segunda-feira, março 31, 2008

Flic-Flac

F
Era só o que nos faltava! Agora, também o Presidente da Assembleia da República, aliás, o mais alto representante do Estado Português, a seguir ao Presidente da República, achou por bem abandalhar o ambiente político, com um toque muito pessoal. Como é sabido e recordado, o Dr. Jaime Gama, em 1992, acusou o obstinado, incorrigível e asqueroso Alberto João, Presidente do Governo Regional da Madeira, de ter um porte assumidamente antidemocrático, por força do seu autoritarismo, insolência e desrespeito pelos adversários políticos, logo de estar em pé de igualdade com um qualquer tiranete africano, comparando-o, para o efeito, ao sanguinário Bokassa, que à época se havia auto-proclamado “imperador” da República Centro-Africana.
Pois bem, agora, passados uns anitos, durante o congresso da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias) que reuniu no Funchal, o senhor Gama mudou de bitola e discurso, passando o mesmo Alberto João a ser apresentado como um case study de sucesso, um exemplo "notável" de "trabalho, sacrifício, tenacidade e determinação" e que, "apesar das divergências políticas", "temos de reconhecer que esta obra histórica tem um rosto e um nome. E esse nome é o do presidente do governo regional da Madeira". Alberto João Jardim entra assim directamente na lista dos "grandes talentos" madeirenses, ao lado do poeta Herberto Helder e do internacional de futebol Cristiano Ronaldo, como o "exemplo supremo da vida democrática do que é um político combativo, dr. Alberto João Jardim".
Depois deste arrazoado, ou o senhor Gama está com um sério problema de identidade ou de memória, ou então, ao abandonar a sua habitual postura reservada, decidiu assumir-se como um típico “vira-casacas”, e adular, vá-se lá saber porquê, com encómios e rutilantes rendilhados o “soba” da Madeira, ao ponto de ter deixado estarrecidos os seus próprios correligionários. Esses mesmo, os que vivem na ilha um clima de sistemática perseguição, acabaram a aprovar na Comissão Regional do PS/Madeira um voto de protesto por tão inusitada quanto despropositada enxurrada de elogios. Instado pelos jornalistas a explicar a razão da sua reviravolta, o senhor Gama terá dito que a Madeira de hoje já não é o que era. Pois, não, lá isso é verdade, dizem os de lá! Feitas as contas, estará mesmo bem pior.
Em política vê-se muita coisa, no entanto, vindo de quem vem, continua por explicar a que propósito se deve tão súbito e espectacular “flic-flac”.

domingo, março 30, 2008

Portugal Europe’s West Coast

P
Está um bocado fora de prazo para ser uma notícia, mas a expressão vale pelo seu curioso conteúdo. Em 10 de Dezembro de 2007, altura do lançamento da campanha Portugal Europe’s West Coast, que visava reposicionar e promover o país, identificando-o (geograficamente, claro está!) com a costa ocidental da Europa, o inexcedível e inexplicável ministro (?) da nossa economia Manuel Pinho, com a loquacidade a que sempre nos tem habituado, afirmou que com aquela iniciativa se pretendia “associar a imagem de Portugal a um país que anda para a frente”. Passados quase quatro meses sobre o evento, e se o objectivo da prestimosa frase era induzir optimismo à nossa calamitosa economia, e não contrariar o andar do caranguejo, os resultados estão bem à vista.
N
Nota – Entretanto, diz o jornal PÚBLICO de hoje, que este mesmo impagável ministro (?) da nossa economia (?) Manuel Pinho, sempre hirto, atento e vigilante, em relação aos interesses da Nação, do Estado e do Governo (?), já em 2005, chamou ao seu gabinete o economista António Borges, militante do PSD e administrador em Portugal da instituição financeira Goldman Sachs, para lhe comunicar que todos os contratos do Estado com o seu banco iriam ser cancelados. A “erecção” ministerial teve a ver com a promessa assumida de António Borges, durante o congresso do PSD, de ir reforçar a sua oposição ao governo, coisa que não agradou à recém-empossada “claque socretina”.

sábado, março 22, 2008

Notas de Rodapé

N
1. A sistemática política de desqualificação do interior do país, confinante com a raia, que os nossos governos insistem em dizer que querem contrariar, muito embora a sua acção tenha resultados contrários, levando ao seu abandono e desertificação, está a ser bem aproveitada pelos vizinhos espanhóis, os quais estão a transformar as linhas de fronteira, pouco menos que umas esbatidas linhas imaginárias. Veja-se a quantidade de propriedades, situadas em território português, que têm sido adquiridas por empresas espanholas do sector agro-pecuário, e repare-se em quem está efectivamente a beneficiar do Alqueva, o maior lago artificial da Europa.

2. José Pacheco Pereira, autor do blogue ABRUPTO e participante na mesa redonda do programa QUADRATURA DO CÍRCULO, tem centrado as suas preocupações, nos supostos “delitos” de opinião, que teriam sido cometidos por alguns comentadores (ele incluído), que apoiaram a invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América, argumentando que quem tomou tal posição, não adoptou a condenação da surtida, porque tal era uma escolha “fácil”, destinada a agradar ao povo de esquerda.
Na altura, li a sua opinião, discordei, mas segui em frente. Tempos depois José Pacheco Pereira deu a mão à palmatória, por ter aderido ao falso pretexto das ADM (armas de destruição massiça), e aceitei a desculpa. O engano é humano, e só não tem desculpa quem é reincidente (o que quer dizer que não aprendeu com a experiência) ou que está mal intencionado. Portanto, e querendo rematar o seu artigo sobre um suposto “delito de opinião” sobre a invasão do Iraque, não me venha agora com essas tergiversões, porque o que lá vem na sua prosa, é muita reflexão e psicanálise (coisas sempre bemvindas), mas que no ponto em que estamos da realidade, já não tem ponta por onde se lhe pegue.
Resumindo: Incluo-me entre os que se opuseram à invasão e ocupação do Iraque, argumentando que, muito pior do que o falso pretexto e as incipientes provas de existência das ADM, sublinhadas e assinadas pelo insuspeito Hans Blix, era aquela ter sido levada a cabo ao arrepio de todas as regras do direito internacional, e de todos os mecanismos preventivos, disponíveis pelas instâncias das Nações Unidas. E invoquei estes mesmos argumentos, quando a NATO se aplicou a bombardear os sérvios, a Sérvia e a capital Belgrado, no auge do desmantelamento da antiga Jugoslávia.
Quem não subscreveu este ponto de vista, paciência! Ou se retratou posteriormente, face aos factos e evidências, o que é saudável e intelectualmente digno, ou insiste no erro, e isso é cegueira em último grau, mascarada de perverso optimismo.

3. Vital Moreira está para Sócrates assim como Graça Moura está(va) para Cavaco. Quando quer falar acerca de tudo, acaba por não dizer nada, e quando lhe falta assunto acaba por inventar. Mau grado os desatinos “socretinos”, ainda restam algumas causas em que me identifico com ele. Ah, já me esquecia! Ainda espero conhecer qual a sua opinião sobre uma coisa chamada flexisegurança, que ele achou que deveríamos, por razões de economia articulativa, soletrar apenas como “flexigurança”.

sábado, março 15, 2008

Sobre a Democracia

S
A edificação e a manutenção de uma democracia não pode alicerçar-se, apoiar-se e depender exclusivamente de partidos políticos e eleições, descurando a base institucional do regime. A estruturação e a conservação de uma democracia legitima-se nas instituições do primado do direito, pois apenas elas podem garantir que as regras democráticas sejam respeitadas e cumpridas. Como alguém disse, é o direito e a justiça, como poder autónomo do executivo e legislativo – e não os princípios democráticos em si – que asseguram os direitos, liberdades e garantias, e sustentam a sua contrapartida de deveres. A constituição, cujo objectivo central é proteger as minorias e os vencidos (saídos das disputas eleitorais, bem entendido), é mais importante do que as maiorias conjunturais que possam advir de eleições.
Assim, começa a ser preocupante vermos os magistrados e os juízes insinuarem-se e pactuarem com o poder político, circulando e traficando funções nos palcos e bastidores, fazendo tábua rasa das regras do exercício da justiça, além de negligenciarem e atropelarem as próprias leis da República. Porque são o derradeiro poder a que a sociedade recorre, para que seja feita justiça e assegurados os tais direitos, liberdades e garantias, em suma, o cimento da democracia, temos o direito e o dever de exigir que façam o trabalho bem feito e de forma isenta, pois é isso que se espera deles e, em desespero de causa, é para isso que lhes pagamos.
A propósito das implicações que sustentam a vitalidade da democracia, vem muito a propósito um provérbio chinês, que vi há dias citado num filme menor, onde se dizia que a falta de um prego tinha levada a que se perdesse a ferradura, com a falta da ferradura se tinha perdido o cavalo, com a falta do cavalo a mensagem não foi entregue ao general, e por causa da mensagem que era vital e não foi entregue, o general acabou por perder a guerra. Trasladando o provérbio para o tema que nos interessa, a falta do prego pode ser comparada com a leviandade e pouca clarividência dos juízes, que pode levar a que o povo comece a descrer da justiça porque ela não cumpre a sua função de dirimir os abusos da política, acabando por ficarem escancaradas as portas que deixam passar todos os excessos e atropelos que, fatalmente, farão prevalecer a tirania sobre a democracia. Um poder judicial volúvel é meio caminho para o totalitarismo.

sexta-feira, março 14, 2008

A Cidade Fascinante (1)

A
Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha
Localização: Lisboa, Freguesia da Madalena, Rua da Alfândega
Autoria: Arquitectos Francisco António Ferreira Cangalhas e Honorato José Correia
Fachada: Artur Pastor, s.d., Arquivo Municipal de Lisboa

Em 1496 a judiaria grande é extinta e a sua sinagoga é incorporada para o culto cristão transformando-a em Igreja da Conceição dos Freires, coincidindo com o estabelecimento de uma nova paróquia, a de Nossa Senhora da Conceição.
Com o terramoto de 1755 a Igreja da Conceição dos Freires é demolida e os seus bens são integrados num outro edifício também de invocação a Nossa Senhora da Conceição, passando então a chamar-se de Conceição Velha.
A Igreja de uma só nave possui um portal manuelino, raro exemplar da representação de Nossa Senhora da Misericórdia, cujo manto aberto e seguro por dois anjos, protege o rei D. Manuel I e a sua irmã a Rainha D. Leonor, fundadora das Misericórdias em Portugal.
O altar-mor corresponde à capela do Santíssimo Sacramento da antiga Igreja da Misericórdia. Junto da capela-mor pode-se encontrar o quadro dedicado à Nossa Senhora do Restelo, oferecido pelo Infante D. Henrique aos freires.
Informação do site REVELAR LX
Este portal é o que resta da Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, que data do séc. XVI, depois desta ter sido destruída pelo Terramoto de 1755. De origem manuelina, este elaborado portal está decorado com muitos pormenores do seu estilo, como os animais, a cruz da Ordem de Cristo, os anjos, as flores e esferas armilares. No tímpano, a Virgem Maria abre o seu manto protector sobre figuras contemporâneas como D. Manuel I e a irmã, o papa Leão X e a Rainha D. Leonor. Hoje, no lugar da anterior Igreja, está erigida a Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha, com um interior um tanto ou quanto sombrio e um tecto invulgar, onde se encontra uma estátua de Nossa Senhora do Restelo, que veio da Capela de Belém, onde rezavam os navegadores antes de partirem nas suas viagens.
Informação do site IN LISBOA.COM
NOTA: Há uns anos atrás, penso que entre 2003 e 2005, foram efectuados trabalhos de restauro no templo, que já teriam terminado, porém, mantém-se suspenso no janelão esquerdo, ocultando-o parcialmente, um pendão em muito mau estado e quase ilegível, que alguém se esqueceu de remover, desenobrecendo aquela magnífica fachada.

quarta-feira, março 12, 2008

Carro do Povo

C
Do meu amigo A.C.S. recebi esta foto do seu “clássico” de estimação, bem como o texto da ficha técnica, apresentação e historial do modelo. Este exemplar recomenda-se e ainda “está para as curvas”. O actual dono só o cede a quem garantir a longevidade daquele “amigo do peito”. Aceitam-se licitações para este
E-MAIL.
A

CERTIFICADO

Eu abaixo-assinado, Minor, da família Morris, certifico que o Humano A.C.S. esteve presente nesta data no passeio organizado por um grupo de amigos que se juntaram ao meu dono na comemoração do cinquentenário do meu nascimento.
Aos donos e aos carros os meus agradecimentos, fazendo votos para que estes últimos nunca sejam abandonados e que gozem do mesmo carinho e cuidados que o meu dono A.C.S. me dispensa, para que muitos de vós possam atingir ou até ultrapassar a minha idade com a saúde que hoje desfruto.
Atalaia, ao primeiro dia do mês de Junho, do Ano da Graça de dois mil e três.
Assinado: Minor - EB-19-49

FICHA TÉCNICA

Marca: Morris
Modelo: Minor Saloon, (4 door split screen)
Ano: 1953
Matrícula: EB-19–49, de 01.06
Motor: 4 cilindros em linha, válvulas à cabeça.
Cilindrada: 948 cm3.
Potência: 37 Cv.
Velocidade Máxima: 121 Km/h
Carroçaria: Monobloco de aço
Suspensão Dianteira: Independente - barra de torção com amortecedores "de braço".
Suspensão Traseira: Independente - molas de lâminas e amortecedores "de braço".
Sistema de Travagem: Hidráulico de tambor às quatro rodas.
Transmissão: Caixa manual de 4 Velocidades, 1ª e 2ª não sincronizadas.
Pneus: 5.00 – 14 ; Pressão (Fr/Tr) : 22/24 lb.
Comprimento Total: 3,76 m.
Largura Total: 1,55 m.
Distância entre Eixos: 2,185 m.
Lotação: 4 Lugares.
Tara: 750 Kg.
Consumo médio: 6,6 a 7,8 Litros aos 100 Km.
Versões: Saloon de 2 e 4 portas, Convertible, Traveller, Van e Pick-up.

APRESENTAÇÃO

O modelo apresentado ao público em 1948, no 1º Salão Automóvel do pós-guerra, em Londres, foi produzido até 1971 sendo o primeiro carro a vender mais de um milhão de unidades (1.620.000), constituindo assim um marco na história do automóvel britânica.
Imaginado por “Sir” Alec Issigonis (o genial engenheiro de suspensões que mais tarde seria responsável pelo Austin Mini), a ele se devia quase todo o conceito - design e execução. O Jaguar XK 120 era a estrela do Salão, o carro que toda a gente queria, mas o Morris Minor era aquele de que toda a gente precisava, apesar do patrão da Morris, Lord Nuffield, o ter apelidado de “ovo escalfado”.
O MM de 1948 tinha uma construção unitária chassis-carroceria, inovadora na altura. O motor de 918 cc e 28 cv, de válvulas laterais do MM era antiquado, adaptado do Morris 8 de antes da guerra. O motor original foi progressivamente substituído pelos motores de válvulas à cabeça, de 803 cc, a que se seguiu o de 948 cc com 37 cv e finalmente pelo de 1098 cc, com 48 cv. A facilidade de condução e conforto atenuavam a falta de potência. Com suspensões independentes e uma precisa direcção de pinhão e cremalheira, envergonhava os seus rivais contemporâneos e até o (então) jovem Stirlig Moss não resistiu a “dar uma voltinha”, o que o levou a ter a carta de condução apreendida durante um mês.
Já em 1943 tinham sido construídos os protótipos do que viria a ser o Morris Minor , com o nome de código “Mosquito”, mas a ideia foi abandonada por outras companhias reclamarem os direitos do nome.
Quando nos anos 60 o sucesso do Minor começou a decrescer, outro Mini, também com design de Issigonis, começava a brilhar. O Mini terá ultrapassado um pouco a produção do Minor, mas o Minor será sempre lembrado como o primeiro “carro do povo”.

terça-feira, março 11, 2008

Sobre a RUA

S
A RUA, aquela coisa a que andam para aí a gastar o nome, como se de uma coisa desprezível e vexatória se tratasse, é um eufemismo, e para quem não sabe o que é um eufemismo, diz o dicionário que “é uma figura de estilo”, e como todas as figuras de estilo, está destinada a exprimir sentimentos amargos, por meio de palavras doces, ou vice versa.
A RUA, no sentido de manifestação de descontentamento (pois de agrado é coisa rara, excepto as tais manifestações situacionistas de desagravo) é o local onde quem está desprotegido, é perseguido ou reclama justiça, tenta fazer ouvir a sua voz. Era assim na Grécia, berço da democracia, foi assim na Roma republicana e imperial, e por aí fora, até aos nossos dias, quando as “minorias” não têm quem acautele os seus interesses, junto dos círculos próximos e dos centros de poder.
Em última análise, a RUA também é poder, pois é lá que começa a indignação, crescem os protestos, e se pode chegar à insurreição. E talvez seja por isso que o governo manda a polícia aos sindicatos e às escolas para saber quem e quantos vão ocupar a RUA, não para assegurar, como apregoam, a segurança das pessoas, mas sim para tomar o pulso da mobilização, e para lançar, sob a capa de boas intenções, o germe do receio, do medo e da insegurança.
Se é verdade que, como afirmou Victor Dias, no seu blogue O TEMPO DAS CEREJAS, que “…em Lisboa, a rua confirmou-se como um nobre, exaltante, comovente e poderoso espaço de democracia e de vontade de mudança.”, também é verdade que, tal como disse José Pacheco Pereira, no seu blogue ABRUPTO, “Em democracia, quando se vai para a "rua", local nobre e legítimo do protesto, tem que se saber que não se pode continuar nela sob pena de então as coisas estarem muito mal para a democracia.”, e na mesma ordem de ideias, no jornal PÚBLICO, Miguel Gaspar concluiu que “…Os professores legitimaram a sua posição de forma inequívoca. A opinião pública percebeu que eles não podem continuar a ser tratados como até aqui. Mas há um perigo. A vitória foi demasiado esmagadora. Por isso pode embriagar e corre o risco de se diluir noutros protestos. Gerir a vitória é sempre mais complicado do que ganhar…”.
Entretanto, o autismo e a inflexibilidade do governo, reflexo do “autoritarismo esclarecido” do primeiro-ministro Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, continuam a imperar. Mal vai a democracia quando uma ministra, perante um protesto na RUA de 100.000 professores, os quais correspondem a dois terços dessa classe profissional, afirma com sobranceria e desdém que tal acontecimento e o seu número de participantes é irrelevante, e ainda pior vai essa democracia, quando a mesma ministra, perante as decisões dos tribunais, instrumentos que asseguram a legalidade democrática, sobre a polémica da repetição dos exames de física e química do 12º. ano, continua a ignorar e a actuar à revelia do que determinaram as sentenças.
A manter-se este braço de ferro, ignorando o parecer sensato e prudente de António Victorino, pode muito bem acontecer que estes 100.000 potenciais votos, tantos quantos os professores que se manifestaram em Lisboa, em protesto contra as políticas para a educação, venham a fazer muita falta ao PS, no próximo acto eleitoral.

segunda-feira, março 10, 2008

Um Paraíso no Coração de Lisboa

A
Parque Gulbenkian. Lisboa.
A
O Parque Gulbenkian, antigo Parque de Santa Gertrudes, foi adquirido pela Fundação aos Condes de Vilalva, em 1957, tendo hoje uma área aproximada de 7,5 hectares.Foi neste espaço que a Fundação construiu o conjunto de edifícios que constituem a Sede e o Museu, e, mais tarde, o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão.
A
A concepção do Parque, jardins interiores e terraços ajardinados foi confiada aos arquitectos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto, que trabalharam em estreita colaboração com os arquitectos do complexo de edifícios da Fundação, Alberto Pessoa, Pedro Cid e Ruy Athouguia.O seu desenho tornou necessárias modificações importantes do relevo original, uma vez que o projecto incluiu a criação de um lago, de um anfiteatro e a instalação de lajes no solo, para permitir uma circulação mais fácil.

O jardim foi desenhado com uma escolha criteriosa de árvores, arbustos e flores. Em 2002 iniciou-se a sua renovação, com introdução de novos percursos, mais espelhos de água e novas espécies, segundo um projecto conduzido pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.O Parque Gulbenkian constitui um pequeno oásis numa cidade cada vez mais carenciada de espaços verdes que convidem a um passeio tranquilo em contacto com a natureza.
A
O Anfiteatro ao ar livre, situado nos jardins do Parque, com capacidade para cerca de mil pessoas, é um belíssimo palco que tem como pano de fundo a paisagem envolvente do lago. Durante o dia é um lugar privilegiado de repouso, leitura ou contemplação, para os muitos visitantes que aí se instalam.Naturalmente mais utilizado no Verão, o Anfiteatro é palco de espectáculos de dança, teatro e música.
Informação do site da Fundação Gulbenkian.
A
Estive lá no dia 5 de Março, com um vento agreste e desagradável, apesar de brilhar um sol radioso, que por estar muito baixo em relação ao horizonte (próprio da época do ano), não é o mais aconselhável para fotografar ao ar livre. De qualquer modo aquele espaço é único, asseado e muito bem cuidado. Se não somos capazes de imaginar imagens do éden, não é preciso ir mais longe. Ali, no coração desta Lisboa fascinante, em plena Avenida de Berna, apesar da pacífica vizinhança com os imóveis circundantes, e a convivência com os perfis de gruas e guindastes, próprios de uma urbe em mutação, existem muitos recantos que são autênticas imagens do paraíso terrestre.
Depois da Fundação Calouste Gulbenkian ter dado tanto a este país, não é demais que aqui deixemos o nosso singelo tributo, nestas poucas imagens.

sábado, março 08, 2008

Crime, Disse Ele!

C
A par da bizarra situação de ver um Partido Socialista, em resposta à manifestação de indignação de 100.000 professores, contra-manifestar-se no espaço acolhedor de um pavilhão da cidade do Porto, temos agora o ministro Augusto Santos Silva, que além de ter uma visão canhestra da história e conviver mal com o protesto, a dar a triste imagem de um político que perdeu o controle, respondendo a protestos e vaias, com o insulto nervoso e directo aos manifestantes, brandindo uma suposta ignorância entre salazarismo e democracia, e exibindo o PS como o único e grande salvador e construtor da democracia em Portugal. Se a ignorância é muito atrevida, no entanto, ainda por cima e pior ainda, foi este senhor ter chegado ao ponto de não respeitar a dignidade dos mortos, quando nas suas diatribes, pronunciou e envolveu o nome de um patriota e combatente anti-fascista da craveira de um Álvaro Cunhal.
Por outro lado, e isto é apenas uma curiosidade, fica por explicar como é que uma manifestação, talvez espontânea e provavelmente não autorizada, conseguiu perturbar a reunião-encontro dos militantes socialistas com o seu ministro, sem que ocorresse a intervenção de uma qualquer autoridade, sempre tão atentas a estas alterações da “ordem pública”, antes tivesse dado ensejo a uma oportuna reportagem televisiva em que o ministro se exibiu, e ao seu PS, como vítimas de um grupelho de despudorados anti-democratas.
Em qualquer maquiavélico processo de avaliação, similar ao que se quer aplicar aos professores, este ministro iria direitinho, de imediato e sem apelação, para o desemprego.

quarta-feira, março 05, 2008

(Des)Governação à Vista

(
Diz o site do jornal PÚBLICO que “O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, anunciou hoje a abertura de dois concursos durante o mês de Março para a admissão de dois mil (2.000) elementos para as forças de segurança, metade para a GNR e outros tantos para a PSP.Esta é uma das 15 medidas da Estratégia de Segurança para 2008 apresentada hoje pelo ministro da Administração Interna, em Lisboa, numa cerimónia em que participaram representantes de todas as forças de segurança.”
Como é óbvio, fiquei incrédulo, atendendo às intenções que anteriormente haviam sido largamente divulgadas. Então não é que ainda há uns tempos atrás, em Julho de 2006, este (des)Governo tinha anunciado ser seu objectivo libertar perto de 5.000 agentes da PSP e da GNR, que estavam ocupados com tarefas burocráticas, para que eles pudessem ser devolvidos às actividades operacionais, sendo substituídos por pessoal civil, oriundo do quadro de disponíveis de outros sectores da administração pública, os quais passariam a desempenhar as tais funções administrativas, sendo que esta medida visava limitar, substancialmente, as futuras admissões para aquelas duas corporações. Depois disso, em Junho de 2007, o ministro da Administração Interna, durante a apresentação parlamentar das Leis Orgânicas da GNR e PSP e de Programação de Instalações e Equipamentos, entre outras coisas, voltou a dizer o seguinte: “É de realçar que este crescimento ocorrerá de forma sustentada, sem aumento da despesa do Estado e sem agravamento do défice orçamental, o que só é possível através da racionalização promovida pela revisão das leis orgânicas. No período de 5 anos em que se desenvolverá este esforço de modernização, o número de efectivos em missões operacionais irá crescer através da deslocação de agentes e guardas que hoje desenvolvem tarefas burocráticas e administrativas. Por outro lado, serão alienadas, nos termos da Lei do Orçamento, instalações afectas às Forças de Segurança que não são necessárias ao cumprimento das suas missões.”
Agora, assim a frio, o (des)Governo vem dar o dito por não dito. Será que se esqueceram de pôr em prática a tão badalada medida de reconversão dos recursos humanos? Será que eles pensam que todos temos a memória curta? Será que as 2.000 novas admissões na PSP e GNR vão provocar a tão esperada reviravolta na preocupante taxa de desemprego? Uma coisa é quase certa: com esta demonstração de força e audácia os criminosos já não sabem onde se esconder.Tudo isto fede a amadorismo, governação à vista dos acontecimentos e muita propaganda mal alinhavada, que reage a estímulos como o cão de Pavlov. Nem este (des)Governo, nem aquele ministro, apesar do seu semblante sério, angustiado com o surto de criminalidade, e simultaneamente convicto da eficácia da sua medida, ambos tão empenhados na árdua tarefa de garantir a segurança de pessoas e bens e sustentarem a redução do orçamento, são para levar a sério.

segunda-feira, março 03, 2008

Em Gondomar, Capital dos Electrodomésticos

E
A ministra que persiste em andar mal informada, isto para não dizer que é mentirosa (veja-se o que se passou com o caso da avaliação-pidesca elaborada por um qualquer conselho pedagógico de uma escola de Leiria, que quer ser mais papista que o papa), foi convidada a assistir, em Gondomar, ao XXXIII Encontro Nacional de Pais, os quais vêem naquela senhora, a exímia e determinada líder deste combate que volta a atravessar o sistema educativo público, onde os “maus da fita” são os incompetentes e intocáveis professores, classificados como uma casta de preguiçosos, cheios de vícios e privilégios.
A ministra fez um balanço da sua (des)governação, ouviu elogios de todos os quadrantes presentes, mas também, e sobretudo, do sempre exuberante Valentim Loureiro, também conhecido por “batatas”, que fez as honras da casa e, como é hábito por aquelas bandas oferecer “prendinhas”, a ministra, embora não sendo árbitro, também teve direito a uma, como prémio pela sua persistência e determinação. O mesmo senhor Valentim, fez mesmo questão de dar um toque de humor à sessão, invocando, jocosamente e de forma tonitruante, os subornos e tropelias que enformam o processo do “apito dourado”.
Por aqui se vê, ao que este governo e a sua ministra da (des)educação têm que recorrer, para simular alguma credibilidade, ao mesmo tempo que o Presidente Cavaco Silva apelava à contenção, e por todo o país, havia manifestações de professores exigindo a demissão da tal senhora.
Ainda a propósito da tal avaliação-pidesca atrás referida, elaborada por um certo conselho pedagógico de uma escola de Leiria, estou certo de que os que produziram tal peça, são da mesma raça, embora escudados num falso amparo democrático, daqueles que há 40 ou 50 anos atrás se perfilavam, entre muitos outros milhares, como fiéis servidores, informadores e denunciadores da extinta polícia política PIDE/DGS. Ah, é verdade: segundo informação da senhora ministra, as tais perguntas polémicas, inseridas na tal avaliação-pidesca, valiam ZERO, logo não contavam para a avaliação propriamente dita. Então contavam para quê?

sábado, março 01, 2008

Em Portugal Há 112 Anos

A
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta
(...)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira e da falsificação, da violência e do roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro
(...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda de uma lotaria
(...)
A justiça ao arbítrio da política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
(...)
Dois partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar»

Guerra Junqueiro
in Pátria (1896)