! Então e os ricos, pá?
(...)
Por tudo isto, o orçamento para 2012 é absolutamente decisivo e coincide com o
momento em que muito duramente enfrentamos a realidade. Em tempos de
emergência, o tempo é ainda mais precioso, o rigor ainda mais indispensável, a
coesão interna ainda mais necessária.
- Coesão para os beneficiários do
costume se rirem da austeridade, não! Então e os ricos, pá?
(...)
o Governo decidiu permitir a expansão do horário de trabalho no setor privado
em meia hora por dia durante os próximos dois anos, e ajustar o calendário dos
feriados.
- Trabalhar de borla não! Então e os
ricos, pá?
(...)
Estas medidas respondem diretamente à necessidade de recuperar a
competitividade da nossa economia e evitam o desemprego exponencial que a
degradação da situação das nossas empresas produziria. Este é o modo mais
eficaz e mais seguro de operar um efeito de competitividade.
- Onde é que já se viu aumentar a
jornada de trabalho para evitar o desemprego? Então e os ricos, pá?
(...)
Este Governo não se limita a pedir sacrifícios e a impor limites. Queremos
resolver os nossos problemas com mais trabalho, mais ideias, mais espírito de
entreajuda e cooperação entre todos. Este é o meio mais adequado para, no meio
de tantas restrições, ampliarmos a nossa capacidade económica de criação de
riqueza.
- A propósito de cooperação e sacrifícios,
então e os ricos, pá?
(...)
Não nos devemos permitir decisões de último recurso. Temos de salvaguardar o
emprego. É a pensar na conjugação das necessidades financeiras com a prioridade
do emprego que o orçamento para 2012 prevê a eliminação dos subsídios de férias
e de Natal para todos os vencimentos dos funcionários da Administração Pública
e das Empresas Públicas acima de 1000 euros por mês.
- Então os rendimentos de capitais não
contribuem para nada, pá?
(...)
Os vencimentos situados entre o salário mínimo e os 1000 euros serão sujeitos a
uma taxa de redução progressiva, que corresponderá em média a um só destes
subsídios. Como explicaremos em breve aos partidos políticos, aos sindicatos e
aos parceiros sociais, esta medida é temporária e vigorará apenas durante a
vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira.
- Então as grandes fortunas não
contribuem para nada, pá?
(...)
No orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e
da Educação. Neste aspecto, fomos até onde pudemos ir - no combate ao
desperdício, nos ganhos de eficiência.
- Não foram até onde deviam ir! Então e
os ricos, pá?
(...)
No caso do IVA, teremos de obter mais receitas do que o que estava desenhado no
Memorando de Entendimento. Para este efeito, o orçamento para 2012 reduz
consideravelmente o âmbito de bens da taxa intermédia do IVA, embora assegure a
sua manutenção para um conjunto limitado de bens cruciais para sectores de
produção nacional, como a vinicultura, a agricultura e as pescas.
- Então e os ricos, pá?
(...)
Como sabem, a redução das pensões de reforma era uma medida prevista no
Memorando de Entendimento. Tal como para os salários da Administração Pública e
das Empresas Públicas, teremos de eliminar os subsídios de férias e de Natal
para quem tem pensões superiores a 1000 euros por mês. As pensões abaixo deste
valor e acima do salário mínimo sofrerão em média a eliminação de um só destes
subsídios.
- Então e os ricos, pá?
(...)
Compreendo muito bem a frustração de todos os Portugueses que olham para trás,
para estes últimos anos, e se perguntam como foi possível acumular tantos erros
e somar tantos excessos. Tivemos tantas oportunidades para inverter o rumo e
limitámo-nos a encolher os ombros.
- Então e os ricos, pá?
(...)
Um orçamento do Estado é muito mais do que um simples exercício de
contabilidade. Nele estão vertidas escolhas políticas fundamentais. Escolhas
para o nosso presente e para o nosso futuro.
- As escolhas políticas fundamentais,
esqueceram um pormenor! Então e os ricos, pá?
(...)
Está inscrito um novo rigor no respeito pela lei e pelo Estado de Direito, pelo
princípio da responsabilidade social, o que significa que seremos implacáveis
com a evasão fiscal e agravaremos a tributação das transferências para
off-shores e paraísos fiscais.
- De promessas temos nós um saco cheio!
Então e os ricos, pá?
(...)
Temos de olhar para os exemplos recentes de países que, optando por fazer os
seus processos de ajustamento com inteligência e responsabilidade, souberam
ultrapassar as suas dificuldades bem mais rapidamente do que diziam as
previsões e abriram um período de prosperidade que seria impossível de outro
modo.
- Então e a Grécia não te diz nada, pá?
(...)
Quis nesta ocasião falar a todos os Portugueses porque mais do que nunca o
cumprimento dos objetivos nacionais, a cabal execução do orçamento para 2012, a
superação da emergência nacional depende em absoluto do contributo de todos.
- Do contributo de todos, não! Então e
os ricos, pá?
(...)
Depende da competência e liderança do Governo, da diligência e dedicação das
Administrações Públicas, da inovação e criatividade dos empresários, da
confiança e serenidade dos investidores, do profissionalismo e energia dos
trabalhadores. Depende da cooperação dos parceiros sociais, do dinamismo das
instituições da sociedade civil, do diálogo construtivo com os partidos da
oposição, em particular com o maior partido da oposição que tem nesta matéria
uma oportunidade de evidenciar um elevado sentido de responsabilidade e de
serviço ao País.
- Ah sim, então e os ricos, pá?
terça-feira, outubro 11, 2011
Registo para Memória Futura (52)
"Alguma coisa está a acontecer. O que é, não é exactamente claro, mas podemos, finalmente, estar a ver o surgimento de um movimento popular que, ao contrário do Tea Party (*), está irritado com as pessoas certas."
Comentário
do economista norte-americano Paul Krugman, galardoado com o Prémio Nobel da
Economia de 2008, sobre o movimento Occupy Wall Street, o qual, tendo-se
iniciado no centro financeiro de Nova Iorque, rapidamente se estendeu a outras
cidades dos E.U.A., tais como Boston, Chicago, Los Angeles, Portland, São
Francisco, entre outras, manifestando-se contra a ausência de repercussões
legais sobre os responsáveis e beneficiários da crise financeira nos Estados
Unidos, Europa e outras partes do mundo, e exigindo medidas contra as desigualdades
sociais, a voracidade empresarial e o sistema capitalista como um todo.
(*) Tea Party – Movimento social e político norte-americano, populista, conservador, de ultradireita, constituído em 2009 após a eleição do presidente Barack Obama. Embora seja uma miscelânea de variados grupos ultra-radicais, as suas opiniões coincidem, em linhas gerais, com as do Partido Republicano. Defende uma política fiscal conservadora e tem por objectivo contestar as principais medidas de cariz social da administração Obama, nomeadamente os pacotes de estímulo para o relançamento da economia e, fundamentalmente, o projecto de reforma do sistema de Saúde. Consideram que os Estados Unidos estão à beira de resvalar para uma experiência socialista, e sob essa pretensa ameaça, trabalham afincadamente para evitar a reeleição de Barack Obama.
segunda-feira, outubro 10, 2011
Chamar os Bois pelos Nomes
«(...)
As coisas estão neste estado porque se fizeram (e continuam a fazer) escolhas
políticas criminosas. Porque os governos são estúpidos? Não. Porque são
politicamente corruptos. Quando vemos António Borges a dirigir o Departamento
Europeu do FMI e Mario Draghi à frente do Banco Central Europeu e sabemos que
os dois foram vice-presidentes da Goldman Sachs - que foi quem ganhou com a
crise do "subprime" e que ajudou a Grécia a mascarar a verdadeira
dimensão do seu défice -, percebemos de quem estamos reféns. De gente com um
currículo que deveria ser considerado cadastro.»
Excerto do artigo de opinião de Daniel
Oliveira, intitulado "Capitalismo de Candonga", e publicado no
semanário EXPRESSO de 8 de Outubro de 2011. O título do post é de minha
autoria.
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