Em política nada acontece por acaso.
E
ONTEM foi assim:
Lembram-se do aproveitamento político que se seguiu ao incêndio do Reichstag, ocorrido em 28 de Fevereiro de 1933 (que teria sido ateado por um militante comunista), e que serviu para Adolfo Hitler justificar a perseguição e eliminação dos seus adversários políticos, conseguir os 2/3 necessários para adoptar a Lei dos Plenos Poderes, suspender os direitos, liberdades e garantias da constituição da República de Weimar, e consolidar a instauração do estado policial, pondo um ponto final na democracia alemã, começando a governar por decreto e dando início aos anos de chumbo que varreram todo o planeta?
H
HOJE é mais ou menos assim:
Entre 8 e 11 de Junho de 2006, esteve reunido em Otawa, Canada, no seu habitual “retiro espiritual anual”, o grupo de Bilderberg, um “think-tank” conhecido por influenciar com as suas ideias, os políticos e a política mundial. Acrescente-se que estas reuniões são à porta fechada (o que é que eles dirão entre si que nós não podemos saber?), e nada transpira para o exterior sobre os temas e assuntos abordados. Dias depois desta reunião, coincidência ou não, teve início a guerra Israel-Líbano/Hezbollah, a pretexto do rapto de dois soldados israelitas, rapto esse que teria ocorrido em pleno território libanês, e não em território israelita, como tem andado a ser noticiado.
E
Em 28 de Julho de 2006, ocorre o último encontro entre Tony Blair e G.W.Bush, em que a agenda voltou a ser a estafadíssima “guerra contra o terrorismo”, mais a recente confrontação de Israel contra o Líbano/Hezbollah. Na minha modesta opinião acho que estas duas almas-gémeas trocaram outros pontos de vista, sobre assuntos sensíveis, e que talvez não andasse longe da necessidade urgente de pôr o ambiente sob tensão, despejando sobre a opinião pública, o espectro de outro eminente 11 de Setembro.
N
No dia 9 de Agosto, durante uma conferência em Londres, do “think-tank” Demos, outra influente organização das elites, o ministro do interior do Reino Unido, John Reid, a propósito da sempre omnipresente guerra contra o terrorismo, advertiu que “o país está a enfrentar a maior ameaça desde a Segunda Guerra Mundial”, numa ostensiva preparação da opinião pública, para a eventual ocorrência de um proto-caos, a ser desencadeado pelos agentes do terrorismo global. Na opinião deste ministro, a ameaça pode ser combatida com a colaboração (leia-se consentimento) de todos os cidadãos, para uma mudança (isto é, redução), a curto prazo, do leque de liberdades individuais, uma espécie de Patriot Act em versão inglesa. Convém lembrar que o presidente G.W.Bush, após o 11 de Setembro, explorou até ao vómito os “alertas laranjas”, sempre que a sua popularidade baixava, ou sempre que lhe convinha desviar as atenções de alguma coisa que corria mal na sua (des)governação.
L
Logo no dia a seguir, a 10 de Agosto, pelas 2 horas da madrugada, o Reino Unido decreta um alerta máximo, quase um “estado-de-sítio” nacional, impondo medidas draconianas nos seus aeroportos, que acabam por ter reflexos a nível mundial, a pretexto de uns eventuais atentados terroristas que estariam na eminência de acontecer, e que tinham por objectivo fazer explodir aviões que fizessem a ligação entre o Reino Unido e os E.U.A.. A acção foi classificada como configurando um “assassínio em massa a uma escala indescritível e inimaginável”. Foi dito que o grupo entretanto detido “parecia ser” de origem paquistanesa, sendo que alguns deles passaram a andar a monte. Então as forças policiais andavam a monitorizar os “meninos maus” e à última hora perdem o contacto com eles? No entanto, para compor o clima de tensão, algumas horas depois já se dizia que “talvez” a Al-Kaeda estivesse implicada na preparação dos atentados. Como é óbvio, toda a gente ficou a tremer como varas verdes, fazendo grassar o medo e instalando generalizados sentimentos islamofóbicos, ao passo que Blair continuava alegremente de férias.
Entretanto, poucos ou nenhuns pormenores são adiantados, escudando-se as autoridades na “compreensível” confidencialidade e delicadeza das investigações em curso. Sabe-se, porém, que dos suspeitos detidos nenhum deles alguma vez preparou bombas, nenhum comprou ou reservou passagens de avião, e muitos deles nem sequer possuíam passaporte, o que torna impraticável classificar tais indivíduos como potenciais candidatos a piratas do ar. No entanto, fiquei sensibilizado com a apresentação de uma animação computorizada, onde é exemplificado, ao pormenor, como os terroristas – três ou quatro em cada avião - iriam actuar. Cada um, à vez, iam até aos lavabos para manipularem uma mixórdia de produtos químicos, que acabaria por originar um potente explosivo que seria metido dentro de um telemóvel, o qual seria depois accionado, para provocar a explosão e o despenhamento do avião. Todo este vai e vem, seria efectuado, descontraidamente, nas barbas dos passageiros e do pessoal de cabine, como se os protagonistas estivessem a brincar aos droguistas.
As centrais de (de)sinformação, lançam, de tempos a tempos, as suas operações virtuais de propaganda securitária, em que anunciam, com pompa e circunstância, o desmantelamento de células terroristas. Tal como aconteceu das outras vezes (lembram-se do assassinato do pacífico emigrante brasileiro Jean Charles de Menezes, confundido com um implacável bombista, e dos famigerados terroristas do óleo de rícino?), dentro de dias, o assunto será varrido das páginas dos jornais e do alinhamento dos telejornais, na medida em que está cumprida a função de manter junto da opinião pública, os competentes níveis de sobressalto. Para que tudo isto possa ganhar alguma credibilidade, evitando a multiplicação das teorias da conspiração (como esta que aqui se esboça), era aconselhável que fossem divulgadas as provas materiais destas terríveis conspirações.
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Para já, este acontecimento veio mesmo a propósito, quando Tony Blair carece urgentemente de restaurar o seu abalado prestígio. Como não podia deixar de ser, G.W.Bush aproveitou a boleia e correu a decretar mais um alerta laranja, seguido de duas ou três ocorrências em aviões comerciais, amplamente divulgadas, mesmo antes de existirem certezas de que eram genuínos casos de terrorismo. A perturbação provocada por estes acontecimentos vem também dar imenso jeito, no momento em que é preciso desviar as atenções do clima de pré-guerra civil no Iraque, da escalada militar e dos massacres que entretanto vão ocorrendo no Líbano, Gaza e Cisjordânia, envolvendo os protagonistas do costume. Por cá, basta folhear o Nº. 702 da VISÃO para verificar que, inexplicável e inacreditavelmente, a revista passou ao lado da guerra entre Israel-Líbano/Hezbollah, como se ela não existisse, ao passo que os supostos atentados terroristas que estariam a ser congeminados no Reino Unido, tiveram direito a amplo e desenvolvido artigo.
I
Inventona ou perigo real, há coisas fantásticas, não há?